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SUSPENSE
Estilo de Banks é nobre
RODOLFO LUCENA
Editor de Informática
A precisão das
palavras e a elegância do fraseado são
a tônica de "Uma
Canção de Pedra",
romance do britânico Iain Banks, que tem se notabilizado como autor de ficção
inusitada.
O esmero, "noblesse oblige",
não é para menos. A história é
contada por um nobre.
Decadente, bem decadente, mas
consciente de sua aristocracia, da
qual a linguagem é um dos elementos de construção/sustentação.
A tradução consegue manter o
espírito do palavreado e, malgrado estar em português, o leitor
"ouve" a história como se estivesse sendo narrada por Anthony
Hopkins ou Hugh Grant, de nariz
empinado e olhar desdenhoso, no
jardim de um velho castelo inglês.
Mas cenário e trama não são nada bucólicos nem pastoris.
Depois da guerra, que destruiu
o que havia de civilizado no mundo -ou pelo menos na parte do
mundo em que vivem os personagens-, um casal de nobres abandona seu castelo.
Eles são acompanhados por um
séquito de ex-empregados, trabalhadores e pobres da região, para
tentar fugir da violência de saqueadores, já que do saque em si
não dá para fugir.
Quando Abel, Morgan e sua
"entourage" imaginavam que estavam se afastando do perigo, ouvindo ao longe tiros que poderiam estar sendo disparados em
volta do castelo, a ilusão se desfaz.
O grupo encontra uma quadrilha de soldados desgarrados que,
como qualquer outro bando, pretende encontrar adversários, derrotá-los e conseguir o máximo de
comida e conforto que puder obter.
Eles são liderados por uma masculinizada tenente, capaz de dar
um beijo "profundo, demorado,
quase apaixonado" em um soldado moribundo, para depois despachá-lo com um tiro na têmpora, levantar-se e prosseguir normalmente a conversa.
A vontade da tenente muda a
ordem das coisas, e os fugitivos
devem voltar para o castelo de pedra, que servirá de refúgio, quartel-general e fonte de recursos para o grupo.
Abel e Morgan são obrigados
não apenas a ver a herdade da família ser conspurcada como também a colaborar com os planos,
desejos e prazeres da tenente.
Conflitos éticos
Ao lado da aventura, surge a
discussão ética vivida por muitos
-todos?- os derrotados em
época de guerra.
Deve-se resistir ao inimigo a todo custo, sem colaborar jamais?
Ou é melhor fingir subserviência,
encaixar-se para combater "de
dentro"? É possível trégua honrosa entre adversários de forças díspares? Ou honra é o que menos
importa nesses momentos?
Os conflitos que Abel vive, ele
narra somente a um interlocutor,
sua amada Morgan, irmã e amante.
Chega a contar a ela o que ela fez
ou está fazendo -nós, leitores,
somos intrusos, é como se bisbilhotássemos diários privados, secretos.
Vamos acompanhando, assim,
o crescendo das tensões -sexuais, mortais.
Aprofunda-se,também, o pensar-sobre-si do aristocrata, que se
analisa e critica, faz filosofia, discute ética, progresso e religião.
Tudo em meio a sangue, mas já
sem lágrimas. E, sempre, com elegância.
Avaliação:
Livro: Uma Canção de Pedra
Título original: A Song of Stone
Autor: Iain Banks
Tradutora: Claudia Costa Guimarães
Editora: Record
Quanto: R$ 29 (306 págs.)
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