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CYBER
Novo Gibson soa retrô
BIA ABRAMO
especial para a Folha
William Gibson
pode não ser muito
bom em terminar o
que começa -e em
seu novo livro, "All
Tomorrow's Parties", ele quer acabar só com o
mundo tal como o conhecemos-, mas parece estar afinando cada vez mais sua capacidade
de descrever atmosferas estranhamente familiares e de surpreender usando de forma imaginativa passado, presente e futuro.
O terceiro vértice da trilogia iniciada com "Virtual Light" (93) e
continuada em "Idoru" (96, editado no Brasil pela Conrad no ano
passado) não foge à regra. De novo, como em "Idoru", algo muito
grandioso está para acontecer: e o
leitor vai sendo informado e despistado aos poucos, por um jogo
de revelações e elipses que se instala desde a primeira página.
E, quando finalmente acontece,
Gibson parece perder a histamina
do suspense e arruma soluções
um tanto modestas. O livro, entretanto, tem o suficiente daquilo
que Gibson faz de mais divertido:
construir personagens descolados, escarafunchar no underground da tecnologia e arremessar o leitor em direção a um futuro pop e apocalíptico.
Vários personagens de "Idoru"
reaparecem nesta nova história
que se desdobra entre São Francisco (depois de grande terremoto) e Tóquio. Laney, um sujeito
em estado de permanente alucinação cibernética, e Rei Toei, a
Idoru, ou seja, ídolo pop com
existência exclusivamente virtual
e representação holográfica, estão
no centro das movimentações
que envolvem ainda Rydell, segurança de uma rede global de lojas
de conveniência estilo 7 Eleven, e
Chevette, uma espécie de Tank
Girl menos bélica.
De "Virtual Light", Gibson pescou o vilão Cody Harwood, sobre
quem o próprio autor fornece
uma descrição imbatível: "Uma
síntese do século 21 entre Bill Gates e Woody Allen".
Laney pressente (o personagem, submetido a experiências
com drogas no orfanato onde
cresceu, "navega no ciberespaço
sem nenhum plugue, apenas fechando os olhos") que Harwood
está de posse de uma tecnologia
que vai virar o mundo de pernas
para o ar e envia Rydell para impedir a catástrofe.
O segurança, equipado com
óculos de fabricação brasileira e
precária que servem (mal e porcamente) como telefone e acesso ao
que virá a ser a Web no século 21,
e Rei Toei, comicamente presa a
um projetor holográfico do tamanho de uma garrafa térmica -como a protagonista de "Jeannie É
um Gênio", o seriado de TV dos
anos 60-, tentam rastrear o vilão
e descobrir como e quando o plano secreto será colocado em ação.
O plano não se revela exatamente, mas tem a ver com nanotecnologia e transmissão de matéria (átomos mesmo) por fax (?!!?).
Como se pode ver, Gibson também usa de um certo sarcasmo,
fazendo o leitor embarcar alegremente num nonsense tecnológico-futurista.
O que é mais divertido do que
quando ele exerce seu lado sociológico na linha revista "Wired" e
entra em digressões sobre o fim
da história, o estado das coisas e
blablablás típicos da arrogância
autocentrada das "profecias" norte-americanas sobre os cenários
sóciopolíticos.
"All Tomorrow's Parties", em
suma, é mais recomendado para
aficionados de Gibson do que para leitores eventuais desse tipo de
literatura. Que, à beira do século
21, está começando a ficar um
pouco retrô.
Avaliação:
Livro: All Tomorrow's Parties
Autor: William Gibson
Editora: Penguin Putnam
Quanto: US$ 25 (277 págs.)
Onde encontrar: www.amazon.com
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