São Paulo, quarta, 1 de abril de 1998

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TEATRO
"Zona Contaminada', de Caio Fernando Abreu, morto em 96, tem leitura aberta hoje
Peça mostra futuro apocalíptico

da Reportagem Local

Num tempo apocalíptico, depois de uma hecatombe nuclear que só deixou ruínas, ocorre a confluência de todas as desgraças.
Legiões de contaminados vagueiam pelas ruas. A salvação depende de duas irmãs. Elas tentam escapar descontaminadas da perseguição que sofrem de uma espécie de regime totalitário. São as duas únicas mulheres que ainda têm seus úteros em condições de funcionamento, capazes de evitar a extinção da espécie humana.
Elas se ocultam nos escombros de uma casa funerária. Vera, lutadora, se arrisca para obter comida no caos das ruas arrasadas. Carmem, sonhadora e passiva, tenta se acostumar à idéia da morte. Vera agarra-se à vida.
É em torno das razões para a sobrevivência que se desenrola "Zona Contaminada", uma "comédia negra" em um ato, como definiu seu autor, o escritor e dramaturgo Caio Fernando Abreu, morto em consequência da Aids em fevereiro de 1996. O texto terá leitura pública hoje, às 19h30, no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar) com direção de Gilberto Gawronski.
A sonhadora Carmem terá suas falas lidas por Xuxa Lopes. A peça ocorre em várias dimensões. No plano real, Vera (cujas falas serão lidas por Grace Giannoukas) e Carmem enfrentam as trevas. No plano da nostalgia, está Mr. Nostálgio (lido por Elias Andreato), tradicional, romântico e elegante.
No plano da alfa existe o Homem de Calmaritá (Dionísio Neto), musculoso e maltrapilho. Calmaritá e Vera vivem um caso de amor animalesco, abalado pela ânsia da fuga e as perseguições do regime.
Há ainda um quarto espaço, o plano da mídia, em que atua Nostradamus Pereira (Cassio Scapin). Farsante, Pereira é uma versão de mensageiro do fim do mundo, um representante da indústria da comunicação e do entretenimento. Veste-se ao estilo grunge e anima a caçada às duas mulheres.
Para o diretor Gilberto Gawronski, que lerá as direções de cena do autor, o texto tem a linguagem de um show de rock, além de incorporar elementos das histórias em quadrinhos na construção dos personagens, como forma de romper a linguagem tradicional do teatro e rejuvenescer a peça.
Contraditoriamente, a divisão da obra em vários planos presta tributo também ao passado, a "Vestido de Noiva", de Nélson Rodrigues, cuja encenação em 1943 mudou os rumos do teatro brasileiro. Ainda de acordo com Gawronski, Abreu é o autor das incomunicabilidades e dos desfechos indefinidos. Segundo ele, esses impasses não existem em si, mas parecem estar nos textos para realçar uma humanidade mais profunda nos personagens, que teima em se impor.
Os interessados em assistir à leitura de "Zona Contaminada" devem fazer reservas entre 14h e 17h, pelo tel. (011) 224-3473.



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