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TEATRO
"Zona Contaminada', de Caio Fernando Abreu, morto em 96, tem leitura aberta hoje
Peça mostra futuro apocalíptico
da Reportagem Local
Num tempo
apocalíptico,
depois de uma
hecatombe nuclear que só deixou ruínas,
ocorre a confluência de todas as desgraças.
Legiões de contaminados vagueiam pelas ruas. A salvação depende de duas irmãs. Elas tentam
escapar descontaminadas da perseguição que sofrem de uma espécie de regime totalitário. São as
duas únicas mulheres que ainda
têm seus úteros em condições de
funcionamento, capazes de evitar
a extinção da espécie humana.
Elas se ocultam nos escombros
de uma casa funerária. Vera, lutadora, se arrisca para obter comida
no caos das ruas arrasadas. Carmem, sonhadora e passiva, tenta
se acostumar à idéia da morte. Vera agarra-se à vida.
É em torno das razões para a sobrevivência que se desenrola "Zona Contaminada", uma "comédia
negra" em um ato, como definiu
seu autor, o escritor e dramaturgo
Caio Fernando Abreu, morto em
consequência da Aids em fevereiro de 1996. O texto terá leitura pública hoje, às 19h30, no auditório
da Folha (al. Barão de Limeira,
425, 9º andar) com direção de Gilberto Gawronski.
A sonhadora Carmem terá suas
falas lidas por Xuxa Lopes. A peça
ocorre em várias dimensões. No
plano real, Vera (cujas falas serão
lidas por Grace Giannoukas) e
Carmem enfrentam as trevas. No
plano da nostalgia, está Mr. Nostálgio (lido por Elias Andreato),
tradicional, romântico e elegante.
No plano da alfa existe o Homem
de Calmaritá (Dionísio Neto),
musculoso e maltrapilho. Calmaritá e Vera vivem um caso de amor
animalesco, abalado pela ânsia da
fuga e as perseguições do regime.
Há ainda um quarto espaço, o
plano da mídia, em que atua Nostradamus Pereira (Cassio Scapin).
Farsante, Pereira é uma versão de
mensageiro do fim do mundo, um
representante da indústria da comunicação e do entretenimento.
Veste-se ao estilo grunge e anima a
caçada às duas mulheres.
Para o diretor Gilberto Gawronski, que lerá as direções de
cena do autor, o texto tem a linguagem de um show de rock, além
de incorporar elementos das histórias em quadrinhos na construção dos personagens, como forma
de romper a linguagem tradicional
do teatro e rejuvenescer a peça.
Contraditoriamente, a divisão
da obra em vários planos presta
tributo também ao passado, a
"Vestido de Noiva", de Nélson
Rodrigues, cuja encenação em
1943 mudou os rumos do teatro
brasileiro. Ainda de acordo com
Gawronski, Abreu é o autor das
incomunicabilidades e dos desfechos indefinidos. Segundo ele, esses impasses não existem em si,
mas parecem estar nos textos para
realçar uma humanidade mais
profunda nos personagens, que
teima em se impor.
Os interessados em assistir à leitura de "Zona Contaminada" devem fazer reservas entre 14h e 17h,
pelo tel. (011) 224-3473.
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