São Paulo, Quinta-feira, 01 de Abril de 1999
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Casal faz a maior doação da história da arte brasileira

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Óleo sobre tela de Auguste Muller, que está no acervo doado, mostra o Rio a partir da Ilha das Cobras


CRISTINA GRILLO
da Sucursal do Rio

Um acervo com valor estimado em torno de R$ 15 milhões será doado ao Museu Imperial de Petrópolis (a 65 km do Rio de Janeiro). A doação, que será feita pelo empresário Paulo Geyer, 77, e sua mulher, Maria Cecília, donos do grupo Unipar, é a maior já recebida no Brasil por um museu.
O acordo de doação do acervo será assinado na próxima semana pelo ministro da Cultura, Francisco Weffort, e pelo casal Geyer.
O acervo é considerado a mais completa brasiliana (coleção de livros, estudos, pinturas e trabalhos sobre o Brasil) existente. Os Geyer também doarão ao museu a casa onde moram, no bairro do Cosme Velho (zona sul do Rio), para que as obras fiquem ali expostas.
Além de óleos e gravuras de artistas como Rugendas, Debret, Taunay e Victor Meirelles, também faz parte da coleção uma biblioteca com, aproximadamente, 3.500 livros raros referentes à história do Brasil.
"Essa é a mais completa coleção relacionada ao Brasil existente em mãos privadas no país. A biblioteca só perde em importância para a de José Mindlin (empresário paulista), mas, como o acervo é composto também por obras de arte e mobiliário, acaba sendo ainda maior", afirma a diretora do Museu Imperial, Maria de Lourdes Parreiras Horta.
Serão doados também todo o mobiliário, prataria, louças e objetos de arte que estão na casa, uma antiga sede de fazenda construída no final do século 18.
Geyer iniciou sua coleção ao comprar a casa, no início dos anos 70, do empresário e colecionador Alberto Lee. Na época, a compra foi feita "de porteiras fechadas" -ou seja, Geyer adquiriu não só o imóvel como tudo o que havia em seu interior.
A partir daí, o empresário decidiu ampliar a coleção, comprando novas obras em leilões. Todo o acervo está catalogado: os Geyer têm listagens indicando onde, quando e por quanto cada item foi comprado.
O acervo, que cobre um extenso período da história brasileira -entre os séculos 16 e 19-, é objeto de cobiça no mercado de artes.
Um marchand, entrevistado pela Folha, disse que, caso o acervo fosse "retalhado" e vendido em leilão, o valor obtido seria superior ao estimado para a coleção completa.
A Folha apurou que os herdeiros do casal Geyer têm sido procurados por marchands interessados em leiloar a coleção.
Com receio de que seus filhos aceitassem as ofertas, Paulo e Maria Cecília Geyer decidiram fazer a doação ao Museu Imperial ainda em vida, pois não querem que a coleção seja desmembrada.
As negociações para a doação já se estendem há mais de um ano. Por envolver, além do acervo, a doação de um bem imóvel -a casa-, os advogados do casal Geyer e do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) fizeram várias rodadas de conversas para acertar os detalhes do termo de doação.
O termo que será assinado pelo ministro Weffort no dia 8 de abril prevê que Paulo e Maria Cecília Geyer continuem com o usufruto da propriedade e da coleção-ou seja, a casa e os bens serão entregues ao museu apenas quando o casal decidir.
Por causa das divergências familiares em torno da doação, os Geyer preferem não falar sobre o caso. A Folha apurou com um amigo da família que os quatro filhos do casal são contrários à decisão.


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