São Paulo, sábado, 01 de maio de 2010

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LIVROS

história corrida

Sai no Brasil biografia de Emil Zatopek, maior fundista que já existiu; japonês Murakami associa corrida e escrita

MARCOS FLAMÍNIO PERES
DA REPORTAGEM LOCAL

O público no estádio vibra como nunca ao ver o atleta de língua pra fora, rosto deformado pelo esforço, ombros desconjuntados e passadas deselegantes ganhar mais uma corrida em Helsinque. Já então um fenômeno, o tchecoslovaco Emil Zatopek se consagraria naquela Olimpíada de 1952 como a Locomotiva Humana, ao ganhar ouro nos 5.000, 10 mil metros e na maratona.
Mas, mito vivo do esporte e herói nacional, ele seria instrumentalizado pela propaganda comunista, até cair em desgraça ao defender a Primavera de Praga (1968) e criticar a invasão de seu país pelos soviéticos.
A trajetória de Zatopek e a de sua época é o tema da biografia ficcional "Correr", do romancista francês Jean Echenoz.
Humilde, franco, simpático, o fundista atraía entusiastas por onde passava, lembra o biógrafo -até no Brasil, onde desembarcou no final de 1953 para percorrer as ruas de São Paulo durante a São Silvestre.
Porém, humilhado e punido pelo regime por suas declarações, foi obrigado a trabalhar em minas de urânio no interior do país. Mais tarde virou jardineiro, até voltar às ruas da capital -dessa vez como lixeiro.
Mas a estratégia não deu certo: "Os moradores saíam à calçada para aplaudi-lo, jogando o seu lixo para dentro do caminhão", descreve Echenoz. Correr sempre representou para ele "um modo de se evadir" da opressão, conclui.
Já "Do que Eu Falo Quando Eu Falo de Corrida", relato memorialístico do japonês Haruki Murakami e que deve sair no Brasil em outubro, também trata a corrida como refúgio.
Ele próprio um corredor de longas distâncias, Murakami defende que o esforço e a abnegação exigidas por esse esporte dão um bom parâmetro do que é o trabalho do escritor: muito suor e muita tinta.


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