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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br
Os reis da praia
Beachwear é destaque no Fashion Rio, que começa na segunda; conheça os três principais criadores cariocas de biquínis e maiôs
Você está tiritando de frio
nas regiões Sul e Sudeste, mas
as grifes do Fashion Rio já começaram a tirar as roupas das
modelos para experimentar os
biquínis e maiôs do próximo
verão. Como sempre, a moda
praia é o destaque da temporada de verão do evento, que começa na próxima segunda-feira
e vai até a sexta-feira.
Um biquíni costuma ter de
20 cm a 30 cm de tecido, mas
foi nesse miniterritório de criação que o Brasil firmou um posto avançado na moda internacional. "Além de sermos líderes
no setor, ele é o único com o
qual de fato exercemos influência mundial", diz Eloysa Simão,
diretora do Fashion Rio.
A Folha foi ao Rio de Janeiro
para conversar com os três
principais criadores de moda
praia na cidade: Lenny Niemeyer (da grife Lenny), David
Azulay (da Blue Man), e Jaqueline Di Biase (da Salinas).
Para os três, é na moda praia
que a brasileira melhor exibe a
sua exuberância fashion. "É
onde ela se sente mais livre e
mais criativa", diz Jaqueline.
Eles também concordam que o
Rio continua sendo o centro
nervoso do estilo do beachwear
brasileiro. "A carioca tem a naturalidade que todos desejam",
afirma Lenny. Apesar disso, é
em São Paulo que as três grifes
mais vendem suas criações.
Lenny enfrenta os clichês da moda
Os biquínis e maiôs de Lenny
Niemeyer costumam ser tão
sofisticados que o meio da moda brasileiro, muito apegado a
clichês, adora dizer que ela faz
peças para serem usadas em iates -entre goles de champagne
e poses de publicidade.
"Acho isso péssimo", diz
Lenny. "Parece que faço maiô
para peruas. Eu não crio para
peruas, mas para uma mulher
chique e atemporal".
Desmontar os clichês da moda é com ela mesma. Quando
começou a fazer biquínis, nos
anos 70, lutou bravamente contra os as estampas que coloriam
as roupas. "Era tudo temático,
com âncoras, peixinhos...".
Graças à sua formação de desenhista industrial, resolveu
explorar novos motivos, estilos,
proporções: introduziu um
pouco de cultura na moda praia
e, com outros pioneiros, foi tirando o beachwear do submundo fashion no país.
Na coleção que vai desfilar
no Fashion Rio, por exemplo,
Lenny buscou as inspirações
de que precisava no paisagista
Burle Marx e na artista plástica
Adriana Varejão, sua amiga.
Parte das peças virão com incrustações de azulejos quebrados, que ela mandou afinar, polir e colar nos maiôs, construindo mosaicos monocromáticos impressionantes. "Tinha
que ser o azulejo mesmo, como
formas concretas que dançam
na roupa. Era um tal de quebrar azulejo que acharam que
eu estava ficando louca", diz.
Mestre dos maiôs, Lenny
aposta que eles serão o quente
do próximo verão. "Antes, o
maiô era relegado à mulher que
não podia usar biquíni. Hoje, é
para a que tem mais atitude."
Curiosamente, a estilista
mais ousada e mais chique da
moda praia carioca não nasceu
no Rio, mas em Santos (SP),
onde passou os seus primeiros
14 anos freqüentando o Clube
Inglês e jogando tênis.
Quando se mudou para São
Paulo, foi parar na Des Oiseaux, escola da elite paulista.
Depois, estudou desenho industrial na Faap. "Não ia ao Rio
nem para passar finais de semana", ela conta. Foi o casamento que a levou para o Rio,
nos anos 70 -e em 1992 abriu
sua primeira loja, em Ipanema.
Hoje, a grife Lenny exporta
para a Europa e os EUA e tem
16 lojas -seis no Rio e quatro
em SP. A próxima será inaugurada no segundo semestre nos
Jardins, na rua Sarandi. A grife
está também deslanchando a
sua nova linha de roupas. "Como todas as marcas de roupas
começaram a fazer moda praia,
eu decidi fazer o contrário."
Em tempo: assim como não
faz roupas para se usar em iates, Lenny não gosta muito de
barcos. "Prefiro ficar na areia,
com minhas coisinhas. O lado
bacana da praia é ser um espaço democrático, onde se convive de igual para igual", diz.
Estilo da Blue Man traduz o "veneno" das cariocas
No início da década de 70,
época em que as garotas modernas do Rio de Janeiro ainda
improvisavam na praia, com
calcinhas de lingerie e tops de
chita, o carioquíssimo paraense
David Azulay, dono da grife
Blue Man, preparava, sem saber, uma revolução nas areias.
Tendo em mãos um biquíni-protótipo feito em jeans, David
fez suas primeiras vendas batendo de porta em dezenas de
butiques cariocas.
Em um dia, conseguiu pedidos para quase 2.000 peças. Porém, depois de produzir parte
das encomendas, David percebeu que o modelo da calcinha
era pequeno demais e não caberia nem mesmo numa adolescente mignon. "Depois de ficar com aquela porcaria encalhada embaixo da cama por meses, um amigo me deu uma
idéia: cortamos a lateral e
emendamos com lacinhos. Viramos a Levi's da praia", conta.
Repleto de histórias como esta versão da criação do biquíni
de lacinho, hit eterno das praias
brasileiras, David é um tipo incomum no circuito fashion:
desbocado, não se preocupa
com tendências internacionais,
não quer ser chique e gosta
mesmo é de observar as beldades cariocas desfilando os looks
ultra-sensuais assinados pela
Blue Man. "Virei estilista por
acaso, na onda do meu irmão
[Simão Azulay, criador da Yes
Brazil e da San Sebastián]. Não
estou nem aí para as viadagens
da moda", dispara.
Mesmo sem ter ambições de
se tornar um designer de carteirinha, o fato é que David e a
Blue Man ajudaram a escrever
a história do biquíni brasileiro.
Além da versão em jeans, ele
criou algumas das maiores febres de praia dos anos 80: o modelo estampado com a bandeira
americana e uma tanguinha
com uma labareda estrategicamente posicionada.
"Estouramos de vender, porque ninguém fazia biquíni com
estampa bacana e caimento. As
mulheres mais gostosas da época, como a Rose Di Primo, usavam nossas coisas", diz.
Atualmente, David vende
600 mil peças por ano e é fornecedor preferencial das poderosas figurinistas da Globo - que
estão entre os principais influenciadores do gosto da brasileira. Além disso, se orgulha
de fabricar o biquíni mais ligado ao estilo sexy e desencanado
da carioca média.
David atribui boa parte do
sucesso da Blue Man ao olhar
esperto de Marta Reis, estilista
com quem divide a direção de
criação da grife há 12 anos e
que, segundo ele, "entende o
veneno da lata" que está no desejo de suas consumidoras. "A
areia é nosso laboratório e nossa vitrine", afirma Marta.
Para a nova coleção, inspirada numa visão pop da arquitetura de Brasília, a dupla está investindo pesado na volta do
maiô, especialmente nos modelos recortados, e numa cartela de cores mais sóbria.
Salinas cai no gosto das americanas
A vontade de se destacar entre as gatinhas do circuito Arpoador-Pier-Leblon, nos anos
70, levou a estilista Jaqueline
Di Biase a dar seus primeiros
passos na moda praia. "Resolvi
desmontar as peças e copiar a
modelagem", conta a designer,
criadora da Salinas.
Muitos cortes e costuras depois, em 1982, Jaqueline e seu
marido, então namorado, Antônio Di Biase, resolveram
transformar a brincadeira em
negócio. Logo começaram a
produzir peças para algumas
lojas hype da época, como a
Cantão. Em 1989, abriram a
primeira loja própria.
O diferencial da grife, desde
os primeiros anos, é o gosto pelos detalhes e pelo mix de estampas. A nova coleção, inspirada na visão do cartunista J.
Carlos (1884-1950) sobre o
Carnaval de rua do Rio, não será diferente: mistura de padrões, lacinhos e frufrus.
Essa dedicação aos adornos
de biquínis e maiôs abriu caminho para a Salinas nos EUA e na
Europa, que atualmente compram 30% das 500 mil peças
produzidas por ano pela marca.
Os americanos são os maiores
compradores, entre eles, a poderosa Victoria's Secret.
LINE-UP FASHION RIO
DOMINGO, DIA 3
18h30 Lilica Ripilica
SEGUNDA, DIA 4
10h Redley
12h Sta. Ephigênia
16h Virzi
17h Mara Mac
18h Layana Thomaz
19h Salinas
20h30 Tessuti
21h30 Cavendish
TERÇA, DIA 5
15h Novos designers - Têca
16h Juliana Jabour
18h Graça Ottoni
19h Maria Bonita Extra
20h30 Victor Dzenk
21h30 Colcci
QUARTA, DIA 6
11h Sommer
15h Novos designers -
Caroline Rossato,
Luciana Galeão e
Kylza Ribas
16h Chiaro
17h Cantão
18h Eliza Conde
19h Márcia Ganem
20h Lenny
21h30 TNG
QUINTA, DIA 7
10h30 Walter Rodrigues
14h30 Rio Moda Hype
16h Reserva
17h Animale
18h DTA
19h Luiza Bonadiman
20h Sandpiper
21h30 Blue Man
SEXTA, DIA 8
14h30 Rio Moda Hype
16h Melk Z-da
17h Totem
18h Complexo B
19h Elisa Chanan
20h Alessa
com VIVIAN WHITEMAN
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