São Paulo, sexta-feira, 01 de junho de 2007

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br

Os reis da praia

Beachwear é destaque no Fashion Rio, que começa na segunda; conheça os três principais criadores cariocas de biquínis e maiôs

Você está tiritando de frio nas regiões Sul e Sudeste, mas as grifes do Fashion Rio já começaram a tirar as roupas das modelos para experimentar os biquínis e maiôs do próximo verão. Como sempre, a moda praia é o destaque da temporada de verão do evento, que começa na próxima segunda-feira e vai até a sexta-feira.
Um biquíni costuma ter de 20 cm a 30 cm de tecido, mas foi nesse miniterritório de criação que o Brasil firmou um posto avançado na moda internacional. "Além de sermos líderes no setor, ele é o único com o qual de fato exercemos influência mundial", diz Eloysa Simão, diretora do Fashion Rio.
A Folha foi ao Rio de Janeiro para conversar com os três principais criadores de moda praia na cidade: Lenny Niemeyer (da grife Lenny), David Azulay (da Blue Man), e Jaqueline Di Biase (da Salinas).
Para os três, é na moda praia que a brasileira melhor exibe a sua exuberância fashion. "É onde ela se sente mais livre e mais criativa", diz Jaqueline. Eles também concordam que o Rio continua sendo o centro nervoso do estilo do beachwear brasileiro. "A carioca tem a naturalidade que todos desejam", afirma Lenny. Apesar disso, é em São Paulo que as três grifes mais vendem suas criações.

Lenny enfrenta os clichês da moda

Os biquínis e maiôs de Lenny Niemeyer costumam ser tão sofisticados que o meio da moda brasileiro, muito apegado a clichês, adora dizer que ela faz peças para serem usadas em iates -entre goles de champagne e poses de publicidade.
"Acho isso péssimo", diz Lenny. "Parece que faço maiô para peruas. Eu não crio para peruas, mas para uma mulher chique e atemporal".
Desmontar os clichês da moda é com ela mesma. Quando começou a fazer biquínis, nos anos 70, lutou bravamente contra os as estampas que coloriam as roupas. "Era tudo temático, com âncoras, peixinhos...".
Graças à sua formação de desenhista industrial, resolveu explorar novos motivos, estilos, proporções: introduziu um pouco de cultura na moda praia e, com outros pioneiros, foi tirando o beachwear do submundo fashion no país.
Na coleção que vai desfilar no Fashion Rio, por exemplo, Lenny buscou as inspirações de que precisava no paisagista Burle Marx e na artista plástica Adriana Varejão, sua amiga.
Parte das peças virão com incrustações de azulejos quebrados, que ela mandou afinar, polir e colar nos maiôs, construindo mosaicos monocromáticos impressionantes. "Tinha que ser o azulejo mesmo, como formas concretas que dançam na roupa. Era um tal de quebrar azulejo que acharam que eu estava ficando louca", diz.
Mestre dos maiôs, Lenny aposta que eles serão o quente do próximo verão. "Antes, o maiô era relegado à mulher que não podia usar biquíni. Hoje, é para a que tem mais atitude."
Curiosamente, a estilista mais ousada e mais chique da moda praia carioca não nasceu no Rio, mas em Santos (SP), onde passou os seus primeiros 14 anos freqüentando o Clube Inglês e jogando tênis.
Quando se mudou para São Paulo, foi parar na Des Oiseaux, escola da elite paulista. Depois, estudou desenho industrial na Faap. "Não ia ao Rio nem para passar finais de semana", ela conta. Foi o casamento que a levou para o Rio, nos anos 70 -e em 1992 abriu sua primeira loja, em Ipanema.
Hoje, a grife Lenny exporta para a Europa e os EUA e tem 16 lojas -seis no Rio e quatro em SP. A próxima será inaugurada no segundo semestre nos Jardins, na rua Sarandi. A grife está também deslanchando a sua nova linha de roupas. "Como todas as marcas de roupas começaram a fazer moda praia, eu decidi fazer o contrário."
Em tempo: assim como não faz roupas para se usar em iates, Lenny não gosta muito de barcos. "Prefiro ficar na areia, com minhas coisinhas. O lado bacana da praia é ser um espaço democrático, onde se convive de igual para igual", diz.

Estilo da Blue Man traduz o "veneno" das cariocas

No início da década de 70, época em que as garotas modernas do Rio de Janeiro ainda improvisavam na praia, com calcinhas de lingerie e tops de chita, o carioquíssimo paraense David Azulay, dono da grife Blue Man, preparava, sem saber, uma revolução nas areias.
Tendo em mãos um biquíni-protótipo feito em jeans, David fez suas primeiras vendas batendo de porta em dezenas de butiques cariocas.
Em um dia, conseguiu pedidos para quase 2.000 peças. Porém, depois de produzir parte das encomendas, David percebeu que o modelo da calcinha era pequeno demais e não caberia nem mesmo numa adolescente mignon. "Depois de ficar com aquela porcaria encalhada embaixo da cama por meses, um amigo me deu uma idéia: cortamos a lateral e emendamos com lacinhos. Viramos a Levi's da praia", conta.
Repleto de histórias como esta versão da criação do biquíni de lacinho, hit eterno das praias brasileiras, David é um tipo incomum no circuito fashion: desbocado, não se preocupa com tendências internacionais, não quer ser chique e gosta mesmo é de observar as beldades cariocas desfilando os looks ultra-sensuais assinados pela Blue Man. "Virei estilista por acaso, na onda do meu irmão [Simão Azulay, criador da Yes Brazil e da San Sebastián]. Não estou nem aí para as viadagens da moda", dispara.
Mesmo sem ter ambições de se tornar um designer de carteirinha, o fato é que David e a Blue Man ajudaram a escrever a história do biquíni brasileiro.
Além da versão em jeans, ele criou algumas das maiores febres de praia dos anos 80: o modelo estampado com a bandeira americana e uma tanguinha com uma labareda estrategicamente posicionada.
"Estouramos de vender, porque ninguém fazia biquíni com estampa bacana e caimento. As mulheres mais gostosas da época, como a Rose Di Primo, usavam nossas coisas", diz.
Atualmente, David vende 600 mil peças por ano e é fornecedor preferencial das poderosas figurinistas da Globo - que estão entre os principais influenciadores do gosto da brasileira. Além disso, se orgulha de fabricar o biquíni mais ligado ao estilo sexy e desencanado da carioca média.
David atribui boa parte do sucesso da Blue Man ao olhar esperto de Marta Reis, estilista com quem divide a direção de criação da grife há 12 anos e que, segundo ele, "entende o veneno da lata" que está no desejo de suas consumidoras. "A areia é nosso laboratório e nossa vitrine", afirma Marta.
Para a nova coleção, inspirada numa visão pop da arquitetura de Brasília, a dupla está investindo pesado na volta do maiô, especialmente nos modelos recortados, e numa cartela de cores mais sóbria.

Salinas cai no gosto das americanas

A vontade de se destacar entre as gatinhas do circuito Arpoador-Pier-Leblon, nos anos 70, levou a estilista Jaqueline Di Biase a dar seus primeiros passos na moda praia. "Resolvi desmontar as peças e copiar a modelagem", conta a designer, criadora da Salinas.
Muitos cortes e costuras depois, em 1982, Jaqueline e seu marido, então namorado, Antônio Di Biase, resolveram transformar a brincadeira em negócio. Logo começaram a produzir peças para algumas lojas hype da época, como a Cantão. Em 1989, abriram a primeira loja própria.
O diferencial da grife, desde os primeiros anos, é o gosto pelos detalhes e pelo mix de estampas. A nova coleção, inspirada na visão do cartunista J. Carlos (1884-1950) sobre o Carnaval de rua do Rio, não será diferente: mistura de padrões, lacinhos e frufrus.
Essa dedicação aos adornos de biquínis e maiôs abriu caminho para a Salinas nos EUA e na Europa, que atualmente compram 30% das 500 mil peças produzidas por ano pela marca. Os americanos são os maiores compradores, entre eles, a poderosa Victoria's Secret.

LINE-UP FASHION RIO

DOMINGO, DIA 3
18h30
Lilica Ripilica

SEGUNDA, DIA 4
10h
Redley
12h Sta. Ephigênia
16h Virzi
17h Mara Mac
18h Layana Thomaz
19h Salinas
20h30 Tessuti
21h30 Cavendish

TERÇA, DIA 5
15h
Novos designers - Têca
16h Juliana Jabour
18h Graça Ottoni
19h Maria Bonita Extra
20h30 Victor Dzenk
21h30 Colcci

QUARTA, DIA 6
11h
Sommer
15h Novos designers - Caroline Rossato, Luciana Galeão e Kylza Ribas
16h Chiaro
17h Cantão
18h Eliza Conde
19h Márcia Ganem
20h Lenny
21h30 TNG

QUINTA, DIA 7
10h30
Walter Rodrigues
14h30 Rio Moda Hype
16h Reserva
17h Animale
18h DTA
19h Luiza Bonadiman
20h Sandpiper
21h30 Blue Man

SEXTA, DIA 8
14h30
Rio Moda Hype
16h Melk Z-da
17h Totem
18h Complexo B
19h Elisa Chanan
20h Alessa


com VIVIAN WHITEMAN

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