São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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BIA ABRAMO

"Entrelinhas" fala de livros sem arrogância


O programa é um produto típico daquela "velha" TV Cultura, que investia em qualidade

"ENTRELINHAS", programa sobre livros e literatura da TV Cultura, enfrenta um desafio interessante: como falar de um assunto que é, na verdade, alheio e estranho a boa parte dos telespectadores, sem assumir um tom arrogante?
Os dados sobre os hábitos de leitura no Brasil são desanimadores -o índice de leitura é de 1,8 livro ao ano por habitante (contra, por exemplo, 2,4 por habitante na Colômbia), segundo dados do Retrato de Leitura no Brasil, realizado em 2000 pela Câmara Brasileira do Livro.
Mais recentemente, um perfil dos universitários da Grande São Paulo feito pelo Centro Integrado Escola-Empresa revelou que 18% dos estudantes declara não gostar de ler, enquanto 16% o faz apenas esporadicamente e 66% lê principalmente livros didáticos.
Como e por que fazer um programa de TV exclusivamente dedicado aos livros neste panorama? À primeira pergunta, o "Entrelinhas" responde fazendo boa reportagem cultural. A preocupação em tratar o assunto de forma jornalística, ou seja, procurando a informação, a temperatura, os personagens em evidência, as coberturas de fôlego, confere ritmo e sensação de novidade. Não falta assunto. Apesar de continuar sendo um país de poucos leitores, o Brasil hoje tem uma movimentação intensa na área editorial: feiras, bienais, uma quantidade razoável de lançamentos.
Além disso, ao tratar o livro e a literatura como uma coisa do mundo real, pode aproximar o espectador desse universo mais ou menos desconhecido. Talvez não muitos, mas certamente alguns.
E talvez aí mesmo esteja o porquê desse projeto, à primeira vista quixotesco. O "Entrelinhas" é o tipo de programa que só consegue existir em uma emissora pública, que é onde, por enquanto, pode se contemplar a diversidade de espectadores.
Embora tenha sido gestado e estreado no período em que a TV Cultura tentou ganhar audiência emulando (mal) a TV comercial e abandonando seus projetos mais experimentais e ousados, o programa "Entrelinhas" é um produto típico daquela "velha" TV Cultura, que investia em qualidade, ao mesmo tempo em que procurava o espectador e não subia no salto.

 

Ainda não dá para saber como será a gestão de Paulo Markun, empossado há pouco mais de duas semanas como presidente da Fundação Padre Anchieta, mas ele parece estar mais próximo desse modelo de TV pública do que daquele que vigorou nos últimos anos. biaabramo.tv@uol.com.br


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