DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Amanhã faz seis anos que Fela Anikulapo Kuti morreu. Fela quem? Criador do gênero afrobeat, o compositor e ativista político nigeriano costumava ser visto como o "Bob Marley da música africana" -considerando o fator cannabis e descontando o quesito fama na equação.
Durante quatro décadas na música, passou por várias bandas, gravou mais de 70 discos, casou-se com 27 mulheres (ao mesmo tempo), foi preso três vezes e levado a julgamento em 356 ocasiões.
Perseguido em vida, Fela Kuti ganha agora nova homenagem com o lançamento do DVD "Music Is the Weapon" (Música É a Arma), esclarecedor documentário gravado em 1982 por um canal de TV francês.
Filho de um pianista com uma ativista social pró-democracia, Kuti desde pequeno não teve como separar sua vida pessoal de sua música. Apesar de passagens marcantes por Londres, onde aprendeu a tocar, e Los Angeles, onde teve seu primeiro contato com a história de Malcolm X, o compositor, saxofonista, tecladista e, especialmente, showman sempre acabava voltando para a região empobrecida de Kalakuta, um dos locais mais violentos da capital nigeriana nas décadas de 70 e 80 e ponto escolhido para montar sua casa noturna Shrine.
Misturando depoimentos do próprio Kuti, morto por complicações decorrentes de Aids em 1997, com outros de suas mulheres e cenas jornalísticas dos confrontos entre o Exército nigeriano e os civis, "Music Is the Weapon" serve tanto como um registro das performances do autor de "International Thief Thief", "Gentleman" e "No Agreement", regadas a funk, jazz e umbanda, quanto como um panorama histórico da resistência de parte da população africana à invasão das multinacionais da era Thatcher e Reagan.
"Não queremos diplomatas, não queremos marxismo, não queremos leninismo nem capitalismo. Tudo o que precisamos se resume ao africanismo", declara em um dos trechos do documentário o músico, que, em 1979, fundou seu próprio partido, o Movement of the People (Movimento Popular), para tentar disputar eleições presidenciais.
Comercialmente pouco conhecido nos EUA, Fela Kuti tem também o seu "fã-clube" por lá. Lembrando sua importância para o movimento hip hop e para a luta de afirmação dos negros nos Estados Unidos, o New Museum of Contemporary Art, de Nova York, abriu neste mês uma exposição sobre Kuti reunindo artistas plásticos, escritores, DJs e produtores musicais que criaram obras inspiradas na trajetória do líder negro. Entre eles, seu filho e também músico Femi Kuti. A luta continua...