São Paulo, sábado, 1 de agosto de 1998

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Poesia de Moura explora crueza de cenas urbanas

ALVARO MACHADO
especial para a Folha

Nem só de música, culinária e talento publicitário se alimenta a cultura da baianidade em São Paulo. O livro "Elásticos Chineses", de Diógenes Moura, amplia o repertório do baianismo para a área da poesia.
Mas como poesia não é coentro nem tem a mesma simplicidade de um tempero, as 18 composições reunidas no livro refletem também os caminhos da miscigenação cultural no Brasil.
Ao lado de referências aos orixás afro-baianos, os poemas pontuam luzes e espantos da megalópole. A página que dá título ao volume, por exemplo, é dedicada a Mário de Andrade e trata da paisagem vista a partir do Viaduto do Chá.
Para o autor, "o paulistano não sabe mais reconhecer a beleza de sua cidade e essa tarefa tem ficado para os olhos dos nordestinos e dos sulinos que vêm para cá".
A trajetória de vida do poeta ecoa os intensos movimentos migratórios registrados no país a partir da década de 70, e que de fato modificaram profundamente o perfil de São Paulo. Em 71, Diógenes transferiu-se de Recife, onde nasceu, para Salvador, onde publicou duas obras de ficção. Em 89, radicou-se em São Paulo.
Não somente belezas enxerga o poeta na maior cidade brasileira. Entre 92 e 96, assinou a coluna domingueira "Conjunto Nacional", na "Folha da Tarde", na qual sublinhava, com viés poético, a neurose e a violência da urbe.
Escritas entre 83 e 97, as peças de "Elásticos Chineses" levam o subtítulo "Poemas Físicos", porque ancoram-se sobretudo, segundo o autor, na latência do desejo. Este se revela carnal e muitas vezes homoerótico.
Na carga contra moral e sensibilidade estagnadas, Diógenes cerra fileiras com técnicas de ruptura caras ao surrealismo: "Alugam-se Girafas" e "Chá de Centímetros" apregoam os títulos. Também como os surrealistas, o poeta explora a crueza das imagens e privilegia certo idioma musical que paira, em inúmeros trechos, bem acima do sentido lógico.


Livro: Elásticos Chineses
Autor: Diógenes Moura
Lançamento: Casa de Jorge Amado
Quanto: R$ 15 (72 págs.)



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