|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DISCO/CRÍTICA
Artista cresce quando se diferencia de referências inevitáveis
DA REPORTAGEM LOCAL
"Essa Boneca Tem Manual"
começa com "Ainda Lembro", faixa que a gravadora Sony
vai explorar e que remete inevitavelmente a Marisa Monte. Tem
"nananãs" de rádio, bem tribalistas. É romântica, mas fala de amor
bem-sucedido, numa versão ainda mais otimista de "Não Vá Embora" (2000), de Marisa.
As vozes têm traços em comum
de que provavelmente Vanessa da
Mata nunca se livrará, e nada nisso tem a ver com imitação ou
competição -é sina, se é que isso
existe. A sensação tribalista voltará em "Música" e "Ai, Ai, Ai..."
(nas parcerias com Liminha, quase sempre), que ultrapassam os limites da sina e soam como adequações a fórmulas de sucesso leve e sofisticado, comuns no rádio
desde... Marisa Monte.
São onde Vanessa se iguala a
Marisa, onde a Sony se iguala à
concorrente EMI, onde a indústria fonográfica exibe suas garras
de sonsa padronização.
A sorte (ou talento) é que Vanessa não é isso, não é só isso. Seu
segundo CD cresce sempre que
ela se diferencia, sempre que colore personalidade própria -são
vários exemplos, oba.
A faixa-título é o maior, também porque Vanessa afeta uma
interpretação exagerada, talvez
temerosa de tanta comparação
-tem razão em temer, e o exagero soa justificado, perspicaz, ainda mais somado à esperteza confeitada por auto-estima da letra.
O mesmo ocorre no ijexá "Joãozinho", moldada ao eixo Rio-Bahia pelos jovens Domenico Lancellotti, Rodrigo Amarante, Pedro
Sá, Donatinho, Berna Ceppas. É
algo que Marisa faria, mas não assim, provocando (preconceitos
contra cabelos crespos ou alisados ou contra a Bahia formam
mote que supera clichês).
Um romantismo desencantado,
quase perigoso, é outro elemento
de diferenciação -e modula crítica à superficialidade das relações afetivas, o que faz da densa
"Ela x Ele na Cidade sem Fim" o
momento soberbo do CD.
Ah, as releituras de "Eu Sou Neguinha?" (87), de Caetano Veloso,
e de "História de uma Gata" (77),
do Chico Buarque de "Os Saltimbancos", são pertinentes e divertidas. Mas Vanessa da Mata é mais
legal quando é ela mesma.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Essa Boneca Tem Manual
Artista: Vanessa da Mata
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 30, em média
Texto Anterior: Música: Vanessa da Mata baila entre as fórmulas Próximo Texto: Ruído: Show e CDs festejam 70 anos de Doris Monteiro Índice
|