|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
OPINIÃO
Curtis marcou não apenas pela beleza de galã, mas pela ambiguidade do olhar
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Tony Curtis era diferente
dos grandes atores de sua geração: sua imagem não era
marcante nem pela rebeldia,
nem pela integridade, ou
mesmo pela seriedade que
pautou as carreiras de Montgomery Clift, Paul Newman
ou Marlon Brando.
Nada disso. Tony surge na
virada das décadas de 1940 e
50 como um jovem galã que
faz filmes de sucesso e é malhado pelos críticos.
Contratado pela Universal, estreia num papel secundário, como um gigolô, em
"Baixeza", de Robert Siodmak, mas logo torna-se ator
de destaque em filmes como
o drama "Tormento da Carne", de Joseph Pevney, ou a
comédia "E o Noivo Voltou",
de Douglas Sirk. Já aqui, ele
se faz notar pela ambiguidade de uma expressão doce,
mas um tanto sombria.
É fora da Universal, na
United, que o reconhecimento chega pela primeira vez
para Tony, com "Trapézio",
drama de circo de Carol
Reed, onde se afirmava ao lado de Gina Lollobrigida e à
sombra de Burt Lancaster.
Burt, aliás, seria seu companheiro constante em filmes
como "A Embriaguez do Sucesso" (1957), de Alexander
Mackendrick, e "Spartacus"
(1960), de Stanley Kubrick.
Esse é, aliás, o momento
de virada e consolidação de
sua carreira, o que se consubstanciaria na indicação
para o Oscar de melhor ator
por "Acorrentados" (1958),
drama de Stanley Kramer
que aborda a questão racial.
O final dos anos 1950 também estabelece a fama de
Curtis como comediante, sobretudo por seus trabalhos
com Blake Edwards, com
quem roda em sequência "De
Folga para Amar" (1958) e
"Anáguas a Bordo" (1959), e
"A Corrida do Século" (1965).
Aqui, também, ele reencontraria Jack Lemmon, seu
companheiro em uma das
maiores comédias do século
20, "Quanto Mais Quente Melhor", de Billy Wilder.
A grande década de Tony
terminaria com outro filme
notável, "O Estrangulador de
Boston" (1968), de Richard
Fleischer. O essencial de sua
carreira estava feito, apesar
dos muitos outros papéis e de
sua pequena e marcante aparição em "O Último Magnata" (1976), de Elia Kazan.
Nesses grandes momentos, Curtis soube marcar não
apenas pela beleza de galã,
mas em especial pela agilidade, pela leveza que imprimia
mesmo aos papéis dramáticos, pela ambiguidade de um
olhar que podia pedir proteção, sugerir o cinismo e preparar uma grande traição.
Texto Anterior: Ator Tony Curtis morre de infarto aos 85 Próximo Texto: É bom para o jornalista ser mais observador do que participante Índice | Comunicar Erros
|