São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2010

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OPINIÃO

Curtis marcou não apenas pela beleza de galã, mas pela ambiguidade do olhar

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Tony Curtis era diferente dos grandes atores de sua geração: sua imagem não era marcante nem pela rebeldia, nem pela integridade, ou mesmo pela seriedade que pautou as carreiras de Montgomery Clift, Paul Newman ou Marlon Brando.
Nada disso. Tony surge na virada das décadas de 1940 e 50 como um jovem galã que faz filmes de sucesso e é malhado pelos críticos.
Contratado pela Universal, estreia num papel secundário, como um gigolô, em "Baixeza", de Robert Siodmak, mas logo torna-se ator de destaque em filmes como o drama "Tormento da Carne", de Joseph Pevney, ou a comédia "E o Noivo Voltou", de Douglas Sirk. Já aqui, ele se faz notar pela ambiguidade de uma expressão doce, mas um tanto sombria.
É fora da Universal, na United, que o reconhecimento chega pela primeira vez para Tony, com "Trapézio", drama de circo de Carol Reed, onde se afirmava ao lado de Gina Lollobrigida e à sombra de Burt Lancaster. Burt, aliás, seria seu companheiro constante em filmes como "A Embriaguez do Sucesso" (1957), de Alexander Mackendrick, e "Spartacus" (1960), de Stanley Kubrick.
Esse é, aliás, o momento de virada e consolidação de sua carreira, o que se consubstanciaria na indicação para o Oscar de melhor ator por "Acorrentados" (1958), drama de Stanley Kramer que aborda a questão racial.
O final dos anos 1950 também estabelece a fama de Curtis como comediante, sobretudo por seus trabalhos com Blake Edwards, com quem roda em sequência "De Folga para Amar" (1958) e "Anáguas a Bordo" (1959), e "A Corrida do Século" (1965).
Aqui, também, ele reencontraria Jack Lemmon, seu companheiro em uma das maiores comédias do século 20, "Quanto Mais Quente Melhor", de Billy Wilder.
A grande década de Tony terminaria com outro filme notável, "O Estrangulador de Boston" (1968), de Richard Fleischer. O essencial de sua carreira estava feito, apesar dos muitos outros papéis e de sua pequena e marcante aparição em "O Último Magnata" (1976), de Elia Kazan.
Nesses grandes momentos, Curtis soube marcar não apenas pela beleza de galã, mas em especial pela agilidade, pela leveza que imprimia mesmo aos papéis dramáticos, pela ambiguidade de um olhar que podia pedir proteção, sugerir o cinismo e preparar uma grande traição.

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