São Paulo, quarta-feira, 01 de dezembro de 2010

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música

CRÍTICA JAZZ

"Flor de Fogo" traz um Chico Pinheiro "tipo exportação"

Músico paulista no lança 4º álbum, com participações internacionais


A MÚSICA DE CHICO PINHEIRO JÁ TEM UMA CARA BEM DEFINIDA: A DELE. INQUIETA, CRIATIVA


CARLOS BOZZO JUNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Lançado no Japão como "There's a Storm Inside", o quarto álbum do guitarrista e violonista paulistano Chico Pinheiro, 35, ganha no Brasil o nome de "Flor de Fogo".
Com um perfil "tipo exportação", tem participações das cantoras Dianne Reeves e Luciana Alves, além do saxofonista Bob Mintzer, sempre ancorados por uma banda de excelentes músicos. Entre eles, Fabinho Torres e Paulo Calasans (pianos), Edu Ribeiro (bateria), Paulo Pauleli (baixo acústico), Marcelo Mariano (baixo elétrico), Marco Bosco (percussão) e o próprio Chico cantando, tocando violão e guitarra.
Você se lembrará de Chet Baker (1929-1988), Tom Jobim (1927-1994), Edu Lobo ou de Guinga, mas não se iluda.
A música de Pinheiro já tem uma cara bem definida: a dele. Inquieta, criativa e de bom gosto. Um mestre da caneta, seus arranjos soam bem trabalhados. Demonstram que estudou, pesquisou, acertou e errou, ou seja, trabalhou para não seguir fórmulas e arriscar mais, apostando em si próprio.
Seu primeiro disco, "Meia-Noite, Meio-Dia" (2003) chegou forte, mas com várias participações e experimentações, tornando-o também um participante.
No segundo, "Chico Pinheiro" (2005), há um encaminhamento para uma afirmação de identidade. O terceiro, "Nova" (2007), é um CD instrumental excelente, mas "Flor de Fogo" é seu disco mais autoral. Lembra a fase experimental de Jobim em "Matita Perê" (1973) e "Urubu" (1976). Com a diferença de que Pinheiro teve o seu experimento bancado por uma gravadora japonesa, onde o músico tem, em contrato, mais um disco a ser realizado.
A qualidade em termos de captação de som e mixagem é inquestionável. Gravadas em São Paulo, Alhambra (Califórnia), Denver (EUA) e todas masterizadas em Los Angeles, as 12 faixas trazem um acabamento de produto com certificado "gringo".
Entre elas, "Buritizais", uma regravação do disco "Meia-Noite, Meio-Dia", em homenagem a Guimarães Rosa, com uma divisão bem inusitada e bem diferente da original gravada por Lenine. Lembra Jobim e Villa-Lobos, há muito absorvidos por Pinheiro. Uma faixa bem brasileira e bem difícil de cantar dada a divisão, mas tarefa fácil para Reeves.

ENCRUZILHADA
"Mamulengo" é um maracatu bem diferente, trazendo as pesquisas realizadas por Pinheiro com elementos mouros, e Bob Mintzer fazendo um solo de arrebatar. Aqui, a banda arrasa.
"Flor de Fogo" é bem brasileira, mas com a presença de Mintzer ela se torna uma encruzilhada entre os mundos do jazz e da MPB.
"Sertão Wi Fi" tem letra bonita de Pedro Luís, com participação do zabumbeiro Zezinho Pitoco, pai da mulher de Chico Pinheiro, Luciana Alves. "Recriando a Criação", de Paulo César Pinheiro, foi escrita pelo poeta, sabendo-se que o casal (Luciana e Chico) cantaria junto, fundindo vozes.
Por fim, um disco de um instrumentista não acomodado, que gosta muito de canção, jazz e música brasileira. Espere a junção desses universos e ouça Pinheiro realizando isso bem, sem força, naturalmente e de maneira iluminada.

FLOR DE FOGO

ARTISTA Chico Pinheiro
GRAVADORA CT MUSIC/Atração
QUANTO R$ 25, em média
AVALIAÇÃO ótimo


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