São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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Irlandês aproxima Brasil e EUA em projeto com bambas da bateria e DJs de hip hop

Batidas perfeitas

ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ao colidir uma turma de amigos DJs com velhos ícones do funk dos anos 60 e 70, o fotógrafo irlandês Brian Cross detonou uma pequena bomba de percussão.
"A idéia inicial era simples: filmar a reação de bateristas da velha guarda e DJs de hip hop quando ambos tocassem juntos numa mesma sala", explica o fotógrafo e diretor do documentário "Keepintime", que será lançado neste mês no Japão e, por aqui, está sendo negociado pela Trama.
"No início houve um certo excesso de respeito por parte dos DJs e um certo preconceito por parte dos bateristas", lembra ele, que também atende pelo pseudônimo B+ (B-plus). "Mas não demorou muito tempo para que eles entendessem que estavam falando a mesma língua."
O que viu naquele dia foi uma jam session explosiva -e não poderia ser diferente. Do lado dos bateristas, estavam bambas como o veterano Paul Humphrey (baterista de Marvin Gaye no disco "Let's Get It On", de 73, que ainda tocou com Jimmy Smith, John Coltrane, Frank Zappa e Steely Dan), Derf Reklaw (baterista dos Pharoahs, que já segurou baquetas para Curtis Mayfield, Minnie Ripperton e Donny Hathaway) e James Gadson (fundador do Earth Wind and Fire, que atualmente toca na banda de Beck).
Do lado dos DJs, parte da nata da Costa Oeste americana: Cut Chemist e o DJ Numark (do Jurassic 5), Shorkut (dos Invisible Skratch Piklz), o virtuoso Madlib e a dupla Beat Junkies, formada por Babu e J-Rocc. "Os bateristas ficavam olhando torto o pessoal "tocando discos", mas quando Cut começou a fazer os primeiros scratches e foi seguido, instantaneamente, por Humphrey, todos nós percebemos que aquilo era muito mais sério do que podíamos imaginar."
O próximo passo foi pensar em como conseguir dinheiro para financiar o projeto. "Aí eu conheci os caras da revista japonesa "Tokion", que estavam interessados em reunir bateristas da velha guarda para uma sessão de fotos. Juntei uma coisa com a outra e assim nasceu o "Keepintime"."
Seguiu-se uma série de pequenos shows num clube de Los Angeles conhecido como El Rey, bancada pela revista japonesa, que resolveu lançar ainda um pacote com o CD e o DVD registrando uma das jam sessions.
"Keepintime" sai primeiro no Japão, porque foram os japoneses que bancaram o projeto, mas em abril ele já estará sendo vendido em www.keepintime.com.
"Ao que tudo indica, o Brasil será o segundo país a lançá-lo, antes da Europa e dos Estados Unidos", adianta Cross, que esteve em São Paulo duas semanas atrás.
O interesse brasileiro certamente vem acompanhado da segunda etapa do projeto "Keepintime", que trouxe o mesmo elenco das apresentações em Los Angeles para uma apresentação no segundo semestre de 2002, na casa de shows Urbano, em São Paulo.
Naquela segunda-feira, 25 de novembro, além de todos os nomes presentes na gravação de "Keepintime", um time de quatro brasileiros completou o choque percussivo. E que time: além do DJ Nutz, estavam presentes mestres do ritmo como João Parahyba (do Trio Mocotó), Mamão (do trio Azymuth) e o lendário Wilson das Neves, que dispensa apresentações.
O público assistiu a três horas de uma trovoada rítmica de proporções bíblicas, com direito a intervenções de um teclado elétrico e dos espasmos de ruído manipulados pelos mixers e vitrolas dos DJs. A versão brasileira, já batizada de "Brazilintime", é o segundo projeto da série, ainda sem nome genérico, mas que já tem seus próximos capítulos em vista.
"Quero levar esse pessoal para fazer esse mesmo tipo de show na Nigéria, em Nova Orleans e em Miami", planeja Cross. "Mas em 2004 eu vou me dedicar a lançar esses dois DVDs." A idéia é que os CDs serão acompanhados das trilhas sonoras dos filmes, sempre remixadas por alguns dos DJs presentes no show.



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