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CINEMA
Crítica/ "Pecado da Carne"
Estreia do israelense Haim Tabakman levanta bandeira da liberdade sexual
ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Pecado da Carne", o
título em português
deste primeiro longa do israelense Haim Tabakman, pode soar como piada
quando se constata que Aaron
(Zohar Shtrauss), o personagem principal, é açougueiro.
"Eyes Wide Open" (olhos
bem abertos), o título em inglês, parece ser mais adequado,
pois o açougue kosher de Aaron
fica no bairro ultraortodoxo de
Jerusalém, em que a pequena
comunidade haredim vive fechada em si mesma e cada um
vigia se o próximo respeita as
draconianas leis do Talmude.
Em relação aos títulos, ambos
acabam se revelando justos.
O filme é um arrazoado pela
liberdade sexual, tema que deixa de ser comum ao ser abordado neste microcosmo específico, um universo paralelo em
que tudo gira em torno da religião e a pureza da carne e do
corpo está na base da vida da
comunidade.
Respeitado por todos, Aaron
é pai de quatro filhos e estuda
com afinco os textos sagrados.
Um dia, surge repentinamente
o jovem Ezri (Ran Danker), um
estudante misterioso e sem recursos, também ultraortodoxo,
ao qual Aaron oferece emprego
de ajudante no açougue.
Apesar da resistência inicial,
Aaron sucumbe ao assédio de
Ezri e os dois vivem uma paixão
às escondidas. A homossexualidade não chega a ser proibida
pelos ultraortodoxos: ela simplesmente não existe para eles,
que nem sequer a nomeiam.
Tabakman filma essa história com sobriedade, sem sentimentalismo: os diálogos são escassos, os momentos de silêncio prevalecem, abrindo brechas aos subentendidos. Rivka
(Ravit Rozen), a mulher de Aaron, capta tudo no ar: é sempre
digna e não julga o marido.
Os planos longos, com poucos movimentos de câmera,
reiteram o quão asfixiante é a
vida dos transgressores. A atmosfera opressiva acaba atingindo o espectador. O trabalho
dos atores, sobretudo Shtrauss,
tem muito a ver com isso.
Tabakman trabalha muito
bem as noções de público e privado, de puro e impuro. Os
amantes só existem enquanto
tais em lugares isolados, como
o lago situado fora da cidade,
para onde vão fazer banhos rituais de purificação, e o espaço
da câmara fria do açougue, onde são estocadas as carnes kosher, ou seja, puras, sancionadas
pela lei judaica.
Como se vê, o puro e o impuro coexistem de modo contraditório, em permanente tensão; religião e desejo se misturam tanto quanto água e azeite.
PECADO DA CARNE
Diretor: Haim Tabakman
Produção: Israel, Alemanha e França,
2009
Com: Zohar Shtrauss e Ran Danker
Onde: Espaço Unibanco Augusta 2, Frei
Caneca Unibanco Arteplex 6 e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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