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O DIRETOR
Impressões de viagem
WALTER SALLES
especial para a Folha
17 de maio de 1931. Um filme
realizado por um jovem diretor de
21 anos é apresentado no cinema
Capitólio, no Rio de Janeiro. Eminentemente poético e de estrutura
não-narrativa, o filme não encontra distribuidor.
Não foi sucesso de público, não
ganhou festivais. Mas permanece
até hoje alimentando o imaginário
de quem faz cinema no Brasil. O
filme é "Limite", e o cineasta, Mário Peixoto.
Hoje, fala-se constantemente na
diversidade do cinema brasileiro.
Não é uma qualidade suficiente
para distinguir uma cinematografia, mas o panorama é efetivamente plural. De um lado, os mestres
continuam ou voltaram a filmar.
Nelson Pereira dos Santos prepara "Guerra e Liberdade", cruzada ética e sentimental de Castro
Alves em São Paulo. Hector Babenco acaba de realizar o seu filme
mais visceral, com a densidade
que só ele conhece.
Carlos Diegues inverte o sinal do
olhar, propondo uma instigante
releitura do "Orfeu" de Tom e Vinícius. Walter Lima Jr. prepara um
novo filme, inscrito no Brasil da
bossa nova.
Da mesma forma, a geração liderada por Bruno Barreto -a de
Murilo Salles, Carla Camurati e
Sérgio Rezende, entre tantos outros- dá os retoques finais em
novos projetos.
Na área dos jovens cineastas,
Paulo Caldas e Lírio Ferreira, diretores do vigoroso "Baile Perfumado", desenvolvem os roteiros dos
seus próximos filmes.
A excelente Eliane Caffé
pós-produz seu "Kenoma", e os
talentosos diretores da Conspiração (Andrucha Waddington, Arthur Fontes, Claudio Torres e José
Henrique Fonseca) estão com
"Traição" -longa composto por
quatro médias inspirados em contos de Nelson Rodrigues- na lata.
No Nordeste, surgem novos cineastas criativos como José Araripe e Sergio Machado, na Bahia, e
Kleber Mendonça Filho, em Pernambuco.
É ao mesmo tempo muito e pouco. Com exceção do trabalho fundamental da Riofilme, o atual sistema de financiamento não favorece o cinema mais pessoal ou experimental, no entanto, vital para
oxigenar toda uma cinematografia.
Um exemplo: "Madame Satã",
primeiro projeto de longa-metragem do curta-metragista cearense
Karim A$nouz. O roteiro quase ganha o novo concurso do Sundance
Institute. Faz um uso radical do
som e da imagem. É cinema feito
com as tripas e o coração. E está
parado por dificuldades de captação de recursos.
Nas pré-estréias de "Central do
Brasil" realizadas em diversos
pontos do país, pude encontrar cineastas com projetos tão íntegros
e radicais quanto o de Karim. Como Edgar Navarro e seu belíssimo
"O Homem que Não Dormia",
projeto que espera há 20 anos para
ser filmado.
Ou Mônica Medina, roteirista de
grande originalidade de Vitória da
Conquista. A exemplo de Mário
Peixoto, podem não ganhar festivais ou competir no Oscar. Mas
talvez possam mais: fazer filmes
com o grau de permanência de
"Limite". Filmes radicalmente instigantes, inovadores, que dão vontade de fazer mais cinema.
Walter Salles, 41, é cineasta, diretor de "Central
do Brasil"
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