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FESTIVAL DE DOCUMENTÁRIOS
"Juliette" constrói biografia de garota cubana
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
"Mas Afinal Quem É Juliette?",
do mexicano Carlos Marcovich, é
um filme singular, que estabelece
uma nova relação entre ficção e
documentário.
Vencedor da competição latina
do último Sundance Festival
(EUA), o filme será exibido hoje,
no Cinesesc, dentro do 3º Festival
Internacional de Documentários -
É Tudo Verdade.
Pode-se dizer, simplificando,
que se trata de uma longa reportagem encenada sobre uma adolescente cubana -a Juliette do título-, que oscila entre a prostituição e a inocência infantil, num
bairro pobre de Havana.
A alegria contagiante da garota
chega a ofuscar sua história trágica: a mãe se matou pondo fogo no
próprio corpo, depois que o pai
abandonou a família e emigrou
para os Estados Unidos.
A própria Juliette foi estuprada
ainda na infância pelo amigo de
um tio. Hoje vive dos dólares que
ganha dos turistas em troca de favores sexuais.
Para tentar captar as várias faces
de uma personagem tão fugidia e
fascinante, o filme recorre a uma
incessante combinação de recursos, que vão dos simples depoimentos a sequências totalmente
encenadas, tendo como atores Juliette e amigos que moram em seu
bairro.
Tornando a equação ainda mais
complexa e estimulante, o documentário retrata paralelamente a
vida de outra jovem, a atriz, cantora e modelo mexicana Fabíola,
com quem Juliette trabalhou durante a gravação de um videoclipe
em Havana.
Sua história tampouco é um mar
de rosas: pai ignorado, mãe (ao
que parece) prostituta.
Ao entrelaçar os destinos dessas
belas garotas latino-americanas,
Marcovich acaba por esboçar um
retrato muito vívido da juventude
dos bairros pobres do continente,
em que a alegria de viver é a contraface da luta para sobreviver.
Seria fácil -até porque México e
Cuba são o berço das novelas-
fazer dessas histórias um melodrama deslavado.
Mas o filme foge do sentimental
com a mesma dignidade com que
rejeita o exótico.
Um exemplo memorável é a cena em que Juliette, sem nenhuma
preparação prévia, reencontra no
México o pai, que ela não via desde
os seis meses de idade.
Não há música nem lágrimas ali.
Depois de dar uma gargalhada
nervosa, a menina pergunta ao
quase desconhecido à sua frente:
"Por que você nunca escreveu?".
Um grande momento de um
grande filme.
Filme: Mas Afinal Quem É Juliette?
Produção: México, 1997, 90 min.
Direção: Carlos Marcovich
Quando: hoje, às 17h e às 21h, no Cinesesc
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