São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Com ingressos de até US$ 500, filme de Barney deveria levar 800 pessoas ao Ziegfeld Theater ontem

"Cremaster" é cartada do Guggenheim

CAMILA VIEGAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

A estréia mundial de "Cremaster 3", o mais longo, mais ambicioso e último filme do ciclo de Matthew Barney, deveria levar ontem cerca de 800 pessoas ao Ziegfeld Theater e arrecadar U$S 150 mil para os cofres do Guggenheim Museum de Nova York.
Com ingressos de US$ 100 a US$ 500, a projeção foi a maneira que os curadores do museu encontraram para evitar que a exposição completa do ciclo de cinco filmes, esculturas, fotografias e desenhos fosse cancelada.
Agora "Cremaster 3" será mostrado comercialmente de 15 a 28 de maio no Film Forum, no Soho (veja programação no quadro ao lado). E a exposição completa, batizada de "Matthew Barney: The Cremaster Cycle", deve abrir no dia 5 de junho no Museum Ludwig em Colônia, na Alemanha.
Em seguida, entra em cartaz no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris, de 10 de outubro a 5 de janeiro, e, finalmente, no Guggenheim, de 13 de fevereiro a 11 de junho de 2003.
Segundo Matthew Barney, ainda não há planos para o Brasil. "Acabamos de terminar o filme e ainda estamos planejando como e onde mostraremos o ciclo", respondeu por e-mail.
Só com a exposição, será possível ver a obra por inteiro e, quem sabe, entender as elucubrações do artista. Cada museu apresentará uma instalação diferente, desenhada pelo artista, para acolher a projeção dos filmes.
"Por meio desses filmes, esculturas, fotografias, desenhos e livros, a potente imaginação de Matthew e sua cosmologia privada têm uma presença assombrosa e alusiva", diz Thomas Krens, diretor da Fundação Solomon R. Guggenheim.
Barney produziu o ciclo fora de sequência. Primeiro ele fez o "Cremaster 4", em 1994. Depois veio o "Cremaster 1", em 1995, seguido pelo "Cremaster 5", em 1997, e o "Cremaster 2", em 1999. "Cremaster 3" encaixa-se no centro de um projeto de cinco partes "que se move linearmente", explica Barney. Filmado no Chrysler Building, o filme funciona como um espelho de aço multifacetado que reflete as duas metades da narrativa, a "Cremaster 1" e "2", e a "Cremaster 4" e "Cremaster 5".
O ponto de partida conceitual para a série é o músculo masculino cremáster, que controla as contrações dos testículos em resposta a estímulos externos. O ciclo trata das condições anatômicas de ascensão e queda, e descreve metaforicamente a evolução da forma através de alusões biológicas, psicológicas e morfológicas.
Os cinco filmes formam um sistema simbólico de relações: os lugares, personagens, hábitos, efeitos artificiais e situações retratam o desenvolvimento contínuo de um organismo em competição consigo mesmo.
Mas, segundo a curadora do Guggenheim Nancy Spector, que está organizando a exposição há seis anos, o destaque não vem tanto dos filmes, mas das esculturas. "A exposição vai mostrar a importância de Barney como escultor. Muitas vezes suas peças ficaram em segundo plano servindo como cenário para seus filmes", diz. "Há diversas maneiras de compreender o ciclo, o filme é apenas uma delas. As narrativas podem ser construídas a partir dos objetos. Matthews filma como se estivesse esculpindo."



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