São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2005

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ANÁLISE

Fotógrafo constrói heróis com estética expressionista e barroca

MICHEL GUERRIN
DO "MONDE"

Há 20 anos , a fotografia está dividida entre a arte e o comércio, entre artistas que são honrados por museus e criadores de imagens que vendem seus talentos para clientes ricos, colaborando com a indústria da moda, da publicidade, da imprensa, da música. São raros aqueles que, como Richard Avedon, são celebrados dos dois lados.
Anton Corbijn é um astro da fotografia chamada comercial. O rock é seu campo de jogo; o retrato, seu gênero predileto; o preto-e-branco, sua paleta. É preciso visitar o site do fotógrafo (www.corbijn.co.uk) para compreender sua envergadura. A lista de suas capas de discos é impressionante, assim como a dos retratos de astros que ele fez para revistas internacionais. Ao lado de Bowie, Nick Cave, R.E.M., Tricky ou Metallica, encontramos o famoso retrato em preto-e-branco do U2, publicado em "The Joshua Tree".
Encontramos a arte de Corbijn em seu livro monumental sobre o U2, que conta a lenda do rock através de imagens. Aqui, os personagens são mitificados. Obscuros, inatingíveis, eles envelhecem lentamente, enraizados em um cenário urbano ou natural. Corbijn fabrica heróis gravados na história do rock usando uma estética que pertence primeiramente à tradição. Ele reata com um expressionismo lírico e pictórico -matérias escuras e contrastadas, viragens azuis ou marrons. Inspira-se na energia da fotografia documental dos anos 50: fotos granuladas, desfocadas no primeiro plano, personagens relegadas aos cantos. Entretanto, impõe um estilo reconhecível, ao mesmo tempo barroco e maneirista, de um impacto inegável. Seu célebre retrato de Miles Davis, com as mãos que escondem a parte inferior do rosto do trompetista, é sem dúvida o mais significativo.
Dar tudo ao astro é uma qualidade. É também um limite. Corbijn faz uma fotografia promocional, inscrevendo-se numa prática longínqua das fotos de celebridades. Mas falta-lhe essa distância, quase uma maldade, que é a marca de retratistas excepcionais como Avedon.


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