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LIVRO
Jornalista reúne 29 relatos sobre situações que viveu e aponta como algumas foram importantes para os rumos do país
Zuenir Ventura apresenta "passeio pela história"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
As fotos do autor, na capa e na
contracapa do livro, ao lado de Fidel Castro, Carlos Drummond de
Andrade, Rubem Fonseca e outros, podem insinuar um livro
vaidoso, daqueles em que o jornalista expõe suas supostas glórias.
Mas é ilusão. Em "Minhas Histórias dos Outros", Zuenir Ventura
conta experiências de 47 anos de
profissão sem omitir culpas, incertezas e, sobretudo, emoções.
Em vez de uma pomposa autobiografia, ou um livro de ensinamentos para novos jornalistas,
Ventura, 73, preferiu escrever 29
relatos sobre situações que viveu e
que, na maioria dos casos, foram
também importantes para os rumos do Brasil e até do mundo.
"Não sou o protagonista do livro. Mas acabei, por conta da profissão, indo ao encontro de assuntos e pessoas interessantes", diz
Ventura, enfatizando que escreveu pensando em qualquer leitor,
não nos colegas de profissão. "Há
coisas que fiz que nem são lições
de jornalismo."
Os momentos mais fortes do livro são os que o mostram na encruzilhada entre o dever profissional e a necessidade de preservar a integridade ou a vida de um
personagem. Com Genésio Ferreira da Silva, testemunha-chave
do caso Chico Mendes (líder seringueiro assassinado em 1988),
prevaleceu a segunda opção: Ventura esqueceu a mítica neutralidade dos repórteres e levou o adolescente para morar em sua casa,
no Rio, retirando-o do Acre.
"Se alguém não tivesse feito isso, ele certamente não estaria vivo
hoje. Eu faria tudo de novo", afirma ele, que ganhou o Prêmio Esso
de Jornalismo em 1989 pela série
de reportagens "O Acre de Chico
Mendes", publicadas no "Jornal
do Brasil".
No livro, pela primeira vez,
Ventura fala sobre os problemas
-o alcoolismo, entre eles-
ocorridos com Genésio depois
que este saiu de sua guarda. Também escreve sobre a sua decisão,
confirmada pela direção da "IstoÉ", de não publicar, em 1984,
que o suicídio do escritor Pedro
Nava fora provocado por chantagens feitas por um garoto de programa.
"Eu faço uma autocrítica [no livro] porque pesou na época o
preconceito. Mas é preciso lembrar que a Aids era uma doença
recente, o movimento gay ainda
não tinha tirado os homossexuais
do gueto, o tabu ainda era grande", diz ele, então chefe da sucursal carioca da revista.
Caso inverso foi o que envolveu
Glauber Rocha, que, a pedido do
amigo jornalista, escreveu um depoimento para a revista "Visão",
em 1974, sobre os dez anos do golpe militar. No texto, o cineasta
chamava o general Golbery do
Couto e Silva de "gênio da raça" e
afirmava: "Os militares são os legítimos representantes do povo".
"Ele passou a ser perseguido pela esquerda, e eu fiquei muito culpado. Mas, anos depois, ele me
disse que falaria tudo aquilo de
novo", conta Ventura. Já uma entrevista de 1994, com o traficante
Marcinho VP, não foi publicada
porque o jornalista temia uma represália da polícia sobre os moradores do morro Dona Marta.
Ventura ainda relembra fatos
marcantes como a Revolução dos
Cravos em Portugal, em 74, o assassinato do jornalista Vladimir
Herzog, em 75, a anistia dos presos e exilados políticos, em 79, e a
bomba do Riocentro, em 81.
"Como tive a oportunidade de
trabalhar em jornais e revistas importantes, o livro acaba sendo um
passeio pela história do país nessas últimas décadas", afirma.
Minhas Histórias dos Outros
Autor: Zuenir Ventura
Editora: Planeta
Quanto: R$ 37,50 (272 págs.)
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