São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2005

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LIVRO

Jornalista reúne 29 relatos sobre situações que viveu e aponta como algumas foram importantes para os rumos do país

Zuenir Ventura apresenta "passeio pela história"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

As fotos do autor, na capa e na contracapa do livro, ao lado de Fidel Castro, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Fonseca e outros, podem insinuar um livro vaidoso, daqueles em que o jornalista expõe suas supostas glórias. Mas é ilusão. Em "Minhas Histórias dos Outros", Zuenir Ventura conta experiências de 47 anos de profissão sem omitir culpas, incertezas e, sobretudo, emoções.
Em vez de uma pomposa autobiografia, ou um livro de ensinamentos para novos jornalistas, Ventura, 73, preferiu escrever 29 relatos sobre situações que viveu e que, na maioria dos casos, foram também importantes para os rumos do Brasil e até do mundo.
"Não sou o protagonista do livro. Mas acabei, por conta da profissão, indo ao encontro de assuntos e pessoas interessantes", diz Ventura, enfatizando que escreveu pensando em qualquer leitor, não nos colegas de profissão. "Há coisas que fiz que nem são lições de jornalismo."
Os momentos mais fortes do livro são os que o mostram na encruzilhada entre o dever profissional e a necessidade de preservar a integridade ou a vida de um personagem. Com Genésio Ferreira da Silva, testemunha-chave do caso Chico Mendes (líder seringueiro assassinado em 1988), prevaleceu a segunda opção: Ventura esqueceu a mítica neutralidade dos repórteres e levou o adolescente para morar em sua casa, no Rio, retirando-o do Acre.
"Se alguém não tivesse feito isso, ele certamente não estaria vivo hoje. Eu faria tudo de novo", afirma ele, que ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo em 1989 pela série de reportagens "O Acre de Chico Mendes", publicadas no "Jornal do Brasil".
No livro, pela primeira vez, Ventura fala sobre os problemas -o alcoolismo, entre eles- ocorridos com Genésio depois que este saiu de sua guarda. Também escreve sobre a sua decisão, confirmada pela direção da "IstoÉ", de não publicar, em 1984, que o suicídio do escritor Pedro Nava fora provocado por chantagens feitas por um garoto de programa.
"Eu faço uma autocrítica [no livro] porque pesou na época o preconceito. Mas é preciso lembrar que a Aids era uma doença recente, o movimento gay ainda não tinha tirado os homossexuais do gueto, o tabu ainda era grande", diz ele, então chefe da sucursal carioca da revista.
Caso inverso foi o que envolveu Glauber Rocha, que, a pedido do amigo jornalista, escreveu um depoimento para a revista "Visão", em 1974, sobre os dez anos do golpe militar. No texto, o cineasta chamava o general Golbery do Couto e Silva de "gênio da raça" e afirmava: "Os militares são os legítimos representantes do povo".
"Ele passou a ser perseguido pela esquerda, e eu fiquei muito culpado. Mas, anos depois, ele me disse que falaria tudo aquilo de novo", conta Ventura. Já uma entrevista de 1994, com o traficante Marcinho VP, não foi publicada porque o jornalista temia uma represália da polícia sobre os moradores do morro Dona Marta.
Ventura ainda relembra fatos marcantes como a Revolução dos Cravos em Portugal, em 74, o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em 75, a anistia dos presos e exilados políticos, em 79, e a bomba do Riocentro, em 81.
"Como tive a oportunidade de trabalhar em jornais e revistas importantes, o livro acaba sendo um passeio pela história do país nessas últimas décadas", afirma.


Minhas Histórias dos Outros
Autor:
Zuenir Ventura
Editora: Planeta
Quanto: R$ 37,50 (272 págs.)


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