RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Jorge Drexler não é mais o mesmo. Após 13 anos de carreira, o cantor uruguaio tornou-se celebridade mundial ao ser premiado com o Oscar de melhor canção original por "Al Otro Lado del Rio", do filme "Diários de Motocicleta", de Walter Salles. Drexler é, provavelmente, o maior azarão da história da categoria, além de sua vitória ter especial importância porque, pela primeira vez, uma música não cantada em inglês ganhou o prêmio.
Agora, o compositor e cantor chega ao Brasil para fazer a obrigatória turnê pós-Oscar, trazendo na bagagem o relançamento de seu disco mais recente, "Eco", acrescido da canção premiada como faixa bônus e um CD-DVD extra. O DVD traz um making of da produção e gravação do álbum e um concerto registrado em setembro de 2004 em um teatro no Uruguai. Drexler vem ao país para apresentações em São Paulo (hoje), Belo Horizonte (amanhã) e Porto Alegre (no sábado).
"Eco" é o sétimo disco gravado pelo artista e foi lançado originalmente em 2004, inclusive no Brasil. Suas composições inspiradas e a produção rica e delicada do álbum renderam elogios quase unânimes em todos os lugares em que o disco foi lançado. Ele chegou a se apresentar no Brasil em maio do ano passado, por ocasião do lançamento da primeira versão do CD, e fez outros shows, para convidados, no Rio e em SP.
Sobre o que mudou em sua vida após o Oscar, ele é sincero. "Agora eu tenho muito mais trabalho", diz à Folha. "Pelo lado artístico, não muda muito. Um Oscar não o torna mais artista ou menos artista. É uma coisa mais logística. Agora, faço mais shows, meus discos vendem mais e são lançados em mais lugares."
Perguntado sobre a possibilidade de a premiação e conseqüente fama afetarem sua produção futura, ele diz achar pouco provável. "Composição é algo íntimo, o lado profissional não se envolve com isso. Como estou sempre viajando, fazendo shows, e sem tempo para compor, ainda não senti a presença do prêmio na minha vida pessoal e artística."
Nascido e criado no Uruguai e atualmente morando na Espanha, Drexler é fã declarado de música brasileira, "especialmente João Gilberto". Segundo ele, "sua maneira de cantar e tocar violão, evitando a grandiloqüência, ao mesmo tempo sofisticado e popular, foi uma grande influência".
Ele explica que, na sua infância e adolescência, a música vinda do Brasil exercia enorme influência no Uruguai, país pequeno por comparação. "Logo depois da música de João Gilberto e Tom Jobim, teve muito impacto o tropicalismo. O Manifesto Antropofágico foi uma influência para nós, mesmo sem nunca termos lido Oswald de Andrade. O movimento abriu nosso horizonte estético, sem perder nossa relação com a raiz musical do Uruguai. O mais importante dessa antropofagia é o conceito de ser atraído pelo diverso de você, fazer essa digestão estética buscando uma identidade. Tivemos a nossa própria espécie de tropicalismo no Uruguai, mas em escala 20 vezes menor."