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COMIDA
Conheça Pierre Marcolini, eleito melhor pâtissier do mundo, e seus doces artesanais
A fantástica fábrica de chocolate
GABRIELA CARUSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando se fala em chocolate na
Bélgica, um nome vem súbito à
mente: Pierre Marcolini. Apesar
de estar apenas há pouco mais de
dez anos no mercado, esse chocolatier de 41 anos conseguiu a proeza de sobressair no mar de chocolaterias do país e figurar entre as
mais respeitadas. Eleito o melhor
pâtissier do mundo em 1995, na
Pastry World Cup, principal concurso do gênero, ele viu, em pouco tempo, sua marca virar sinônimo de qualidade e de resgate de
uma tradição há muito perdida.
Entre os fãs de seus produtos,
está o ator francês Jean Reno e o
presidente americano George
Bush. Não é de espantar. Marcolini é um dos poucos a produzir o
próprio chocolate a partir da semente de cacau. Em toda a Europa, o número não chega a uma dezena. A maioria das chocolaterias
utiliza diretamente a massa de cacau, resultado do processamento
das sementes do fruto, feito normalmente por grandes fornecedores.
O chocolatier é um apaixonado
pelo que faz. "Um eterno gourmand do doce", como ele mesmo
se descreve. Aos 12 anos descobriu a paixão pela pâtisserie, freqüentou escolas em Paris, Zurique e Berlim e abriu sua primeira
loja em 1994, em Bruxelas. Marcolini é um alquimista do chocolate,
sempre em busca do sabor mais
puro, do retorno às origens dessa
iguaria. "O que procuro é recriar
constantemente o prazer e a mágica do primeiro encontro entre
um indivíduo e o chocolate", revela. Para ele, a busca pelo sabor
original não significa repetir velhas fórmulas, e sim inventar novas maneiras de descobrir o produto.
Cada um de seus chocolates é
uma experiência única. As sementes de cacau são compradas
pessoalmente por ele, que viaja
todo ano a países como México,
Venezuela e Madagascar. Depois
de pronto, o chocolate é misturado a sabores exóticos, como chá,
canela, pimenta e jasmim. O que
poderia ter sido considerado uma
blasfêmia em um país famoso pela sua tradição de chocolate foi recebido com entusiasmo pelos belgas. "O chocolate era um produto
completamente estático se pensarmos nas evoluções da gastronomia nos últimos 20 anos. Na
Bélgica, durante um século o modo de fazê-lo permaneceu o mesmo. As chocolatarias, em sua
maioria industrializadas, não
conseguem adaptar o produto às
exigências do cliente. Em uma
produção artesanal, isso pode ser
feito facilmente. Os consumidores antes se entediavam com a falta de opções. Hoje, não mais."
Marcolini acha que não trabalha muito. Privilégio de poucos
que conseguiram transformar a
paixão de uma vida em profissão.
A verdade é que o chocolatier vive
em função do seu trabalho. Ele se
envolve nas várias etapas de produção do seu chocolate, além de
estar em constante processo de
criação, sempre anotando idéias
para as novas coleções.
Outra obsessão de Marcolini é o
uso de ingredientes de qualidade.
"Uso manteiga em vez de margarina. Produtos industrializados
estão fora de questão", sentencia.
A cada ano, quando viaja pelo
mundo à procura de cacau, busca
também novos sabores para suas
criações. "A minha missão é encontrar produtos autênticos.
Uma amêndoa, por si só, não é rara. Mas posso achar em uma região escondida de algum país
uma variedade diferente, com um
sabor excepcional, e utilizá-la."
As lojas Marcolini são sinônimo
de luxo. Elas parecem mais joalherias, com sua decoração sóbria
e requintada. O melhor exemplo é
a recém-criada Maison du Chocolat, em um dos endereços mais
elegantes de Bruxelas. São três andares inteiramente dedicados ao
prazer da degustação da iguaria.
O mesmo cuidado vale para os
chocolates. Da escolha dos ingredientes às embalagens assinadas
por designers diferentes, a cada
nova coleção tudo é elaborado
com precisão. O objetivo de Marcolini é ser um Hermès do chocolate. "Quis dar ao produto o ar de
nobreza que ele merece. Por
exemplo, o Sassicaia, um dos melhores vinhos italianos, não se
apresenta em uma garrafa qualquer. A mesma coisa vale para os
chocolates. No entanto, a minha
idéia não era a de criar necessariamente um produto de luxo, e sim
um produto de qualidade. A minha idéia de luxo é poder oferecer
às pessoas algo que lhes dê um
prazer único."
Certamente, toda essa sofisticação tem seu preço. Os chocolates
Marcolini são os mais caros da
Bélgica. O quilo custa 52 (cerca
de R$ 160). Mas isso parece não
inibir os consumidores. Suas vendas continuam a crescer. Em 2004
elas ficaram em 6,2 milhões. Para este ano, a previsão é de 8 milhões. Nada mal para uma empresa artesanal que nunca fez publicidade. Por ano, Marcolini chega
a produzir cerca de 250 toneladas
de chocolate. Muito abaixo das
2.000 toneladas de concorrentes
como Godiva e Neuhaus.
Seus planos para o futuro incluem a expansão dos negócios
no exterior (leia mais à direita).
Para 2006, está prevista a abertura
de uma escola de gastronomia
com o seu nome, em Bruxelas. A
sua energia parece inesgotável.
Mas será que ele não enjoa de tanto chocolate? "Nem pensar! Acho
que morrerei com um pedaço de
chocolate na boca."
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