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Diário da corte
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Antes que você aperte o send
em um e-mail malcriado, vale a explicação: o título da coluna
não serve ao colonialismo explícito. É apenas uma homenagem ao
saudoso jornalista Paulo Francis,
que escrevia uma coluna de Nova
York de mesmo nome.
Andar por Manhattan (de onde
esta coluna está sendo produzida)
é ver três coisas: gente com iPod,
campanha anti-Bush e Homem-Aranha. Se Bush não achou as armas de destruição no Iraque, ele
as encontrou nos EUA mesmo.
Uma delas foi solta recentemente, nos cinemas: "Fahrenheit 9/
11", vencedor de Cannes deste
ano, do "chato" Michael Moore.
Já é o documentário mais bem-sucedido da história do cinema.
Da primeira à última cena, não
sobra nada do presidente americano. É de chorar de rir e de ficar
assustado na mesma medida. A
nossa Britney Spears tem uma
participação gloriosa no filme.
No último final de semana,
Moore apareceu em um cinema
do Village para cumprimentar as
pessoas na saída do cinema como
agradecimento e aproveitar para
pedir para elas não votarem em
Bush. Adolescentes param os
transeuntes para pedir para não
votarem em Bush.
No show do The Streets/Dizzee
Rascal que eu fui, uma barraquinha pedia assinaturas para o
"Rock the Vote", campanha anti-Bush da galera do rock. Você assinava a lista, botava seu e-mail e
ganhava um broche, um adesivo e
um disquinho do Dizzee Rascal.
Hein?!?
Dizzee Rascal e The Streets, no
Irving Plaza. A situação é a seguinte: noite em Nova York dedicada ao som sujo britânico, de rua
mesmo, com base na mistureba
rock e eletrônica e reggae e punk.
O vocal é puro rap. A engenhoca
sonora é feita por moleques trancados no quarto com um computador. Costumava ser chamado
de garage inglês, mas já está tudo
muito confuso. Para muitos é o
futuro da música jovem, hoje.
Os dois dias da dupla inglesa no
Irving Plaza estão esgotados. Na
platéia, um atento público teen.
Alguns jornais e revistas já entregam a apropriação americana do
que andam fazendo Streets, Rascal, Audio Bullys, Basement Jaxx e
cia.: "underground electronica".
Mas não estão certos do rótulo.
Dizzee Rascal foi sujo, inaudível
e ininteligível em seu sotaque britânico cockney do bairro mais
afastado de Londres. Com uma
base de baixo e bateria que não
era drum'n'bass, o DJ do menino
emplacava um rasta-punk delicioso. Por cima, o que seria as músicas de seu disco, "Boy in tha
Corner", que está sendo lançado
no Brasil pela Sum.
Aí depois veio o The Streets, o
mais celebrado nome inglês do
hip hop. E cultuado por parte das
pessoas do rock. E adorado por
quem faz e ouve música eletrônica. Mike Skinner, o cara por trás
do The Streets, é o cara. Faz do rap
uma deliciosa literatura cotidiana
inglesa e urbana. Problemas amorosos misturados a problema
com o joystick. Encrenca familiar
e encrenca com o futebol.
No show, suas batidas pulsantes
não saíram de DJ: vieram de uma
baterista. O baixo estourado que é
a espinha do som de Skinner não
era som programado. Tinha um
baixista mesmo. "A Grand Don't
Come for Free" foi tocado de cabo
a rabo, mas músicas balas do
"Original Pirate Material" não faltaram. Os dois shows, Rascal e
Streets, cada um a seu modo, foram espetaculares e deu vontade
de ficar na porta do Irving Plaza
esperando os caras saírem. Para
depois segui-los e perguntar: onde é que vocês estão nos levando?
lucio@uol.com.br
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