CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Desde a estréia da primeira temporada, em 2001, a série criada por Alan Ball ensina e reafirma o sentido da vida ao assumir a morte como personagem central do seu relato. Aqui, antes mesmo de mergulhar no cotidiano-pra-lá-de-neurótico dos Fischer, compreendemos que "vida por um fio" não é apenas uma metáfora.
Nesta quarta temporada, reunida numa caixa com três DVDs, paira uma ligeira impressão de ter tudo voltado à estaca zero. A viuvez de Nate o reaproxima de Brenda, David e Keith se enroscam cada vez mais na armadilha de estabelecer sua relação homossexual em bases heterossexuais e os afetos entre Ruth e Claire encontram-se deteriorados.
Mas o mais interessante, tanto desta criação quanto em outras séries com um arco dramático tão elaborado, é sua capacidade de abordar um número restrito de temas sem se esgotar ou se tornar repetitiva.
Ao contrário da telenovela, a série se sofistica ao dar aos personagens a chance de evoluir além da superfície. No caso dessa temporada de "A Sete Palmos" essa nuance fica ainda mais clara porque as situações das anteriores são retomadas, recalibradas, dirigindo-se a novos patamares.
E não só. Ela traz um episódio de grande impacto dramático, "Um Dia de Cão", focalizado nas fragilidades de David, personagem bastante aprofundado neste quarto ano.
Aqui, mais uma vez é a morte que ilumina cada episódio, a circunstância das mortes que desperta o pequeno momento dramático pelo qual um dos personagens passa, é a personalidade do cadáver que se reflete sobre as situações existenciais do pequeno grupo ou é a morte de um dos protagonistas que muda o sentido da vida daqueles que ficaram. Mais que na inteligência do relato, sua beleza está em ela sempre começar pelo fim e, assim, reiterar a cada episódio que, se há algum sentido na vida, ele só existe porque ela acaba.

A SETE PALMOS - 4ª TEMPORADA    
Distribuição: Warner
Quanto: R$ 130, em média