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CRÍTICA
Reading serve de palco para o novo, o urgente
THIAGO NEY
EM READING (INGLATERRA)
Acontece de tempos em
tempos. Meio que de repente,
aparece uma banda que nos faz
correr a uma loja para comprar
um disco; aumentar o rádio quando uma canção toca e cantá-la sozinho; pagar uma fortuna a um
cambista para assistir a um show.
É o tipo de excitação que talvez só a
música pop seja capaz de causar.
E no inglês Reading, o mais importante, comentado e aguardado
festival de rock do planeta, presenciado por 70 mil pessoas entre 23 e
25 de agosto, foram vários os que
proporcionaram esse sentimento.
Mais do que em qualquer outra
de suas edições anteriores, o evento deste ano serviu de palco para o
novo, para o urgente. Reading teve
o que é essencial agora, no presente, em 2002. Principal exemplo:
The Strokes.
A banda foi escalada para fechar
o palco principal -são quatro ao
todo- na primeira noite do festival, acima de gente como Pulp,
Weezer, Jane's Addiction.
Quando Julian Casablancas, de
joelho machucado, sentado numa
cadeira, começa a cantar a nova
"The Way it Is", entende-se por
que esses nova-iorquinos que têm
apenas um disco -de apenas 37
minutos de duração- estão ali.
As guitarras dos Strokes têm ritmo hipnotizador, a bateria é frenética. As letras adolescentes, espertas, são cantadas por Reading. São
versos como "That's not your
fault/ that's just the way it is"; "I
watch the TV/ forget what I'm
told/ well I am too young/ and they
are too old"; "I just want to misbehave/ I just want to be your slave".
Em uma hora, chega-se ao final
do show: o vocalista ganha um bolo de aniversário; o baterista (brasileiro) Fabrizio Moretti desce do
palco e leva o bolo até o público.
Em seguida, Casablancas se levanta, agradece ao amigo Rob Pollard,
herói do rock independente com
seu Guided by Voices, que está ao
lado do palco, e introduz "New
York City Cops". Jack White, do
White Stripes, entra com sua guitarra. É um encerramento primoroso de um show memorável.
Há um ano e meio, com o lançamento do tosco (no bom sentido)
EP "The Modern Age", eles abriram espaço para White Stripes,
Hives, Black Rebel Motorcycle
Club, Interpol e tantas outras que,
talvez, estivessem destinadas a ser
ignoradas por rádios, jornais e
MTV.
Assim, não foi exatamente uma
surpresa ver White Stripes tocar
no palco principal em um horário
decente. Lá estavam Jack e Meg
White -que martela a bateria de
olhos fechados, sorrindo- despejando blues ("Dead Leaves and the
Dirty Ground"), covers country
("Jolene") e o hit "Hotel Yorba".
Espanto foi o australiano Vines,
que fez a molecada gritar "She never loved me/ why should anyone?", em "Get Free", e desconstruiu o rap "Miss Jackson", do
Outkast.
O festival ainda teve o sinistro
Black Rebel, o explosivo e bem humorado Hives, a novíssima dupla
anglo-americana The Kills (um
guitarrista, uma garota no vocal e
bateria programada; pelos menos
três gravadoras já estão atrás deles), o electro ultrasensual Peaches,
Libertines, D4...
O que todas essas bandas mostraram no Reading é que o futuro
está longe e é supérfluo. Não interessa se amanhã elas se tornem tão
relevantes quanto um videocassete
Beta. O que importa é que essa é a
música de hoje.
Avaliação:
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