São Paulo, Sábado, 02 de Outubro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS

Mostra no Brooklin faz com que o prefeito ameace o repasse de US$ 7 mi em subsídios para o museu

"Sensation", em NY, expõe a polêmica

Reuters
"Virgem Maria", de Chris Ofili, uma das obras da "Sensation"


MALU GASPAR
de Nova York

Começa hoje no Museu do Brooklin, em Nova York, a mais polêmica exposição de arte dos últimos anos nos Estados Unidos. O nome da mostra, "Sensation" (Sensação), define bem a reação que ela está provocando entre os norte-americanos, antes mesmo de ser aberta ao público.
O barulho foi tanto que, por ter mantido a exibição na íntegra, o Museu do Brooklin está ameaçado pelo prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, de não receber um subsídio governamental de US$ 7 milhões para o próximo ano, destinado a cobrir as despesas operacionais da instituição.
De todas as 90 pinturas, esculturas e instalações de 42 artistas da vanguarda inglesa, uma obra em específico provocou os protestos do prefeito e da igreja católica local: a "Virgem Maria" de Chris Ofili. O quadro traz uma representação da mãe de Jesus salpicada com fezes de elefante e fotos de genitálias femininas recortadas de revistas pornográficas.
Giuliani argumenta que, por ofender os valores de um grupo específico da população, a obra não deveria ser exibida por uma instituição financiada com o dinheiro público.
O debate, que já dura duas semanas, ganhou todas as características que fazem uma boa polêmica nos EUA: colocou em lados opostos a defesa da liberdade de expressão e a proteção dos valores de um grupo, e já desencadeou também ações na Justiça.
Também já virou palanque para disputa política. A primeira-dama Hillary Clinton, que, assim como o prefeito Giuliani, é pré-candidata ao Senado pelo Estado de Nova York, saiu em defesa do museu, dizendo que "o fato de esta exposição ofender nossos sentimentos não deve nos levar a penalizar um museu inteiro".
O Museu do Brooklin está processando a prefeitura pelo anunciado corte dos subsídios. Giuliani, por sua vez, acusa a instituição de, junto com a casa de leilões e patrocinadora Christie's, alimentar a polêmica para tentar inflar o valor das obras.
A julgar pela última vez em que a "Sensation" causou celeuma parecida, pelo menos o sucesso de público o museu já garantiu.
Em 1997, quando foi exibida na tradicional Royal Academy of Arts, na Inglaterra, a exposição bateu recordes de visitação, mas chegou até a ter uma de suas obras depredadas. Daquela vez, o foco da agitação era outro: "Myra", de Marcus Harvey, o retrato de uma assassina serial de crianças formado por pequenas mãos impressas no papel.
Além das de Ofili e Harvey, obras de outros nomes importantes da arte inglesa dos anos 90, todas pertencentes ao milionário britânico Charles Saatchi, farão parte da mostra. Um exemplo é Damien Hirst, que ficou famoso nos anos 80, com suas ovelhas, vacas e porcos seccionados em várias partes e exibidos em caixas de vidro cheias formol.


Sensation: Young British Artists from Saatchi Collection, Museu do Brooklin, Nova York; tel.: 00/21/xx/1-718-638-5000, ramal 234; ingressos por telefone: 00/21/xx/1-87-742-752-483; na Internet: http://www.brooklinart.org/sensation


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