UOL


São Paulo, quinta-feira, 02 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARQUITETURA

Em sua quinta edição, evento se firma com regularidade e fluxo de arquitetos brasileiros e estrangeiros

Bienal reflete novos tempos de intercâmbio

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Visitantes deitados sobre foto de satélite da cidade de São Paulo, exposta na 5ª Bienal Internacional de Arquitetura e Design


GUILHERME WISNIK
CRÍITICO DA FOLHA

Chegando à sua 5ª edição em 2003, a Bienal Internacional de Arquitetura (BIA) completa um período de dez anos de existência razoavelmente contínua. A mostra tornou-se independente da Bienal de Artes em 1973, em plena ditadura militar, e sofreu uma interrupção de 20 anos até a segunda edição, em 93.
Nos últimos dez anos, além das três edições seguintes da BIA (1997, 99 e 2003), houve uma reativação na área de arquitetura. É surpreendente constatar que, à exceção de Oscar Niemeyer, praticamente todos os livros sobre arquitetos brasileiros foram publicados a partir de 1990 (Lina Bardi, Artigas, Oswaldo Bratke, Lucio Costa, Reidy etc).
Também é recente o interesse internacional pela produção brasileira pós-60, quase desconhecida fora do país até os anos 80, ou seja, 20 anos. Desde Brasília não se viam tantos arquitetos estrangeiros circulando aqui e arquitetos brasileiros participando de encontros e premiações no exterior. Mas o país também mudou. Houve um redirecionamento das políticas públicas nas intervenções urbanas e no enfrentamento da pobreza.
Mais do que comentar as especificidades da atual BIA isoladamente, interessa nesse momento, fazer um balanço do significado das últimas bienais. A Folha entrevistou a historiadora de arquitetura Sophia Telles, integrante da Comissão Executiva que conceituou a 2ª BIA, em 1993, e o arquiteto e historiador Lucio Gomes Machado, curador, ao lado de Luiz Fisberg, da 3ª e 4ª BIA (97 e 99).
Segundo Sophia Telles, esse trânsito dos arquitetos deve-se em parte, à abertura, na última década, de áreas de pesquisa e convênios que provocaram um inédito intercâmbio acadêmico com o exterior. Hoje é frequente o contato com europeus e latino-americanos via universidade. "Para ter idéia da situação fechada em que nos encontrávamos, a exposição de Peter Eisenmann trazida pelo Masp em 1993, mesmo ano da 2ª BIA, suscitou uma reação, muito provinciana, aliás, em defesa da "arquitetura nacional". Dez anos depois, sequer nos preocupamos com os projetos de Nova York na 5ª BIA, onde está o mesmo Eisenmann. O trânsito de mão dupla que vamos pouco a pouco conquistando tem o enorme mérito de nos desprovincianizar, quer dizer, permite uma medida mais tranquila das coisas, lá e aqui." E observa que na 2ª BIA apontava-se a mudança de foco para os problemas urbanos no núcleo "Cidade e Território", que tinha como idéia central contrapor as experiências de revitalização de cidades como Paris, Londres e Lisboa ao problema da periferia no Brasil, à nossa urbanização avassaladora pós-60. Mudança que só se realiza completamente agora, na 5ª BIA.
Para Gomes Machado, que assumiu a curadoria das duas edições seguintes, a Bienal ainda cumpre o importante papel de suprir uma lacuna de informação no meio profissional: "A revista "Projeto" tira 20 mil exemplares, a "AU" tira 15 mil, e a "Construção" tira 70 mil. Se você pegar todos os engenheiros e arquitetos que existem no Brasil, você vai ver que, no máximo, 20% talvez leia uma revista. Isso é uma tragédia e explica a arquitetura que está se produzindo. A Bienal é importante porque, como ela aparece na grande mídia, dá uma balançada nisso".


Bienal Internacional de Arquitetura e Design   
Onde: pavilhão da Bienal (parque Ibirapuera, portão 3, São Paulo, tel. 0/ xx/11/5574-5922)
Quando: de seg. a qui., das 9h30 às 23h; de sex. a dom., das 9h30 às 24h; até 2/11
Quanto: R$ 10



Texto Anterior: Contardo Calligaris: Ostentação
Próximo Texto: "Não promovemos nossa arquitetura"
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.