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Curadores e críticos evitam pôr a mão na cumbuca
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA ILUSTRADA
Mal ou bem, alguma discussão sobre a Bienal vem se travando, com artigos em jornais e
em sites especializados. Vai-se
configurando uma opinião simpática ou elogiosa em relação a
aspectos como o fim das representações nacionais, os seminários, o esforço didático e os
bons artistas selecionados.
Em oposição, questiona-se o
viés "politicamente correto" da
mostra e a gritante presença de
facilitações politizadas e trabalhos documentais que mal roçam o estatuto de arte, embora
possam causar grande efeito
para um público em busca de
sentido -afinal, não é tão difícil
assim assimilar "mensagens"
bem intencionadas que questionam a desigualdade social, a
opressão etc.
Sente-se, no entanto, no debate acerca da Bienal, uma ausência marcante: a de alguns
dos principais curadores e críticos (ou ex-críticos e curadores?) do país.
A consolidação da curadoria
como uma opção efetiva de inserção no mercado para intelectuais especializados em arte
tem a vantagem, ao menos teórica, de qualificar a organização
de exposições e acervos. Ganham, com isso, as instituições
e o público. A contrapartida
desvantajosa é que a expansão
dessa categoria tem se realizado por meio do recrutamento
de profissionais, em geral ligados ao meio universitário ou
editorial, que se dedicavam
-ou poderiam fazê-lo- à crítica de arte.
Pode-se argumentar que o
exercício da atividade "curatorial" implica uma dimensão crítica: ao selecionar, correlacionar ou confrontar obras, artistas e tradições, o curador exprime uma opinião, um conceito,
um ponto de vista acerca da arte -e o defende em textos publicados em catálogos.
Mas ainda que o raciocínio
seja verdadeiro, a tarefa da curadoria não substitui a da crítica propriamente dita. Mais do
que isso, ou pior do que isso, o
que às vezes se observa neste
meio é uma formidável complacência, ou então o silêncio
estratégico, em relação às diversas propostas que se apresentam ao público.
O "esprit de corps" ou a ética
entre colegas ou os interesses
individuais presentes e futuros,
de resto perfeitamente legítimos, acabam subtraindo do debate opiniões que poderiam se
mostrar valiosas.
No caso da Bienal, a Ilustrada procurou, nas semanas que
se seguiram à inauguração, colher avaliações de alguns críticos-curadores, com o intuito de
ampliar a discussão pública e o
leque de opiniões acerca deste
que é, enfim, o principal evento
de arte do país, com notória repercussão internacional. Sem
sucesso. Nessa cumbuca poucos quiseram colocar a mão.
A omissão empobrece ou pelo menos torna a discussão
mais opaca -pois, em parte, ela
se realiza intramuros, nas internas, de maneira pouco
transparente e sistemática.
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