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Em sua despedida, B.B. King emociona a platéia paulista
Show no Bourbon Street relembrou clássicos como "Why I
Sing the Blues", "Rock Me, Baby" e "Key to the Highway"
Músico conta, em entrevista à Folha, que deixará de fazer turnês mundiais, mas que pretende continuar tocando e produzindo novos álbuns
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A platéia que lotou o Bourbon Street, anteontem à noite,
já deve estar sentindo saudade.
Na estréia de sua turnê de despedida dos palcos brasileiros,
B.B. King comoveu os fãs e se
emocionou. O showbiz mundial começa a perder um de
seus astros mais carismáticos.
"Minhas pernas não estão
boas, minhas costas também
não, e a cabeça já não é a mesma", avisou o guitarrista, explicando com humor porque agora só pode tocar sentado.
Isso não o impediu de conquistar a platéia logo no primeiro blues, nem de dançar na
cadeira. "Se alguém aqui estiver
próximo da minha idade, não
aconselho a requebrar assim",
brincou.
Não faltaram clássicos dançantes do rhythm'n'blues, como "Why I Sing the Blues" e
"Rock Me, Baby". Nem blues
lentos, como "Key to the Highway", cuja letra parecia escrita
para a ocasião: "Me dê mais um
beijo / antes que eu vá embora /
quando eu for, desta vez / você
sabe que não volto mais", cantou King, sem esconder a sua
emoção.
Claro que um veterano mestre na arte de entreter, como
ele, jamais deixaria a melancolia prevalecer, mesmo na hora
do adeus. Esperto, escolheu a
festiva "When the Saints Go
Marchin" In" para a despedida.
Minutos antes de entrar no
palco, o rei do blues falou à Folha, com exclusividade:
FOLHA - O sr. passou quase toda a
vida na estrada, fazendo shows. Já
pensou como vai aproveitar o tempo livre?
B.B. KING - Vou pescar ou passear na Disneylândia (risos).
Não acho que sentirei falta das
viagens, porque pretendo trabalhar em novos discos. Não
vou parar de tocar até que as
minhas mãos deixem de funcionar. Tenho 81 anos, mas gostaria de viver mais uns 19.
FOLHA - Como vê a cena musical
dos EUA hoje dominada pelo hip
hop?
KING - Acho positivo. Quando
eu era garoto, tínhamos o boogie-woogie (risos). Acho que
devemos prestar atenção nas
histórias que eles contam. Só
não gosto de como tratam mal
as mulheres. Elas são o maior
presente que Deus deu para o
planeta.
Folha - Vinte anos atrás, o sr. me
disse que não se considerava o rei do
blues nem o melhor em nada. Como
se vê hoje?
KING - Acho que tudo que eu
faço alguém pode fazer melhor.
Não é falsa modéstia. Aos 81
anos, não tento me enganar.
Conheço meu trabalho e sei
que o faço bem, apenas isso.
FOLHA - Qual foi o melhor momento de sua carreira?
KING - Dois anos atrás, o governador e os deputados do Mississippi, onde nasci, me homenagearam. Chorei muito.
Quando eu era jovem tinha medo até de passar perto do campus da universidade, porque os
negros não podiam ir a qualquer lugar. Tudo era segregado.
FOLHA - E o pior momento?
KING - Tento esquecer as coisas ruins. Perder minha mãe foi
muito triste, mas depois que
me tornei músico passei a me
lembrar só das coisas boas.
FOLHA - O sr. se arrepende de não
ter feito algo?
KING - Só lamento não ter vivido um casamento feliz, como
muita gente. No mais me arrependo de poucas coisas. Levei
muito tempo para me tornar
conhecido no mundo, mas antes tarde do que nunca. Nem todos gostam do que faço, mas
pelo menos muita gente me conhece. Isso me faz bem.
FOLHA - Como quer ser lembrado
no futuro?
KING - Honestamente, gostaria
que pensassem em mim como
um amigo, alguém de quem as
pessoas gostavam. Só isso.
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