São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Febre do poste

Dança de strippers, que dá ibope a duas novelas, é a nova onda de academias comportadas

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de amanhã é o grande dia. A estilista Márcia, 34, vai deixar as filhas com a babá e levar o marido ao motel. Na suíte, dará a ele, com quem é casada há dez anos, seu presente de aniversário: um show de pole dancing, a dança do poste, que há dois meses ensaia secretamente em uma academia da Vila Madalena, em São Paulo.
A modalidade, na qual a mulher, de salto alto e roupa sensual, dança e faz acrobacias em uma barra vertical, deixou de ser exclusividade das dançarinas de striptease e se tornou sucesso entre mulheres "normais". Em vários países, como EUA, China, Portugal, Inglaterra e Argentina, é a nova onda das academias, que instalam dezenas de postes nas salas de aula. A Demi Moore de "Striptease" baixou também nas celebridades. A cantora Britney Spears, depois de ter aulas particulares com a patricinha Paris Hilton, gravou um clipe no qual dança o pole dancing. A top model Kate Moss sacudiu o esqueleto no poste em videoclipe do duo roqueiro White Stripes. Na semana retrasada, um cassino de Las Vegas realizou um concurso no qual pagou US$ 10 mil à melhor pole dancer.
A febre começa a chegar ao Brasil, impulsionada por duas novelas -Flávia Alessandra dança de forma ousada em "Duas Caras", da Globo, e Juliana Baroni faz uma performance mais comportada em "Dance Dance Dance", da Band. Dois programas, o "Pânico", da Rede TV!, e o "A Noite É uma Criança", da Band, farão concursos.
Em São Paulo, a pioneira é a Galeria Pilates, na Vila Madalena, onde a Folha fez uma aula (leia ao lado). Há um ano, quando a academia foi inaugurada, só duas alunas se interessaram. Agora são 25. Além das aulas (R$ 30 cada uma), Kitty do Rio vende um CD com músicas para strip e, pelo salgado preço de R$ 1.700, até um poste para ser instalado em casa.
A estilista Márcia e a advogada Carol (os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas), 38, se matricularam com a intenção de malhar e preparar uma coreografia para os maridos. Descobriram um motel que tem suítes com barras. Carol escolheu o Natal para presentear o marido. "Se você ler no "Notícias Populares" "Marido é assassinado no motel", pode saber que é porque ele deu risada quando dancei", brinca. "Eu mato com o salto."
Os maridos nem imaginam que elas treinam a dança que gerou polêmica em "Duas Caras" -o Ministério da Justiça quer subir a classificação de 12 para 14 anos. Carol, casada há quase 15 anos, dois filhos, nunca fez strip para o marido. "O que virá com a dança ninguém sabe", diverte-se a advogada.
Kitty, 47, era professora de dança moderna e há dois anos começou a pesquisar vídeos de pole na internet. "É uma boa atividade física. Trabalhamos o alongamento, abdominais e a parte cardiovascular."
Outra que está faturando com a onda é a ex-stripper Alexandra Valença, 26. Dançarina de casas de strip e suingue (troca de casais), foi contratada pela Globo para ensinar pole dancing a Flávia Alessandra. Suas aulas, antes restritas às garotas das boates, foram abertas a qualquer dona-de-casa. E já são 15 as que pagam R$ 200 por mês para freqüentar aulas vespertinas em pleno palco do clube de strip Solid Gold, em Moema (zona sul de SP). Ela também abrirá suas aulas às "mortais" na casa de suingue Enigma Club, e no sex shop Artes Sensuais, ambos em Moema.
A "personal sex trainer" Fátima Moura também pegou carona com a pole dancing e incluiu passos da dança do poste em seus workshops (R$ 150).
As professoras dizem que não é preciso uma performance perfeita, só entrar no clima. Para os homens, a regra é uma só: não rir em hipótese alguma.


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Em aula de pole dancing, salto alto torna sensual até a fuleira roupa de ginástica
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.