São Paulo, sábado, 03 de janeiro de 2009

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crítica

Cinema foi resposta à ditadura

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA


Nenhum período histórico do cinema brasileiro está bem coberto em DVD. Lacunas grandiosas envolvem, por exemplo, a produção da Cinédia, do cinema novo e dos anos 70. A partir de março, o cinema marginal abandona essa lista graças à ampla coletânea a ser dedicada a ele pela parceria Lume-Heco.
De fôlego incomum no mercado brasileiro, a iniciativa lembra os padrões da distribuidora norte-americana Criterion. Por aqui, encontra paralelo no trabalho cuidadoso (mas ainda incompleto) de lançamento em DVD das obras de Glauber Rocha (1939-1981), Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) e Leon Hirszman (1937-1987).
"Os filmes desta coleção não caracterizam um estilo, nem uma corrente", diz Inácio Araujo, crítico da Folha, em texto incluído no livreto que acompanha o volume dedicado a Andrea Tonacci. "Eles são, no entanto, um documento amplo sobre uma época e um estado de espírito. Estávamos no coração da ditadura -o AI-5, Médici e a tortura. Isso é o que ficou.
Para quem estava lá no momento, era um pouco mais. Até 1968, ninguém (salvo quem mexia de fato com política) levara muito a sério o regime militar -no sentido de que se imaginava tudo aquilo transitório."
"O AI-5 e o que veio depois", observa Araujo, "mostraram que estávamos entrando em uma noite tenebrosa, da qual não se vislumbrava saída." O recorte feito pela coleção permite justamente entrever, entre outros aspectos, como o cinema do período ofereceu uma espécie de resposta a esse estado de coisas.
Quatro décadas depois, pode-se compreender melhor um momento crucial na história do país e de uma geração com o retorno em DVD dos "marginais". Não é coisa pouca e merece aplauso.


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