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crítica
Cinema foi resposta à ditadura
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Nenhum período histórico do cinema brasileiro
está bem coberto em DVD.
Lacunas grandiosas envolvem, por exemplo, a produção da Cinédia, do cinema novo e dos anos 70. A
partir de março, o cinema
marginal abandona essa
lista graças à ampla coletânea a ser dedicada a ele pela parceria Lume-Heco.
De fôlego incomum no
mercado brasileiro, a iniciativa lembra os padrões
da distribuidora norte-americana Criterion. Por
aqui, encontra paralelo no
trabalho cuidadoso (mas
ainda incompleto) de lançamento em DVD das
obras de Glauber Rocha
(1939-1981), Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) e Leon Hirszman
(1937-1987).
"Os filmes desta coleção
não caracterizam um estilo, nem uma corrente", diz
Inácio Araujo, crítico da
Folha, em texto incluído
no livreto que acompanha
o volume dedicado a Andrea Tonacci. "Eles são, no
entanto, um documento
amplo sobre uma época e
um estado de espírito. Estávamos no coração da ditadura -o AI-5, Médici e a
tortura. Isso é o que ficou.
Para quem estava lá no
momento, era um pouco
mais. Até 1968, ninguém
(salvo quem mexia de fato
com política) levara muito
a sério o regime militar
-no sentido de que se
imaginava tudo aquilo
transitório."
"O AI-5 e o que veio depois", observa Araujo,
"mostraram que estávamos entrando em uma
noite tenebrosa, da qual
não se vislumbrava saída."
O recorte feito pela coleção permite justamente
entrever, entre outros aspectos, como o cinema do
período ofereceu uma espécie de resposta a esse estado de coisas.
Quatro décadas depois,
pode-se compreender melhor um momento crucial
na história do país e de
uma geração com o retorno em DVD dos "marginais". Não é coisa pouca e
merece aplauso.
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