São Paulo, sábado, 03 de fevereiro de 2007

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Crítica/romance

"Homens em Armas" faz irresistível sátira ao cotidiano da Segunda Guerra

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

O cinema já mostrou à exaustão as etapas de um típico treinamento militar americano; o recruta vacilante e covarde, nas mãos de um sargento durão, se transforma depois de alguns meses num verdadeiro homem, ou mais que isso, num autêntico fuzileiro naval.
Neste romance do escritor católico inglês Evelyn Waugh (1903-1966), o protagonista Guy Crouchback se prepara para a Segunda Guerra Mundial de modo bem diferente.
Ele já tem 35 anos, estabelecera-se na Itália após um casamento fracassado e passaria a vida em brancas nuvens se não tivesse atendido ao vago sentimento de dever e de obediência às nobres tradições guerreiras da família.
De um jeito bem brasileiro, todos ao seu redor se apressam em arranjar-lhe lugares onde possa passar a guerra sossegado. Mas Crouchback insiste e consegue entrar numa escola preparatória de oficiais alabardeiros. Nesse destacamento especial do Exército britânico, reúne-se uma galeria de cavalheiros excêntricos, bons de garfo, tradicionalistas, honrados -e obviamente sem condições mínimas de enfrentar a sério as tropas de Hitler.
Enquanto a guerra de verdade se desenrola ao longe, o cotidiano dos alabardeiros serve ao autor de "Memórias de Brideshead" como objeto de uma sátira afetuosa, de uma graça e humanidade irresistíveis.
Através de um personagem relativamente incolor, como Crouchback, sente-se a compaixão desse romancista católico por um estilo de vida e uma concepção de mundo que o século 20 destruía inexoravelmente.

Começo de trilogia
Publicado em 1952, "Homens em Armas" é o primeiro volume de uma trilogia intitulada "A Espada de Honra". O romance termina deixando irresolvidas várias situações; nos volumes seguintes ("Oficiais e Gentlemen" e "Rendição Incondicional"), a realidade da Segunda Guerra ganha corpo, justificando que a trilogia seja publicada numa coleção da Nova Fronteira de que fazem parte livros como as memórias de Churchill e as biografias de Hitler, Mao e Stálin.
Evelyn Waugh "escreve bem demais para ser romancista", afirmou Anthony Burgess certa vez. O autor de "Laranja Mecânica" achava que a desorganização, o caráter informe da vida real não cabem em frases elegantes e bem-acabadas, coisa que os romances de Waugh apresentam em alto grau. Não se dará uma completa má notícia, portanto, ao assinalar que a tradução brasileira deste romance está longe de preservar a excelência estilística que, no original inglês, motivava as reclamações de Burgess.


HOMENS EM ARMAS     
Autor: Evelyn Waugh
Tradução: Antonio Sepulveda
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 39,90 (304 págs.)

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