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Crítica/romance
"Homens em Armas" faz irresistível sátira ao cotidiano da Segunda Guerra
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
O cinema já mostrou à
exaustão as etapas de
um típico treinamento
militar americano; o recruta
vacilante e covarde, nas mãos
de um sargento durão, se transforma depois de alguns meses
num verdadeiro homem, ou
mais que isso, num autêntico
fuzileiro naval.
Neste romance do escritor
católico inglês Evelyn Waugh
(1903-1966), o protagonista
Guy Crouchback se prepara para a Segunda Guerra Mundial
de modo bem diferente.
Ele já tem 35 anos, estabelecera-se na Itália após um casamento fracassado e passaria a
vida em brancas nuvens se não
tivesse atendido ao vago sentimento de dever e de obediência
às nobres tradições guerreiras
da família.
De um jeito bem brasileiro,
todos ao seu redor se apressam
em arranjar-lhe lugares onde
possa passar a guerra sossegado. Mas Crouchback insiste e
consegue entrar numa escola
preparatória de oficiais alabardeiros. Nesse destacamento especial do Exército britânico,
reúne-se uma galeria de cavalheiros excêntricos, bons de
garfo, tradicionalistas,
honrados -e obviamente sem
condições mínimas de enfrentar a sério as tropas de Hitler.
Enquanto a guerra de verdade se desenrola ao longe, o cotidiano dos alabardeiros serve ao
autor de "Memórias de Brideshead" como objeto de uma sátira afetuosa, de uma graça e humanidade irresistíveis.
Através de um personagem
relativamente incolor, como
Crouchback, sente-se a compaixão desse romancista católico por um estilo de vida e uma
concepção de mundo que o século 20 destruía inexoravelmente.
Começo de trilogia
Publicado em 1952, "Homens em Armas" é o primeiro
volume de uma trilogia intitulada "A Espada de Honra". O
romance termina deixando irresolvidas várias situações; nos
volumes seguintes ("Oficiais e
Gentlemen" e "Rendição Incondicional"), a realidade da
Segunda Guerra ganha corpo,
justificando que a trilogia seja
publicada numa coleção da Nova Fronteira de que fazem parte livros como as memórias de
Churchill e as biografias de Hitler, Mao e Stálin.
Evelyn Waugh "escreve bem
demais para ser romancista",
afirmou Anthony Burgess certa
vez. O autor de "Laranja Mecânica" achava que a desorganização, o caráter informe da vida
real não cabem em frases elegantes e bem-acabadas, coisa
que os romances de Waugh
apresentam em alto grau. Não
se dará uma completa má notícia, portanto, ao assinalar que a
tradução brasileira deste romance está longe de preservar
a excelência estilística que, no
original inglês, motivava as reclamações de Burgess.
HOMENS EM ARMAS
Autor: Evelyn Waugh
Tradução: Antonio Sepulveda
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 39,90 (304 págs.)
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