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MODA - PARIS
Até os modernistas querem ser chiques
ERIKA PALOMINO
enviada especial a Paris
A temporada do prêt-à-porter
esquenta em Paris, chegando a
seus rounds finais hoje, depois de
uma semana de desfiles com a
moda para o outono-inverno
2000/2001 na Europa.
Entre as discussões da estação, a
briga entre o Sindicato das Agências de Modelos, os sites (que disponibilizam, com o consentimento dos estilistas, as imagens dos
desfiles), e programas de TV que
transmitem ao vivo ou exibem os
desfiles no fim do dia.
O sindicato quer que as modelos recebam por aparecer não
apenas na passarela, mas também
pela TV e pela rede. As negociações, que vêm seguindo tensas
desde Milão, chegaram a momentos complicados, com a ameaça
de greve de modelos; os programas ameaçando cortar a cabeça
das modelos para não pagar nada
a mais e estilistas ameaçando cobrir o rosto das meninas.
A Chambre Syndicale do Prêt-à-Porter negociou acordos e, até
julho, na próxima temporada da
alta-costura, a situação estará OK.
Enquanto isso, na passarela, os
estilistas apresentam imagens
bem definidas de moda, em que
vemos interessantes inversões.
De um lado, as grandes maisons, renovadas por jovens criadores, que trazem de casa seus referenciais de moda, o que inclui
sua bagagem musical. Em momentos difíceis, em que todo
mundo precisa vender -e ainda
assim oferecer um produto- o
mais seguro é fazer o que se sabe
fazer.
A inglesa Stella McCartney, para Chloé, aciona suas lembranças
dos 70 e dos 80 (ela se autodenomina "a princesa do rock") e traz
para a passarela uma moda feminina e sexy, roupas que as mulheres gostam e que os homens adoram. Todo mundo fica feliz, então, em especial o sempre-coruja
Paul McCartney (este ano o desfile da Chloé na Opera Garnier teve
também o filho de John Lennon,
Sean Lennon, num encontro
"beatle" de gerações).
Outro inglês, o terrível Alexander McQueen, acionou seus tempos de rebelde para deixar a Givenchy com atitude punk-rock,
bem 80, com elementos da moda
militar e eficiente styling.
Martine Sitbon vem também
com impecável styling, com coques e casquetes com franjas e
plumas formando os mais variados topetes, em que nunca uma
modelo é igual à outra.
A idéia é gótico-chic, com delineador na parte de baixo da pálpebra e rosto bem branco. A trilha
(sempre um forte de Martine Sitbon) é mais uma vez perfeita: ao
som de Grace Jones em "Warm
Leatherette", numa versão quase
electro, as modelos desfilam muito preto, em elegantes minitrench-coats, jaquetas fechadas
com cinto; alternando com peças
de lã de grafismos quadriculados,
em pulls de cashmere e recursos
como grandes flores picotadas em
lapelas, saias (em três comprimentos: pelo meio da coxa, logo
abaixo do joelho, pelo meio da
perna).
Um pouco de lilás e laranja salpica os quadriculados na lã e o visual por inteiro, como na chemise
em seda (quase roxa) sob o colete
de couro (muito couro, claro)
preto, com babados.
As neo-new romantics de Sitbon usam pele de coelho e dourado, na organza ou no cetim dos
vestidos do final, com discretas
meias lurex. O andamento acabou prejudicado pelo excesso das
lapelas e golas (Viktor & Holf e
Comme des Garçons já inovaram
bastante esse segmento).
Ann Demeulemeester brilha como sempre, agradando aos românticos urbanos. Usadas com
botas de couro em formato galocha, as saias assimétricas compridas são a base dos looks, em couro envelhecido, vinil preto e náilon, que ganha cores (incrível, em
se tratando da bicromia da estilista belga). São elas o vermelho
(num tom todo particular), o verde-oliva e o laranja.
O clima também é 80, com jeans
amarrotados, jaquetões de quatro
botões, pulls e capas sobrepostas,
ao som da musa da criadora, a
cantora Patti Smith. Enquanto
seus homens parecem saídos do
Madame Satã, sorumbáticos, as
mulheres tiram glamour de looks
como a saia amarela de veludo
molhado com blusa de náilon
sem mangas, verde, o paetê sob a
capa preta e as peles de coelho, beges, em blusas/estolas.
O vestido longo, vermelho em
náilon, preso apenas num pontinho lateral é pura poesia, terminando com os longos em vinil
(sem ser brega) do final. É: até os
modernistas querem ser chiques
neste inverno (por modernista
entenda modernos, em vocabulário fashion).
Gaultier, por sua vez, põe em
prática a tradicional elegância parisiense, chique de piteira, rendendo também homenagem a
Yves Saint-Laurent revisitadas,
como a chemise -que vem em
jérsei; as saias plissadas; os smokings e o chapéu.
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