São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2000


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MODA - PARIS
Até os modernistas querem ser chiques

ERIKA PALOMINO
enviada especial a Paris

A temporada do prêt-à-porter esquenta em Paris, chegando a seus rounds finais hoje, depois de uma semana de desfiles com a moda para o outono-inverno 2000/2001 na Europa.
Entre as discussões da estação, a briga entre o Sindicato das Agências de Modelos, os sites (que disponibilizam, com o consentimento dos estilistas, as imagens dos desfiles), e programas de TV que transmitem ao vivo ou exibem os desfiles no fim do dia.
O sindicato quer que as modelos recebam por aparecer não apenas na passarela, mas também pela TV e pela rede. As negociações, que vêm seguindo tensas desde Milão, chegaram a momentos complicados, com a ameaça de greve de modelos; os programas ameaçando cortar a cabeça das modelos para não pagar nada a mais e estilistas ameaçando cobrir o rosto das meninas.
A Chambre Syndicale do Prêt-à-Porter negociou acordos e, até julho, na próxima temporada da alta-costura, a situação estará OK.
Enquanto isso, na passarela, os estilistas apresentam imagens bem definidas de moda, em que vemos interessantes inversões.
De um lado, as grandes maisons, renovadas por jovens criadores, que trazem de casa seus referenciais de moda, o que inclui sua bagagem musical. Em momentos difíceis, em que todo mundo precisa vender -e ainda assim oferecer um produto- o mais seguro é fazer o que se sabe fazer.
A inglesa Stella McCartney, para Chloé, aciona suas lembranças dos 70 e dos 80 (ela se autodenomina "a princesa do rock") e traz para a passarela uma moda feminina e sexy, roupas que as mulheres gostam e que os homens adoram. Todo mundo fica feliz, então, em especial o sempre-coruja Paul McCartney (este ano o desfile da Chloé na Opera Garnier teve também o filho de John Lennon, Sean Lennon, num encontro "beatle" de gerações).
Outro inglês, o terrível Alexander McQueen, acionou seus tempos de rebelde para deixar a Givenchy com atitude punk-rock, bem 80, com elementos da moda militar e eficiente styling.
Martine Sitbon vem também com impecável styling, com coques e casquetes com franjas e plumas formando os mais variados topetes, em que nunca uma modelo é igual à outra.
A idéia é gótico-chic, com delineador na parte de baixo da pálpebra e rosto bem branco. A trilha (sempre um forte de Martine Sitbon) é mais uma vez perfeita: ao som de Grace Jones em "Warm Leatherette", numa versão quase electro, as modelos desfilam muito preto, em elegantes minitrench-coats, jaquetas fechadas com cinto; alternando com peças de lã de grafismos quadriculados, em pulls de cashmere e recursos como grandes flores picotadas em lapelas, saias (em três comprimentos: pelo meio da coxa, logo abaixo do joelho, pelo meio da perna).
Um pouco de lilás e laranja salpica os quadriculados na lã e o visual por inteiro, como na chemise em seda (quase roxa) sob o colete de couro (muito couro, claro) preto, com babados.
As neo-new romantics de Sitbon usam pele de coelho e dourado, na organza ou no cetim dos vestidos do final, com discretas meias lurex. O andamento acabou prejudicado pelo excesso das lapelas e golas (Viktor & Holf e Comme des Garçons já inovaram bastante esse segmento).
Ann Demeulemeester brilha como sempre, agradando aos românticos urbanos. Usadas com botas de couro em formato galocha, as saias assimétricas compridas são a base dos looks, em couro envelhecido, vinil preto e náilon, que ganha cores (incrível, em se tratando da bicromia da estilista belga). São elas o vermelho (num tom todo particular), o verde-oliva e o laranja.
O clima também é 80, com jeans amarrotados, jaquetões de quatro botões, pulls e capas sobrepostas, ao som da musa da criadora, a cantora Patti Smith. Enquanto seus homens parecem saídos do Madame Satã, sorumbáticos, as mulheres tiram glamour de looks como a saia amarela de veludo molhado com blusa de náilon sem mangas, verde, o paetê sob a capa preta e as peles de coelho, beges, em blusas/estolas.
O vestido longo, vermelho em náilon, preso apenas num pontinho lateral é pura poesia, terminando com os longos em vinil (sem ser brega) do final. É: até os modernistas querem ser chiques neste inverno (por modernista entenda modernos, em vocabulário fashion).
Gaultier, por sua vez, põe em prática a tradicional elegância parisiense, chique de piteira, rendendo também homenagem a Yves Saint-Laurent revisitadas, como a chemise -que vem em jérsei; as saias plissadas; os smokings e o chapéu.


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