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RECEITAS DO MELLÃO
O feijão mendeliano e o sonho
HAMILTON MELLÃO JR.
Colunista da Folha
Engenheiros agrônomos são
pessoas boníssimas, fáceis no trato e que nunca padecem de espasmo na glote. Geneticistas são pessoas igualmente boníssimas, fáceis no trato e que nunca padecem de espasmo na glote.
Minha diferença com eles aparece quando começam a retirar os
incômodos da natureza para, pretensamente, aumentar a aceitação
do produto. Ou seja: por meio de
cruzamentos mendelianos, fazem
mangas sem fiapos, pêssegos sem
caroço, bananas que não amassam, desbancando o conceito platônico de idéia. Temos então a
forma de uma maçã ideal, com
cor linda, aspecto apetitoso, mas,
pagando o preço da formosura,
aguada e sem nenhum gosto.
No caso do feijão -bastião protéico e gastronômico nacional-
o Instituto Agronômico de Campinas criou, há alguns anos, a variedade Carioquinha, resistente às
intempéries, de colheita mais curta, não muito exigente de solo e
com boa produção. Mas que,
quando cozido, tem caldo ralo e
sabor pouco pronunciado. Esse
feijão representa, hoje, a quase totalidade do consumo paulista.
Se você tem mais de 25 anos, comia, provavelmente, na sua infância, o feijão rosinha e o mulatinho,
crioulos nossos de gosto personalíssimo, caldo cremoso de dar
água na boca e textura aveludada.
Mas que, em contrapartida, são
vulneráveis aos nematóides e têm
uma colheita tardia. Por conta
disso, pouca gente os continuou
plantando e sumiram das prateleiras dos supermercados dando
espaço ao genérico carioquinha.
Quem "cria" os produtos nas
grandes empresas são pessoas
amargas, difíceis no trato e que
têm úlcera duodenal. Frequentam diuturnamente feiras de alimentação nos Estados Unidos e
na Europa, copiando produtos
que nada têm a ver com as nossas
vontades ou necessidades.
Por isso é um espanto o que a
Camil fez: teve uma idéia brasileira. Lançou uma linha de feijão
gourmet, oito tipos por enquanto,
entre os quais os saudosos fradinho, bolinha e jalo. São um pouco
mais caros do que o medíocre,
mas valem o preço de matar a
saudade das nossas lembranças.
Estão vendendo muito bem
obrigado e desbancando o pensamento marqueteiro de que basta
só a propaganda e uma bela embalagem para vender qualquer
coisa, porque todos nós somos as
vacas do presépio.
E-mail: mellao@uol.com.br
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