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CRÍTICA/CALL AND RESPONSE
Banda faz trilha para fim de tarde
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Também o pop escreve certo
por linhas tortas. Quase que
por acaso, ganha edição nacional
"Winds Take No Shape", o álbum
mais recente da elogiada banda
americana (californiana!) Call
and Response, representante legítima de uma espécie quase inexistente no Brasil: a banda de médio
porte. Com relativo sucesso no
circuito indie, angariou fãs por
conta de seu excelente primeiro
álbum, homônimo, uma pequena
obra-prima lançada em 2001, primeiro pela minúscula Kindecore,
logo depois relançado pela um
pouco maior Emperor Norton.
Ali, em seu primeiro lançamento, a banda vestia as influências na
camisa, fazendo um pop perfeito
de gosto retrô, dançante e elaborado, com sotaques de Jackson Five, Stereolab, bossa nova e harmonias vocais compondo a equação sonora do quinteto. Com esse
segundo disco, a banda evoluiu e
ficou mais séria, fazendo questão
de deixar de lado o pedantismo
que geralmente acompanha esse
tipo de "amadurecimento".
A tecladista e vocalista (uma das
vocalistas, já que todos na banda
cantam) Simone Rubi, em entrevista por telefone da Califórnia,
comentou que mudanças são
sempre naturais e bem-vindas. "A
mudança no nosso som aconteceu naturalmente. Muitas das
canções do primeiro disco foram
escritas quando estávamos vivendo em Santa Bárbara, mas depois
nos mudamos para San Francisco
-um novo ambiente sempre gera um novo som. Nós crescemos e
nos tornamos diferentes do som
daquele primeiro álbum."
Conseqüências? "Muita gente
reagiu de formas diferentes. Ganhamos vários fãs novos, que talvez não gostassem do primeiro
disco, e várias pessoas que gostaram do primeiro álbum queriam
mais do mesmo. É difícil se preocupar com todos os fãs, porque o
principal é agradar a si mesmo."
Sem dúvida, uma evolução. Se
falta o irresistível apelo pop imediato do primeiro CD, sobra sensibilidade e beleza nas canções
agora mais lentas e melancólicas.
Bossa nova
Onde antes esbanjavam uma
alegria quase infantil, cantando
coisas como "Blowin" Bubbles"
(estourando bolhas) e "Rollerskate" (patins) quase que apenas pelo
prazer do som das palavras ou das
imagens evocadas, agora cantam
letras que representam as dúvidas
e descobertas da vida do jovem
adulto, como "Trapped Under
Ice" (preso sob o gelo) e "Silent
Chill" (calafrio silencioso). O sábado à noite virou fim de tarde
ensolarado de domingo.
Continuam ali as harmonias vocais, o clima de brisa do mar, as
guitarras e teclados com sons antigos, mas agora com o ocasional
acompanhamento de violoncelo,
violino e flugelhorn. A banda entrou sem medo no infame mundo
do pop adulto, fazendo uma espécie de soft-rock revisitado e atualizado, algo como um Mamas and
the Papas ou um Carpenters, se
fossem bandas indie contemporâneas e menos acústicas.
Ou como se fossem cantores de
bossa nova, se o estilo tivesse nascido nas praias da Califórnia, ao
invés de Ipanema? "Gostamos
muito de música brasileira, embora não conheçamos quase nada
do que é feito hoje, apenas coisas
clássicas, como Joyce, Mutantes,
João Gilberto. A bossa nova é sem
dúvida uma referência e influência para o Call and Response. Gosto muito do estilo vocal da música
brasileira, casual e bonito."
Tocar no Brasil, então, está nos
planos? "Seria incrível. Estamos
conversando com uma pessoa do
Tim Festival para tocarmos aí em
outubro. Eles entraram em contato, demonstrando interesse. Pode
ser que aconteça."
(RONALDO EVANGELISTA)
Winds Take No Shape
Artista: Call and Response
Lançamento: Badman/Rio 8
Quanto: R$ 17,90
(www.rio8virtual.com.br)
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