São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

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CRÍTICA/CALL AND RESPONSE

Banda faz trilha para fim de tarde

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Também o pop escreve certo por linhas tortas. Quase que por acaso, ganha edição nacional "Winds Take No Shape", o álbum mais recente da elogiada banda americana (californiana!) Call and Response, representante legítima de uma espécie quase inexistente no Brasil: a banda de médio porte. Com relativo sucesso no circuito indie, angariou fãs por conta de seu excelente primeiro álbum, homônimo, uma pequena obra-prima lançada em 2001, primeiro pela minúscula Kindecore, logo depois relançado pela um pouco maior Emperor Norton.
Ali, em seu primeiro lançamento, a banda vestia as influências na camisa, fazendo um pop perfeito de gosto retrô, dançante e elaborado, com sotaques de Jackson Five, Stereolab, bossa nova e harmonias vocais compondo a equação sonora do quinteto. Com esse segundo disco, a banda evoluiu e ficou mais séria, fazendo questão de deixar de lado o pedantismo que geralmente acompanha esse tipo de "amadurecimento".
A tecladista e vocalista (uma das vocalistas, já que todos na banda cantam) Simone Rubi, em entrevista por telefone da Califórnia, comentou que mudanças são sempre naturais e bem-vindas. "A mudança no nosso som aconteceu naturalmente. Muitas das canções do primeiro disco foram escritas quando estávamos vivendo em Santa Bárbara, mas depois nos mudamos para San Francisco -um novo ambiente sempre gera um novo som. Nós crescemos e nos tornamos diferentes do som daquele primeiro álbum."
Conseqüências? "Muita gente reagiu de formas diferentes. Ganhamos vários fãs novos, que talvez não gostassem do primeiro disco, e várias pessoas que gostaram do primeiro álbum queriam mais do mesmo. É difícil se preocupar com todos os fãs, porque o principal é agradar a si mesmo."
Sem dúvida, uma evolução. Se falta o irresistível apelo pop imediato do primeiro CD, sobra sensibilidade e beleza nas canções agora mais lentas e melancólicas.

Bossa nova
Onde antes esbanjavam uma alegria quase infantil, cantando coisas como "Blowin" Bubbles" (estourando bolhas) e "Rollerskate" (patins) quase que apenas pelo prazer do som das palavras ou das imagens evocadas, agora cantam letras que representam as dúvidas e descobertas da vida do jovem adulto, como "Trapped Under Ice" (preso sob o gelo) e "Silent Chill" (calafrio silencioso). O sábado à noite virou fim de tarde ensolarado de domingo.
Continuam ali as harmonias vocais, o clima de brisa do mar, as guitarras e teclados com sons antigos, mas agora com o ocasional acompanhamento de violoncelo, violino e flugelhorn. A banda entrou sem medo no infame mundo do pop adulto, fazendo uma espécie de soft-rock revisitado e atualizado, algo como um Mamas and the Papas ou um Carpenters, se fossem bandas indie contemporâneas e menos acústicas.
Ou como se fossem cantores de bossa nova, se o estilo tivesse nascido nas praias da Califórnia, ao invés de Ipanema? "Gostamos muito de música brasileira, embora não conheçamos quase nada do que é feito hoje, apenas coisas clássicas, como Joyce, Mutantes, João Gilberto. A bossa nova é sem dúvida uma referência e influência para o Call and Response. Gosto muito do estilo vocal da música brasileira, casual e bonito."
Tocar no Brasil, então, está nos planos? "Seria incrível. Estamos conversando com uma pessoa do Tim Festival para tocarmos aí em outubro. Eles entraram em contato, demonstrando interesse. Pode ser que aconteça." (RONALDO EVANGELISTA)

Winds Take No Shape
   
Artista: Call and Response
Lançamento: Badman/Rio 8
Quanto: R$ 17,90
(www.rio8virtual.com.br)


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