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Spike Lee revê destruição do Katrina
Documentário "Quando os Diques se Romperam: Um Réquiem em Quatro Atos" tem primeira parte exibida hoje pela HBO
Dois meses depois de assistir ao desastre pela TV, diretor partiu para Nova Orleans a fim de entrevistar famosos e anônimos
TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM WASHINGTON
O cineasta norte-americano
sempre é rápido em registrar o
que acontece ao seu redor. No
final de 2001, logo após os ataques de 11 de setembro, Spike
Lee correu com as filmagens do
roteiro em que estava trabalhando, "A Última Noite", para
incluir na história o clima pós-atentado.
Em "Quando os Diques se
Romperam: Um Réquiem em
Quatro Atos" -o primeiro
"ato" exibido hoje à noite pela
HBO-, os temas estavam lá
desde o começo. Mas, o diretor,
não. Ele estava no Festival de
Veneza quando o furacão Katrina atingiu a principal cidade
do Estado de Louisiana.
Assistiu pela TV do seu quarto de hotel as imagens da cidade inundada, do estádio lotado
de gente, dos bairros mais pobres destruídos.
Dois meses depois, Lee chegou a Nova Orleans e começou
a fazer entrevistas. Os nervos
estavam todos expostos, grande parte da cidade estava em
ruínas, a população espalhada
pelos Estados vizinhos e quem
não havia ido embora estava vivendo em situações miseráveis.
Lee falou com gente famosa,
como Sean Penn -que, em um
impulso parecido com o do cineasta, havia voado para a cidade para ajudar no resgate das
pessoas- e o rapper Kanye
West, que, num momento de
ira, disse ao vivo nas principais
emissoras de TV que "o presidente George Bush não liga para os negros".
Lee falou também com muita
gente não-famosa, moradores
da cidade que tiveram suas vidas viradas de ponta-cabeça ou
parentes que voltaram para
procurar seus pais, tios, avós e
muitas vezes os encontraram,
mortos, em suas casas destruídas.
Entre muitas acusações, imagens comoventes e histórias
tristes, houve também espaço
para situações engraçadas, como a do garoto que falou duas
vezes ao vice-presidente Dick
Cheney "Vá se f****", durante
um discurso na cidade. "Achei
melhor falar de novo, só para
garantir que ele ouvisse o que
eu tinha a dizer", explica o garoto para o diretor.
No entanto, a estrela do documentário de quatro horas é
Phyllis Montana LeBlanc, 42,
moradora da cidade com carisma suficiente para ter seu próprio programa de TV. Ela parece uma criação do diretor, como se ele tivesse inventado a
personagem, escrito seus melhores monólogos e entregue o
papel à sua melhor atriz.
Em um de seus melhores
momentos, LeBlanc conta que,
quando foi abordada pelo cineasta para que fosse uma entre os cem entrevistados do documentário, tinha duas questões: "O que você vai fazer pelo
meu povo?" e "Posso falar palavrão? Senão, não quero".
QUANDO OS DIQUES SE ROMPERAM: UM RÉQUIEM EM QUATRO ATOS
Quando: hoje, às 22h (primeira parte)
e nos dias 10, 17 e 24/4
Onde: HBO
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