São Paulo, terça-feira, 03 de abril de 2007

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Spike Lee revê destruição do Katrina

Documentário "Quando os Diques se Romperam: Um Réquiem em Quatro Atos" tem primeira parte exibida hoje pela HBO

Dois meses depois de assistir ao desastre pela TV, diretor partiu para Nova Orleans a fim de entrevistar famosos e anônimos


TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM WASHINGTON

O cineasta norte-americano sempre é rápido em registrar o que acontece ao seu redor. No final de 2001, logo após os ataques de 11 de setembro, Spike Lee correu com as filmagens do roteiro em que estava trabalhando, "A Última Noite", para incluir na história o clima pós-atentado.
Em "Quando os Diques se Romperam: Um Réquiem em Quatro Atos" -o primeiro "ato" exibido hoje à noite pela HBO-, os temas estavam lá desde o começo. Mas, o diretor, não. Ele estava no Festival de Veneza quando o furacão Katrina atingiu a principal cidade do Estado de Louisiana.
Assistiu pela TV do seu quarto de hotel as imagens da cidade inundada, do estádio lotado de gente, dos bairros mais pobres destruídos. Dois meses depois, Lee chegou a Nova Orleans e começou a fazer entrevistas. Os nervos estavam todos expostos, grande parte da cidade estava em ruínas, a população espalhada pelos Estados vizinhos e quem não havia ido embora estava vivendo em situações miseráveis.
Lee falou com gente famosa, como Sean Penn -que, em um impulso parecido com o do cineasta, havia voado para a cidade para ajudar no resgate das pessoas- e o rapper Kanye West, que, num momento de ira, disse ao vivo nas principais emissoras de TV que "o presidente George Bush não liga para os negros".
Lee falou também com muita gente não-famosa, moradores da cidade que tiveram suas vidas viradas de ponta-cabeça ou parentes que voltaram para procurar seus pais, tios, avós e muitas vezes os encontraram, mortos, em suas casas destruídas.
Entre muitas acusações, imagens comoventes e histórias tristes, houve também espaço para situações engraçadas, como a do garoto que falou duas vezes ao vice-presidente Dick Cheney "Vá se f****", durante um discurso na cidade. "Achei melhor falar de novo, só para garantir que ele ouvisse o que eu tinha a dizer", explica o garoto para o diretor.
No entanto, a estrela do documentário de quatro horas é Phyllis Montana LeBlanc, 42, moradora da cidade com carisma suficiente para ter seu próprio programa de TV. Ela parece uma criação do diretor, como se ele tivesse inventado a personagem, escrito seus melhores monólogos e entregue o papel à sua melhor atriz.
Em um de seus melhores momentos, LeBlanc conta que, quando foi abordada pelo cineasta para que fosse uma entre os cem entrevistados do documentário, tinha duas questões: "O que você vai fazer pelo meu povo?" e "Posso falar palavrão? Senão, não quero".


QUANDO OS DIQUES SE ROMPERAM: UM RÉQUIEM EM QUATRO ATOS
Quando:
hoje, às 22h (primeira parte) e nos dias 10, 17 e 24/4
Onde: HBO


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