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FERNANDO BONASSI
Os especialistas
Os darwinistas duvidam que nós sejamos fortes o bastante para sobreviver e perseverar
OS ECONOMISTAS garantem
que têm planos muito bons.
Os cineastas já viram esses
filmes. Os analistas de sistema não
sabem se funcionam. Os esteticistas
asseguram que é uma beleza. Os
contadores informam que os números não batem. Os matemáticos dizem que o problema não é deles; e os
climatologistas, que é uma questão
de tempo para que seja de todos,
uma vez que os arqueólogos encontraram fósseis desse tipo em civilizações ultrapassadas.
Para os sanitaristas, é "aquela
água"; para os geneticistas, coisas
como essa nem deveriam ter nascido. Os darwinistas duvidam que sejamos fortes o bastante para sobrevivermos e perseverarmos, enquanto os criacionistas têm certeza de
que a culpa é de Deus. Deus deu
adeus aos crentes, descrentes ou
simplesmente está morto, posto que
os comunistas arrivistas tomaram
para si a divisão de todos; e os fascistas ecologistas defenderão até o fim
a manutenção do status quo...
Duvida-se até mesmo que os sexólogos possam gozar com estes momentos, já que os humoristas foram
contratados pelos governos patrocinados para contar as mesmas piadas
sem graça do estado de coisas.
Por essas e outras, os sociólogos
acham que a questão é mais geral, os
antropólogos têm certeza de que o
comportamento é cultural, enquanto os palhaços e malabaristas preferem ver o circo pegar fogo, já que os
promotores de injustiça e bombeiros blindados encontrarão panos
quentes para botar sobre as queimaduras e feridas dos dermatologistas
mais sensíveis.
Os neurologistas estão nervosos
com a lentidão dos geriatras e as loucuras químicas dos psiquiatras, preferindo se juntar aos psicanalistas e
outros massagistas do ego.
Os egoístas continuarão tomando
os outros como a si mesmos. Os semiólogos enólogos apelarão para os
signos obscuros dos astrólogos embriagados; e os estruturalistas se
apoiarão nos cálculos superfaturados dos empreiteiros engenheiros.
Os pecuaristas esclarecem que já
conhecem esse gado e deixarão os
rebanhos aos cuidados dos lobistas e
pastores educadores. Os pedagogos
e os demagogos serão confundidos
nas páginas dos livros ilustrados de
moral e cinismo. Os comentaristas
se confundirão com os assessores
para o usufruto da celebridade dos
doutores, jogadores, atores e políticos pornográficos. Os ginecologistas
avisarão sobre os riscos das doenças
imprevistas para que os roteiristas
de televisão embalem os seus melodramas de segunda.
Os humanistas do terceiro setor
nem saberão a quem ou a que apelar,
uma vez que os iluministas serão os
primeiros a sair para apagar a luz
desse espetáculo selvagem. Os estilistas apresentarão novas roupagens
para a nostalgia estilhaçada, como se
tivéssemos épocas melhores do que
essas porcarias, enquanto "brazilianistas" subsidiados opinarão sobre
os jeitinhos dados nisso tudo.
Os prejuízos só não serão maiores
porque os juristas fundamentalistas
advogarão em causa própria e, por
enquanto, são muito poucos os que
ousam tanto na esperteza para garantir seus direitos adquiridos por
experiência privada ou ignorância
pública.
Os astrofísicos estarão malhando
em academias de ciência quando esses mundos se chocarem irremediavelmente. Prontamente os estrategistas farão das táticas titicas de galinha, com um diletantismo detalhista que se perderá em meio a filigranas esquisitas e só mesmo os militaristas minimalistas serão capazes de
resolver a situação. A resposta dos
terroristas, pelo menos, será conhecida com exatidão...
Os cardiologistas vigaristas instalarão corações de plástico concebidos por artistas premiados, reservando os demais órgãos internos para laudos, concursos e leilões. Os leiloeiros serão pregados para não fugirem com o butim dos leiloados que
se sentirem acossados ou traídos. Os
proctologistas irritados com os rabos presos avisam que o buraco é
mais embaixo, mas os pedicuros e
calistas advertem que "nem tanto".
Os ortopedistas serão convocados
para reduzir as fraturas, colocar uns
grampos, amarrar uns arames e cobrir com gesso. Os oculistas haverão
de cobrar os olhos da cara que a terra
há de comer.
Os topógrafos toparão qualquer
negócio, já que conviverão com as
cabeças nas nuvens da tempestade.
Os armeiros de boa vontade continuarão a sinalizar o caminho com as
balas traçantes dos traficantes. Os
alfaiates marceneiros farão ternos e
sapatos envernizados sob medida,
mas as floriculturas cortarão o crediário: "Aqui se faz, aqui se paga",
apregoarão! Os coveiros não têm
opinião definitiva.
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