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João Sayad teme risco de extinção da Lei Rouanet
"Prefiro uma lei ruim a que ela não exista. Neste caso, o ótimo é inimigo do bom", afirma o secretário de Cultura do Estado de SP
Divisão dos interessados em relação ao tema abre flanco "à ambição de grupos muito mais poderosos, que lutam por subsídios", avalia gestor
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário de Cultura do
Estado de São Paulo, João Sayad, vê nas restrições feitas à
Lei Rouanet pelo Ministério da
Cultura, na semana passada,
um risco de extinção da lei, o
que seria, na opinião dele, um
erro.
"Devagar com o andor. Prefiro uma lei ruim a que ela não
exista. Neste caso, o ótimo é
inimigo do bom", diz Sayad.
A ofensiva do MinC contra a
Lei Rouanet foi deflagrada na
quinta passada, quando o secretário-executivo da pasta,
Juca Ferreira, co-assinou com
o ator e presidente da Funarte,
Celso Frateschi, o artigo "Incentivo ao Teatro?", na Folha.
No texto, dizem: "Com a Lei
Rouanet, os orçamentos públicos para a área de cultura escassearam, com exceção do federal e de raros casos estaduais
e municipais. A distorção chega
ao ponto de TVs públicas, orquestras sinfônicas, o Sistema
S e até a Funarte precisarem se
utilizar da Lei Rouanet".
Criada em 1991, a Lei Rouanet permite que a empresa destine parcela de seu Imposto de
Renda devido ao financiamento de projetos culturais previamente aprovados pelo MinC.
Sayad diz que "toda política
pública, cujo alvo é atingir o extremo -o pobre, o carente-,
tem um desvio, porque vai contra uma força natural, que é o
mercado". O "desvio" é o benefício a quem não precisa.
No caso da Lei Rouanet, diz o
secretário, "produções comerciais acabam tirando uma casquinha. A questão é o tamanho
da casquinha e como fazer a alteração sem jogar a criança fora com a água do banho".
Em entrevista à Folha após a
publicação de seu artigo, Ferreira disse haver "um desenho"
em discussão no governo para
solucionar a questão.
Fundo
O MinC propõe como alternativa à Lei Rouanet a aprovação de um fundo não-contingenciável (alheio a eventuais
bloqueios do Ministério da Fazenda), sob sua administração.
O fundo deveria ter ao menos
R$ 1 bilhão, total movimentado
pela Lei Rouanet em 2007.
Produtores culturais reagiram ao artigo de Ferreira e Frateschi, chegando a apontar "desonestidade intelectual" em
seus argumentos.
"O mundo cultural tem os financiadores [empresas], o governo e os artistas. A discussão
que está se dando entre esses
três grupos é muito enfraquecedora da questão do subsídio à
cultura. Existem outros setores
subsidiados e existem as autoridades econômicas, muito
mais poderosos política e legalmente do que esses três grupos
de gatos pingados", diz Sayad.
Para o secretário paulista, "os
grupos culturais deveriam se
acertar internamente, antes de
se expor à ambição de grupos
muito mais poderosos, que
também lutam por subsídios",
sob o risco de "o vencedor [do
debate] não ser nenhum dos
segmentos que estão disputando esse montante de subsídio,
mas sim as autoridades econômicas, sempre ocupadas com
orçamento, ou outros procuradores de subsídio".
Embora classifique como
"uma estratégia arriscada" do
MinC o artigo de Ferreira e
Frateschi, Sayad se diz "admirador" do ministro Gilberto Gil.
"[Ele] Tem lá os problemas
administrativos, mas, em termos de imagem política para a
cultura no Brasil e no exterior,
simpatia pessoal e boas intenções, Gilberto Gil é campeão".
Questionado sobre quem,
numa eventual presidência do
PSDB em substituição a Lula,
deveria assumir o lugar do tropicalista Gil no Ministério da
Cultura, Sayad graceja: "Outro
tropicalista. Caetano é tucano?
Ele nunca disse".
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