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CAMELÔS DA FAMA
Empresa usa isca da "inscrição grátis" para "Casa dos Artistas 3" como forma de aumentar seu "casting"
Produtor propõe virar empresário de fã
DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem se identificar, a reportagem
da Folha visitou as duas empresas
que se oferecem para fazer inscrições de candidatos anônimos para "Casa dos Artistas 3".
Na Vitrine Produções, o repórter foi atendido por Neusa Nascimento, dona da empresa, que cobra R$ 50 pela produção de uma
fita de quatro minutos e duas fotos e envio do material ao SBT.
A empresa fica em uma rua movimentada do Imirim (zona norte
de São Paulo), em uma casa sem
placa que a identifique. Lá dentro,
há duas salas. Na tela de um computador, o logotipo de "Big Brother Brasil", da Globo.
Neusa Nascimento explicou
que não se tratava de seleção, mas
de "assessoria". Ela indicou o nome de artistas "cotadíssimas" para a "Casa": Gigi Monteiro e Patrícia de Sabrit (atrizes), Thammy
(filha de Gretchen), Renata Banhara (modelo), Lady Lu e Beth
Guzzo (cantoras).
Nascimento sugeriu que o repórter optasse por Beth Guzzo.
"Estou sabendo que a Beth está
supercotada. Ela já é da casa
[SBT], é filha daquele ator que fazia a Vovó Mafalda [Valentino
Guzzo, já morto"", justificou.
O repórter disse então que nem
sabia quem era Beth Guzzo. "Você tem internet? Em meia hora você fica sabendo tudo sobre ela."
A gravação foi feita com uma
microcâmera. O cinegrafista disse
que a fita era nova, mas teve de rebobiná-la. A dona da produtora
disse que já tinha feito cerca de
cem inscrições, pelo correio.
Nascimento defende seu trabalho como "limpo e honesto". "Os
R$ 50 são pelo trabalho que a gente faz", disse, enumerando até
gastos com energia elétrica. "O
que ganhei não foi muita coisa."
Ela diz que tem "contatos no
SBT", entre eles Fernando Rancoleta, diretor de elenco. "Quem eu
enviei [para o SBT] vai ter muito
mais chances. [Pela internet] eles
vão pegar aleatoriamente."
Sobre a indicação de artistas que
supostamente irão participar do
programa, também tem uma resposta. "A gente faz a coisa para
ajudar. Se você dissesse que é fã da
Xuxa, não teria chance."
Na terça, Nascimento telefonou
para a Folha para dizer que parou
de fazer "inscrições" e gravações
em vídeo e que vai "reinscrever"
seus clientes pela internet.
Casting
A Irys-CT Produtora de Casting
funciona em uma sala no terceiro
andar de um prédio pequeno e
sem elevador, em Santana.
Na ante-sala, seis moças e um
rapaz preenchiam uma ficha com
uma fotocópia do logotipo da
"Casa dos Artistas". Era preciso
anexar uma foto. "Pode ser uma
foto qualquer. É para meu arquivo", disse Marco Aurélio Gengo,
responsável pela agência.
Em seguida, ele chamou os participantes para sua sala. Com ares
de quem tem familiaridade com o
SBT -falava frases como: "Estou
sabendo que neste domingo o Silvio [Santos] vai fazer uma reviravolta no programa"-, explicou,
então, que não iria fazer a inscrição, apenas "orientar".
Na sala, um cartaz escrito à mão
trazia o endereço do SBT e o nome de Fernando Rancoleta (grafado como "Rancoletto"). Dizendo-se amigo do diretor, Gengo
parecia contar com informações
privilegiadas. "É para ele que vocês vão enviar a inscrição. Mas
mandem até sexta [hoje], porque
eles estão fechando o elenco."
Gengo se oferecia para fazer o
vídeo, pelo valor de R$ 15, contanto que o candidato levasse fita e
filme fotográfico. "O principal é
escolher alguém com chances de
ir para a "Casa". Mas não adianta
colocar o Aguinaldo Timóteo
porque já é muito visado. Só que
também não é para escolher globais ou sertanejos de sucesso,
porque eles não vão."
Um ótimo nome, para o produtor, seria o do ex-polegar Rafael
Ilha. "Tem que ser gente que está
fora da mídia. [Os cantores" Débora Blando, Salgadinho..."
Gengo pedia ainda, um compromisso dos candidatos: "Se vocês forem selecionados, vou ser o empresário. Quero 20% do que
vocês faturarem. É preciso aproveitar a fama, então eu quero cuidar disso para vocês", dizia.
Mais tarde, para a reportagem
da Folha, Gengo afirmou que o
anúncio no jornal -que, segundo ele, atraiu cerca de 45 pessoas- era apenas para levar gente para sua produtora.
"As pessoas deixam seus dados
e eu posso entrar em contato se
precisar de gente para trabalhos",
explicou. "Eu quero ajudar as pessoas a irem para a "Casa", acho que
o SBT pode aceitar as fitas. Mas o
mais importante é que eu atraio
gente para a agência."
(DANIEL CASTRO E CLÁUDIA CROITOR)
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