São Paulo, sábado, 03 de maio de 2008

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Cassandra reforça laço com Nova Orleans

Uma das mais criativas intérpretes do jazz, cantora faz show descontraído no festival da cidade americana

CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA ORLEANS

Pés descalços, um descontraído vestido vermelho e um grande sorriso. A cantora Cassandra Wilson não precisou dizer nada à platéia que enfrentou chuva torrencial, áreas alagadas e muita lama para vê-la no último domingo, durante o primeiro fim de semana do Festival de Jazz de Nova Orleans. Era evidente que ela estava se sentindo em casa.
Horas antes, em entrevista ao ar livre acompanhada por centenas de fãs, Cassandra -talvez a mais criativa intérprete na cena do jazz vocal- revelou detalhes de seu próximo CD, que o selo Blue Note vai lançar em junho.
Além de ser seu primeiro álbum com repertório focado em "standards" desde o primoroso "Blue Skies" (1988), "Loverly" vai contar com participações de dois talentosos músicos de Nova Orleans: o trompetista Nicholas Payton e o baterista Herlin Ryley.
"É como cantar no céu. É a melhor banda que já tive", disse Cassandra, provocando risos na platéia ao contar que, nas gravações, discutiu bastante com seus parceiros. "Sempre digo a eles que Jackson [cidade do vizinho Estado de Mississippi, onde nasceu] é tão urbana quanto Nova Orleans."
A simpatia pela capital cultural da Louisiana é antiga. Antes de se radicar em NY, no início dos anos 80, Cassandra morou por um ano em Nova Orleans, onde seu marido era DJ. Por isso, relembrou, a tragédia deflagrada pelo furacão Katrina, em 2005, deixou-a "muito triste". "Foi devastador. Nem conseguia assistir à TV", disse, observando que os efeitos da inundação continuam presentes.
Ela disse ainda que a tragédia alterou seus critérios para escolher repertório. "Depois do Katrina, basta que uma canção fale de coisas simples, como amor ou comida, para que eu me interesse. Fiquei motivada a preservar minha herança cultural, que está se perdendo." Mais solta no palco do que de costume, Cassandra exibiu no festival uma prévia do novo álbum. "Caravan", o clássico da orquestra de Duke Ellington, surgiu em versão bem livre, recheada por longos improvisos de seu quarteto.
Entre os "standards" do jazz e da canção norte-americana que farão parte do álbum "Loverly", também estarão "St. James Infirmary", "Gone with the Wind" e "Wouldn't Be Loverly", a balada "The Very Thought of You" e o blues "Dust My Broom", obra-prima de Robert Johnson.
"Acreditamos na arte da improvisação. Por isso, cada vez que tocamos uma música ela tem que sair um pouco diferente", afirmou, comentando o processo de gravação. "Para que a música soe bem, todos na banda precisam estar contentes com suas contribuições."


O jornalista CARLOS CALADO viajou a convite do New Orleans Metropolitan Convention & Visitors Bureau e do Bourbon Street Music Club


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