|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cassandra reforça laço com Nova Orleans
Uma das mais criativas intérpretes do jazz, cantora faz show descontraído no festival da cidade americana
CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A NOVA ORLEANS
Pés descalços, um descontraído vestido vermelho e um
grande sorriso. A cantora Cassandra Wilson não precisou dizer nada à platéia que enfrentou chuva torrencial, áreas alagadas e muita lama para vê-la
no último domingo, durante o
primeiro fim de semana do
Festival de Jazz de Nova Orleans. Era evidente que ela estava se sentindo em casa.
Horas antes, em entrevista
ao ar livre acompanhada por
centenas de fãs, Cassandra
-talvez a mais criativa intérprete na cena do jazz vocal- revelou detalhes de seu próximo
CD, que o selo Blue Note vai
lançar em junho.
Além de ser seu primeiro álbum com repertório focado em
"standards" desde o primoroso
"Blue Skies" (1988), "Loverly"
vai contar com participações de
dois talentosos músicos de Nova Orleans: o trompetista Nicholas Payton e o baterista
Herlin Ryley.
"É como cantar no céu. É a
melhor banda que já tive", disse
Cassandra, provocando risos
na platéia ao contar que, nas
gravações, discutiu bastante
com seus parceiros. "Sempre
digo a eles que Jackson [cidade
do vizinho Estado de Mississippi, onde nasceu] é tão urbana
quanto Nova Orleans."
A simpatia pela capital cultural da Louisiana é antiga. Antes
de se radicar em NY, no início
dos anos 80, Cassandra morou
por um ano em Nova Orleans,
onde seu marido era DJ. Por isso, relembrou, a tragédia deflagrada pelo furacão Katrina, em
2005, deixou-a "muito triste".
"Foi devastador. Nem conseguia assistir à TV", disse, observando que os efeitos da inundação continuam presentes.
Ela disse ainda que a tragédia
alterou seus critérios para escolher repertório. "Depois do
Katrina, basta que uma canção
fale de coisas simples, como
amor ou comida, para que eu
me interesse. Fiquei motivada
a preservar minha herança cultural, que está se perdendo."
Mais solta no palco do que de
costume, Cassandra exibiu no
festival uma prévia do novo álbum. "Caravan", o clássico da
orquestra de Duke Ellington,
surgiu em versão bem livre, recheada por longos improvisos
de seu quarteto.
Entre os "standards" do jazz
e da canção norte-americana
que farão parte do álbum "Loverly", também estarão "St. James Infirmary", "Gone with
the Wind" e "Wouldn't Be Loverly", a balada "The Very
Thought of You" e o blues
"Dust My Broom", obra-prima
de Robert Johnson.
"Acreditamos na arte da improvisação. Por isso, cada vez
que tocamos uma música ela
tem que sair um pouco diferente", afirmou, comentando o
processo de gravação. "Para
que a música soe bem, todos na
banda precisam estar contentes com suas contribuições."
O jornalista CARLOS CALADO viajou a convite
do New Orleans Metropolitan Convention & Visitors Bureau e do Bourbon Street Music Club
Texto Anterior: Carneiro não fala de acusação de plagiar cineasta Próximo Texto: Saiba mais: Katrina abalou até o Festival de Jazz da cidade Índice
|