São Paulo, sexta-feira, 03 de junho de 2005

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MÚSICA

Protagonista de "Assassinos por Natureza", Juliette Lewis segue carreira musical

Com Juliette & The Licks, atriz faz turnê em festivais europeus

ALEXIA LOUNDRAS
DO "INDEPENDENT"

Da curiosidade pop conhecida como David Hasselhoff à incansável e péssima banda grunge Dog Star, de Keanu Reeves, há uma longa lista de péssimos atores transformados em músicos. "Afinal, quantos atores você conhece capazes de fazer boa música?", pergunta Todd Morse, guitarrista da banda Juliette & The Licks. Com um brilho malicioso nos olhos, ele sugere que a vocalista de sua banda, Juliette Lewis, conhecida atriz de Hollywood, é diferente. "Ela é um cara como nós."
Depois de uma carreira de 18 anos no cinema, a atriz indicada para o Oscar e famosa por seu papel em "Assassinos por Natureza", de Oliver Stone, reencarnou na forma de cantora de rock cheia de atitude. E vem conquistando os céticos com seu pop punk.
Deusa do rock com atitude é um papel que Lewis, 31, nasceu para interpretar. No palco, ela é uma líder cativante. E hoje, igualmente, vestindo jeans manchados de tinta e botas verde maçã de salto agulha, ela parece incorporar o papel. Lewis exala uma sexualidade desordeira. Mas trocando piadas com seus "irmãos de banda" Lewis não exibe traço de estrelismo. Posando para fotos, atende com paciência aos pedidos do fotógrafo, incluindo o de tirar o boné. "Você está brincando? Não lavei os cabelos!", diz, antes de expor as madeixas oleosas.
A noite anterior havia marcado o final de uma turnê de um mês que a banda conduziu por clubes de segunda categoria em toda a Europa, para divulgar o trabalho do The Licks. Uma missão difícil e nada glamourosa. Os membros da banda estão esgotados, mas o entusiasmo deles é profundo. Até mesmo Lewis, que arca com a maioria das tarefas de promoção, se mantém relaxada, amistosa e agradavelmente normal.
"Sempre quis fazer algo assim. É uma coisa que eu deveria ter feito a vida toda, mas não tinha a visão necessária", sorri. "Ou o culhão."
Na adolescência, seus ídolos variavam de Janis Joplin a Grace Jones, de Blondie a Pattie Smith. Na casa dos 20 anos, entre um filme e outro, ela fazia shows cantando o repertório de Billie Holliday, em clubes enfumaçados. Depois, uma amiga a colocou em contato com Pink e com Linda Perry, compositora de sucessos infalíveis na voz de Christina Aguilera. Perry e Lewis compuseram três canções juntas, duas das quais fazem parte do miniálbum do The Licks, "...Like a Bolt of Lightning". A despeito da colaboração curta, Perry, que no passado era parte do 4 Non Blondes, teve impacto considerável sobre a parceira. "Ela me ensinou como brincar com as palavras, como escapar da camisa-de-força do canto correto e não ter medo de exibir minha voz como se fosse única."
O conselho de Perry é reconhecível em "You're Speaking My Language", o primeiro álbum de Juliette & The Licks. A voz de Lewis -seja feroz e roufenha, seja dolorosa e sedutora- é expressiva, crua e apaixonada. "Não faço música para parecer cool. Não quero ser niilista e ignorar tudo que me cerca. Faço isso para inspirar as pessoas."
Lewis irradia auto-estima, mas nem sempre viveu assim. Aos 22 anos, era viciada em drogas. Com a ajuda de um programa de reabilitação, abandonou o vício e retornou à cientologia, religião na qual foi criada. A cantora defende a vida saudável, ainda que admita que isso "seja o oposto do rock".
"Não estamos querendo ser o Pink Floyd. Somos uma banda de rock divertida. No palco, me sinto uma espécie de super-herói."
Ainda que continue trabalhando como atriz (fará um filme no terceiro trimestre), ela está segura de sua opção pela música. "Se eu tivesse de escolher entre ser atriz ou a música, não hesitaria em escolher a música. Com a música, consigo ser 100% eu mesma".


Tradução Paulo Migliacci

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