São Paulo, Quinta-feira, 03 de Junho de 1999
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CRÍTICA
Tudo está dito em "Domingo Feliz"

da Reportagem Local

Trata-se de um projeto assistencial. Márcio Antonucci -que, quando casou com Lilian "eu sou rebelde porque o mundo quis assim", teve Chacrinha como padrinho- reuniu uma pá de colegas desempregados e regravou, com pretensões de xerox colorido -melhorado-, os hits de inferninho dos anos 70.
Trata-se, então, de um projeto auto-assistencial. A Universal, empreendedora do alto investimento, sabe que todo mundo sente falta dos hits de inferninho dos 70. E que o caixote vai vender como água, enquanto as versões originais, bem mais autênticas, continuarão perdidas. Na enxurrada, Antonucci diz que várias carreiras serão reerguidas. É ver para crer.
Deixado isso de lado, há muita diversão em "A Discoteca do Chacrinha" -o alvo, agora, é a pequena burguesia sedenta de diversão às custas de Jane & Herondy, Fernando Mendes, Lilian, Genival "ele está de olho na butique dela" Lacerda e outros merecedores de um pouquinho mais de respeito.
Outras ocultações saem daí. Paulo Diniz vê-se perdido num oceano habitado por peixes estranhos como Waldick "eu não sou cachorro, não" Soriano, Perla "pequenina", Agnaldo "sorria, meu bem, sorria" Timóteo, Amado "no hospital, na sala de cirurgia" Batista, Cláudia Barroso, Ricardo Braga, Joelma, Peninha, Nalva Aguiar, Núbia Lafayette, Luiz Américo, Bebeto...
Mas Diniz, além de ter um vozeirão daqueles, é nome semi-esquecido do altíssimo panteão do soul nacional. Merecia ser tratado com maior respeito. É o caso, também, em menor escala, de Fábio "Stella" e Gilson "casinha branca", participantes tímidos do movimento.
O projeto é mais cara-de-pau quando parte para soluções improvisadas -ou cafajestes. A branquela Cláudia Telles desvirtua o "black power" de Lady Zu em "A Noite Vai Chegar", e Odair José, subserviente, encara "Mon Amour Meu Bem Ma Femme" só porque Reginaldo Rossi virou superstar e não está nem aí. Melhor ouvi-lo cantando a horripilante "Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula)".
Essa tal banda de forró Capital do Sol deve ser objeto de investimento da gravadora, pois vem vulgarizar "Frevo Mulher" (de Zé Ramalho, o que isso está fazendo aqui?) e "Procurando Tu".
Mais ou menos isso faz o palhaço Sérgio Malandro, cantando as impagáveis "Bilu Tetéia" e "Farofa-Fá", do defunto Mauro Celso. O próprio se apressa em contar que nunca foi ao Chacrinha.
Poderia dizer o mesmo de Gretchen. Mas, OK, seu pot-pourri de bunda não podia ficar de fora. Com Magal, forma o duo de regravações nota dez -bem produzidos, eles dão um caldo ainda.
No mais, o terreno é do mais alto nonsense. Brilham os diamantes falsos: "Lágrimas nos Olhos" (José Roberto, marido de Chacrete, cantando Raul Seixas quando ainda era Raulzito), "Ainda Queima a Esperança" (Diana), "Secretária da Beira do Cais" (César Sampaio), "A Véia Debaixo da Cama" (Geraldo Nunes), "Manhãs de Setembro" (Vanusa). Tétricas, maravilhosas.
Ah, o melhor de tudo: você se lembra do Ângelo Máximo? Pois é. Mais para Silvio Santos (e apagadinho na ofensiva de divulgação da gravadora), ele cantava "Domingo Feliz". Mas "ah, ah, ah, hoje é meu dia/ eu vou ter, ter, ter o seu amor/ para ser, ser, ser feliz ao seu lado/ aaaaaah, que dia feliz!" é a síntese de tudo que está sendo dito. Do balacobaco. (PAS)


Avaliação:


Coleção: A Discoteca do Chacrinha (6 CDs)

Lançamento: Universal Quanto: R$ 80 a R$ 90 (a caixa), ou R$ 18, em média, cada CD avulso



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