|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Tudo está dito em "Domingo Feliz"
da Reportagem Local
Trata-se de um projeto assistencial. Márcio Antonucci -que,
quando casou com Lilian "eu sou
rebelde porque o mundo quis assim", teve Chacrinha como padrinho- reuniu uma pá de colegas
desempregados e regravou, com
pretensões de xerox colorido
-melhorado-, os hits de inferninho dos anos 70.
Trata-se, então, de um projeto
auto-assistencial. A Universal, empreendedora do alto investimento,
sabe que todo mundo sente falta
dos hits de inferninho dos 70. E
que o caixote vai vender como
água, enquanto as versões originais, bem mais autênticas, continuarão perdidas. Na enxurrada,
Antonucci diz que várias carreiras
serão reerguidas. É ver para crer.
Deixado isso de lado, há muita
diversão em "A Discoteca do Chacrinha" -o alvo, agora, é a pequena burguesia sedenta de diversão
às custas de Jane & Herondy, Fernando Mendes, Lilian, Genival "ele
está de olho na butique dela" Lacerda e outros merecedores de um
pouquinho mais de respeito.
Outras ocultações saem daí. Paulo Diniz vê-se perdido num oceano
habitado por peixes estranhos como Waldick "eu não sou cachorro,
não" Soriano, Perla "pequenina",
Agnaldo "sorria, meu bem, sorria"
Timóteo, Amado "no hospital, na
sala de cirurgia" Batista, Cláudia
Barroso, Ricardo Braga, Joelma,
Peninha, Nalva Aguiar, Núbia Lafayette, Luiz Américo, Bebeto...
Mas Diniz, além de ter um vozeirão daqueles, é nome semi-esquecido do altíssimo panteão do soul
nacional. Merecia ser tratado com
maior respeito. É o caso, também,
em menor escala, de Fábio "Stella"
e Gilson "casinha branca", participantes tímidos do movimento.
O projeto é mais cara-de-pau
quando parte para soluções improvisadas -ou cafajestes. A
branquela Cláudia Telles desvirtua
o "black power" de Lady Zu em "A
Noite Vai Chegar", e Odair José,
subserviente, encara "Mon Amour
Meu Bem Ma Femme" só porque
Reginaldo Rossi virou superstar e
não está nem aí. Melhor ouvi-lo
cantando a horripilante "Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula)".
Essa tal banda de forró Capital do
Sol deve ser objeto de investimento
da gravadora, pois vem vulgarizar
"Frevo Mulher" (de Zé Ramalho, o
que isso está fazendo aqui?) e "Procurando Tu".
Mais ou menos isso faz o palhaço
Sérgio Malandro, cantando as impagáveis "Bilu Tetéia" e "Farofa-Fá", do defunto Mauro Celso. O
próprio se apressa em contar que
nunca foi ao Chacrinha.
Poderia dizer o mesmo de Gretchen. Mas, OK, seu pot-pourri de
bunda não podia ficar de fora.
Com Magal, forma o duo de regravações nota dez -bem produzidos, eles dão um caldo ainda.
No mais, o terreno é do mais alto
nonsense. Brilham os diamantes
falsos: "Lágrimas nos Olhos" (José
Roberto, marido de Chacrete, cantando Raul Seixas quando ainda
era Raulzito), "Ainda Queima a Esperança" (Diana), "Secretária da
Beira do Cais" (César Sampaio),
"A Véia Debaixo da Cama" (Geraldo Nunes), "Manhãs de Setembro"
(Vanusa). Tétricas, maravilhosas.
Ah, o melhor de tudo: você se
lembra do Ângelo Máximo? Pois é.
Mais para Silvio Santos (e apagadinho na ofensiva de divulgação da
gravadora), ele cantava "Domingo
Feliz". Mas "ah, ah, ah, hoje é meu
dia/ eu vou ter, ter, ter o seu amor/
para ser, ser, ser feliz ao seu lado/
aaaaaah, que dia feliz!" é a síntese
de tudo que está sendo dito. Do balacobaco.
(PAS)
Avaliação:
Coleção: A Discoteca do Chacrinha (6 CDs)
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 80 a R$ 90 (a caixa), ou R$ 18,
em média, cada CD avulso
Texto Anterior: A discoteca do Chacrinha Próximo Texto: Descobrimento: Brasil 500 Anos vai expor carta de Caminha Índice
|