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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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TEATRO

Montagem de texto do veneziano Carlo Goldoni, calcada em pesquisa teórica e prática, é dirigida por Luiz Arthur Nunes

"Arlequim" equilibra tradicional e moderno

PEDRO IVO DUBRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Não exatamente arqueológica, mas calcada, embebida em pesquisa, fundeada numa "modernidade escorada na tradição". É essa a proposta da montagem de "Arlequim, Servidor de Dois Patrões", do diretor gaúcho Luiz Arthur Nunes, que inicia temporada no Teatro das Artes.
No texto de Goldoni (1707-93), de 1745, um atrapalhado e esfomeado Arlequim tenta atabalhoadamente prestar serviços a dois amos ao mesmo tempo: Beatriz Rasponi, em disfarce masculino, e Florindo Aretusi, que são apaixonados e desconhecem o fato de estarem hospedados no mesmo hotel resolvendo negócios em Veneza, secretamente. As peças do autor foram importantes para fixar e renovar a então decadente commedia dell'arte, gênero cheio de máscaras, tramas enredadas, cenas curtas e improvisos.
Camila Pitanga e Marcos Breda interpretam, respectivamente, Rasponi e Arlequim. Também são responsáveis pela produção do espetáculo, ao lado de Maria Helena Alvarez.
"A teatralidade, o jogo incessante, a "extravaganza" de pura magia cênica são os aspectos que mais me fascinam. Há uma estrutura coral, é como orquestrar uma sinfonia composta de vários temas", afirma Nunes, 56. "Podemos até falar num conteúdo "social" implícito na capacidade "arlequinesca" da sobrevivência do excluído. Arlequim é levado à burla, à trapaça e ao jogo para se safar e se dar bem e termina experimentando um prazer lúdico e um certo orgulho pelas suas falcatruas cada vez mais complicadas, como se fossem um desafio a ser vencido."
Uma pesquisa que consumiu o primeiro dos três meses de ensaios caracterizou o trabalho. A dramaturga Beti Rabetti aportou fundamentos teóricos. A atriz Tiche Vianna ministrou oficinas práticas. O professor da Universidade de Torino Roberto Tessari e o ator Ferruccio Soleri (o Arlequim do Piccolo Teatro di Milano desde 63) foram requisitados.
"Julguei absolutamente necessária essa preparação, por estarmos lidando com uma tradição teatral complexa e distante de nós. Não para uma reprodução museológica, mas para podermos lhe captar o espírito e descobrirmos as suas riquezas todas", diz Luiz Arthur Nunes, cujo segundo espetáculo da carreira, em 69, em Porto Alegre, partiu do goldoniano "Mirandolina".
O cenário, de Rosa Magalhães, e a trilha sonora, de João Carlos Assis Brasil, lidam com a mistura entre o antigo e o atual. "Nos figurinos [de Coca Serpa], fui mais "fiel", mais conservador", afirma o diretor. Traduzido por Millôr Fernandes, o texto foi enxugado por Rabetti e Nunes, perdendo um ato.
Além de "Arlequim", ele já tem uma direção em cartaz na cidade: "A Terra Prometida", de Samir Yazbek. No Rio, estreou "Friziléia". Em setembro, estréiam em São Paulo "Teresa d'Ávila, a Santa Descalça" e "Que Mistérios Tem Clarice". Acalenta ainda a montagem da shakespeariana "Noite de Reis", com um elenco inteiramente masculino que deve ter Marco Antonio Pâmio, Caco Ciocler e Luiz Damasceno.


ARLEQUIM, SERVIDOR DE DOIS PATRÕES. Texto: Carlo Goldoni. Direção: Luiz Arthur Nunes. Com: Marcos Breda, Camila Pitanga, Angel Palomero, Mario Borges, Leonardo Netto, Carolyna Aguiar, Fernando Vieira, Marcos Ácher, Carol Machado e Ana Paula Bouzas. Onde: Teatro das Artes (shopping Eldorado, av. Rebouças, 3.970, SP, tel. 0/ xx/11/ 3034-0075). Quando: estréia amanhã, às 21h; de qui. a sáb., às 21h, e dom., às 18h. Até 31/8. 80 min. Quanto: de R$ 25 a R$ 50. Patrocinador: Alcoa.


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