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TEATRO
Montagem de texto do veneziano Carlo Goldoni, calcada em pesquisa teórica e prática, é dirigida por Luiz Arthur Nunes
"Arlequim" equilibra tradicional e moderno
PEDRO IVO DUBRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Não exatamente arqueológica,
mas calcada, embebida em pesquisa, fundeada numa "modernidade escorada na tradição". É essa
a proposta da montagem de "Arlequim, Servidor de Dois Patrões", do diretor gaúcho Luiz Arthur Nunes, que inicia temporada
no Teatro das Artes.
No texto de Goldoni (1707-93),
de 1745, um atrapalhado e esfomeado Arlequim tenta atabalhoadamente prestar serviços a dois amos ao mesmo tempo: Beatriz
Rasponi, em disfarce masculino, e
Florindo Aretusi, que são apaixonados e desconhecem o fato de estarem hospedados no mesmo hotel resolvendo negócios em Veneza, secretamente. As peças do autor foram importantes para fixar e renovar a então decadente commedia dell'arte, gênero cheio de máscaras, tramas enredadas, cenas curtas e improvisos.
Camila Pitanga e Marcos Breda interpretam, respectivamente,
Rasponi e Arlequim. Também são responsáveis pela produção
do espetáculo, ao lado de Maria Helena Alvarez.
"A teatralidade, o jogo incessante, a "extravaganza" de pura magia
cênica são os aspectos que mais
me fascinam. Há uma estrutura
coral, é como orquestrar uma sinfonia composta de vários temas",
afirma Nunes, 56. "Podemos até
falar num conteúdo "social" implícito na capacidade "arlequinesca"
da sobrevivência do excluído. Arlequim é levado à burla, à trapaça
e ao jogo para se safar e se dar bem
e termina experimentando um
prazer lúdico e um certo orgulho
pelas suas falcatruas cada vez
mais complicadas, como se fossem um desafio a ser vencido."
Uma pesquisa que consumiu o
primeiro dos três meses de ensaios caracterizou o trabalho. A
dramaturga Beti Rabetti aportou
fundamentos teóricos. A atriz Tiche Vianna ministrou oficinas
práticas. O professor da Universidade de Torino Roberto Tessari e
o ator Ferruccio Soleri (o Arlequim do Piccolo Teatro di Milano
desde 63) foram requisitados.
"Julguei absolutamente necessária essa preparação, por estarmos lidando com uma tradição teatral complexa e distante de
nós. Não para uma reprodução
museológica, mas para podermos
lhe captar o espírito e descobrirmos as suas riquezas todas", diz
Luiz Arthur Nunes, cujo segundo
espetáculo da carreira, em 69, em
Porto Alegre, partiu do goldoniano "Mirandolina".
O cenário, de Rosa Magalhães, e
a trilha sonora, de João Carlos Assis Brasil, lidam com a mistura entre o antigo e o atual. "Nos figurinos [de Coca Serpa], fui mais "fiel",
mais conservador", afirma o diretor. Traduzido por Millôr Fernandes, o texto foi enxugado por Rabetti e Nunes, perdendo um ato.
Além de "Arlequim", ele já tem
uma direção em cartaz na cidade:
"A Terra Prometida", de Samir
Yazbek. No Rio, estreou "Friziléia". Em setembro, estréiam em
São Paulo "Teresa d'Ávila, a Santa
Descalça" e "Que Mistérios Tem
Clarice". Acalenta ainda a montagem da shakespeariana "Noite de
Reis", com um elenco inteiramente masculino que deve ter
Marco Antonio Pâmio, Caco Ciocler e Luiz Damasceno.
ARLEQUIM, SERVIDOR DE DOIS
PATRÕES. Texto: Carlo Goldoni. Direção:
Luiz Arthur Nunes. Com: Marcos Breda,
Camila Pitanga, Angel Palomero, Mario
Borges, Leonardo Netto, Carolyna
Aguiar, Fernando Vieira, Marcos Ácher,
Carol Machado e Ana Paula Bouzas.
Onde: Teatro das Artes (shopping
Eldorado, av. Rebouças, 3.970, SP, tel. 0/
xx/11/ 3034-0075). Quando: estréia
amanhã, às 21h; de qui. a sáb., às 21h, e
dom., às 18h. Até 31/8. 80 min. Quanto:
de R$ 25 a R$ 50. Patrocinador: Alcoa.
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