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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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DANÇA

Companhia homenageia o escritor paraibano e mergulha na literatura de cordel e nas músicas do Quinteto Armorial

Stagium embarca no Nordeste de Ariano Suassuna

KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO

Soa a fanhosa rabeca. Cangaceiro, diabo e Nossa Senhora estão a postos no centro do palco e encaram a platéia com olhos esbugalhados. É a primeira cena de "Stagium Dança o Movimento Armorial", coreografia que a dupla Décio Otero e Márika Gidali, fundadores do Ballet Stagium, dedicam a Ariano Suassuna. O espetáculo estréia hoje no Teatro Municipal.
Suassuna é o "pai" do Movimento Armorial, criado no meio universitário em 1970, em Recife (PE). Com a colaboração de outros artistas do Nordeste, o escritor pretendia valorizar criações populares, como a literatura de cordel, a música de viola, xilogravuras, e influenciar a arte erudita a partir dessas manifestações.
Armorialistas de carteirinha, Otero e Gidali montaram a companhia apenas um ano após a criação do movimento e, desde então, trabalham com o mesmo objetivo. "O repertório do Stagium é totalmente imbuído de brasilidade", diz Gidali. Exemplos: "Kuarup ou a Questão do Índio" (1977), "Coisas do Brasil" (1979), "Uirapuru" (1983) e "Pantanal" (1986) são alguns clássicos do grupo.
Na nova coreografia, embalados pelo ritmo cadente das violas, os bailarinos misturam o gestual que advém de ritmos nordestinos, como o xaxado e o coco, com as movimentações da técnica de dança contemporânea. "Nossa intenção não é mostrar um balé folclorizado", ressalta Otero.
Tanto que o figurino básico do espetáculo, desenhado por Márcio Tadeu, é composto por túnicas bem simples, para as mulheres, e calças soltas, para os homens, em tons que vão do amarelo ao roxo. Na segunda parte da obra, são utilizadas máscaras feitas à moda do artesão Mestre Vitalino (1909-63).
"Eu tinha o projeto de fazer uma coreografia como essa há muitos anos, mas não poderia fazer isso sem antes pesquisar bastante", diz Otero, que contou com a ajuda de Gidali para mergulhar no universo das artes populares do Nordeste, principalmente na literatura de cordel e nas músicas do Quinteto Armorial, por cerca de um ano.
"Nós somos amigos filosóficos de Suassuna", diz Gidali, que admira a determinação com que o artista paraibano defende a cultura popular brasileira.
Pesquisada por Otero, a trilha do espetáculo compõe mixagens de músicas de Antonio Nóbrega, Luiz Gonzaga, Capiba, Antonio José Madureira e Villa-Lobos - vale destaque o solo de Roberta Botta em versão de "Bachianas Brasileiras nš 5".
"No que se refere à dança, sempre achei que o caso do Brasil é semelhante ao da Espanha, ou, talvez mais ainda, ao da Rússia, onde ao lado da tradição importada do balé "erudito" existe a tradição de uma dança nacional e popular", escreveu Suassuna, em 1999.
Antes mesmo do Movimento Armorial, o escritor criou roteiro para o espetáculo de dança "Os Medalhões", com coreografia de Ana Regina. Nos anos 70, colabora em "Iniciação Armorial aos Mistérios do Boi de Afogados", obra dirigida por Flávia Barros, que reuniu movimentos da técnica clássica com as danças populares. Desde então, o movimento influenciaria espetáculos de dança em todo o Brasil.


STAGIUM DANÇA O MOVIMENTO ARMORIAL. Onde: Teatro Municipal de São Paulo (praça Ramos de Azevedo, s/ nš, tel. 0/xx/11/222-8698). Quando: de hoje a 5/7, às 21h. Quanto: de R$ 5 a R$ 25.


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