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DANÇA
Companhia homenageia o escritor paraibano e mergulha na literatura de cordel e nas músicas do Quinteto Armorial
Stagium embarca no Nordeste de Ariano Suassuna
KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO
Soa a fanhosa rabeca. Cangaceiro, diabo e Nossa Senhora estão a
postos no centro do palco e encaram a platéia com olhos esbugalhados. É a primeira cena de "Stagium Dança o Movimento Armorial", coreografia que a dupla Décio Otero e Márika Gidali, fundadores do Ballet Stagium, dedicam
a Ariano Suassuna. O espetáculo
estréia hoje no Teatro Municipal.
Suassuna é o "pai" do Movimento Armorial, criado no meio
universitário em 1970, em Recife
(PE). Com a colaboração de outros artistas do Nordeste, o escritor pretendia valorizar criações populares, como a literatura de
cordel, a música de viola, xilogravuras, e influenciar a arte erudita
a partir dessas manifestações.
Armorialistas de carteirinha,
Otero e Gidali montaram a companhia apenas um ano após a
criação do movimento e, desde
então, trabalham com o mesmo
objetivo. "O repertório do Stagium é totalmente imbuído de
brasilidade", diz Gidali. Exemplos: "Kuarup ou a Questão do Índio" (1977), "Coisas do Brasil" (1979), "Uirapuru" (1983) e "Pantanal" (1986) são alguns clássicos do grupo.
Na nova coreografia, embalados pelo ritmo cadente das violas,
os bailarinos misturam o gestual
que advém de ritmos nordestinos, como o xaxado e o coco, com
as movimentações da técnica de
dança contemporânea. "Nossa
intenção não é mostrar um balé
folclorizado", ressalta Otero.
Tanto que o figurino básico do
espetáculo, desenhado por Márcio Tadeu, é composto por túnicas bem simples, para as mulheres, e calças soltas, para os homens, em tons que vão do amarelo ao roxo. Na segunda parte da obra, são utilizadas máscaras feitas à moda do artesão Mestre Vitalino (1909-63).
"Eu tinha o projeto de fazer uma coreografia como essa há muitos
anos, mas não poderia fazer isso sem antes pesquisar bastante",
diz Otero, que contou com a ajuda de Gidali para mergulhar no
universo das artes populares do Nordeste, principalmente na literatura de cordel e nas músicas do Quinteto Armorial, por cerca de
um ano.
"Nós somos amigos filosóficos de Suassuna", diz Gidali, que admira a determinação com que o artista paraibano defende a cultura popular brasileira.
Pesquisada por Otero, a trilha
do espetáculo compõe mixagens
de músicas de Antonio Nóbrega,
Luiz Gonzaga, Capiba, Antonio
José Madureira e Villa-Lobos -
vale destaque o solo de Roberta
Botta em versão de "Bachianas
Brasileiras nš 5".
"No que se refere à dança, sempre achei que o caso do Brasil é semelhante ao da Espanha, ou, talvez mais ainda, ao da Rússia, onde ao lado da tradição importada
do balé "erudito" existe a tradição
de uma dança nacional e popular", escreveu Suassuna, em 1999.
Antes mesmo do Movimento
Armorial, o escritor criou roteiro
para o espetáculo de dança "Os
Medalhões", com coreografia de
Ana Regina. Nos anos 70, colabora em "Iniciação Armorial aos
Mistérios do Boi de Afogados",
obra dirigida por Flávia Barros,
que reuniu movimentos da técnica clássica com as danças populares. Desde então, o movimento influenciaria espetáculos de dança em todo o Brasil.
STAGIUM DANÇA O MOVIMENTO
ARMORIAL. Onde: Teatro Municipal de
São Paulo (praça Ramos de Azevedo, s/
nš, tel. 0/xx/11/222-8698). Quando: de
hoje a 5/7, às 21h. Quanto: de R$ 5 a R$
25.
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