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GASTRONOMIA
LIVRO
Obra ilustrada por Jaguar relaciona 567 curiosidades sobre a bebida
"Papa" da cerveja tira as dúvidas dos apreciadores
XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA
A erudição sobre bebidas e
gastronomia -ah, os pernósticos entendidos em vinho!-
costuma ser algo medonho e exibicionista. Uma safra de gente incapaz de perder o bom-tom, bouquet de decantada hipocrisia, diz
o próprio Baco. No banquete de
"O Catecismo da Cerveja - O Papa
da Cerveja Responde a Todas as
Perguntas sobre a Loura Gelada",
a história é outra.
O papa em questão é Conrad
Seidl, 45, escritor de livros técnicos em Viena, que manja tudo no
ramo das espumas flutuantes.
"Beber cerveja prolonga a vida?"
Ele diz sim, sempre baseado em
pesquisas e autoridades científicas. Quem sabe apreciar cerveja, o
pão engarrafado, ele relata, tem
mais alegria de viver, sente-se melhor e é mais feliz do que os abstêmios. Recomenda-se, claro, no
império da correção, beber moderadamente.
No livro, Seidl responde a 567
perguntas, como a citada aí acima, sobre loiras, morenas, pretas,
ruivas, miscigenadas e todas as
possíveis apresentações da velha
cerva. Algumas indagações são
bem técnicas, coisa que não interessa a nenhum bom bebedor. Tipo: "E o que acontece com as cervejas Hefeweizen em barril?". Um
engradado para quem acertar.
Experimente ainda responder
essa outra, depois de pelo menos
duas latinhas: "Qual o papel da
Maibock (bock de maio) no contexto das cervejas Bock?". As ilustrações do cartunista Jaguar, seguramente com mais barris a favor do que o cervejeiro Seidl, amaciam os capítulos chocos dessa obra.
Mas, no geral, Seidl é divertido.
Seriedade com cerveja é coisa para gente da Baviera antiga. Como
o duque Guilherme 4º, por exemplo, responsável por baixar em
1516 a "Lei da Pureza", que praticamente congelava o preço das
canecas de um litro e tomava outras providências contra os fabricantes picaretas. Essas recomendações valem até hoje. Por lá.
Mesmo dona da terceira maior
cervejaria do mundo, a Ambev, o
Brasil só aparece no livro em uma
ou outra tabela burocrática. Aí é
que entra o prefácio de Josimar
Melo, crítico gastronômico, colunista da Folha e autor do livro
"Cerveja", para situar o país no
mundo da "breja".
Embora não cite diretamente o
Brasil, Seidl trata de um hábito
nacionalíssimo. A pedida da Caracu com ovo. Para a decepção
dos machos, o autor despreza a
tese do aumento da potência física e espiritual. Liga o costume a
uma crendice mais delicada: "Antigamente, dizia-se que as moças
que desejassem um busto grande
e firme deviam beber cerveja escura com gema de ovo". Ele não
avaliza cientificamente a prática.
Sacro, o catecismo lembra a
bênção que o precioso líquido
mereceu do papa Paulo 5º, incorporada em 1614 aos rituais romanos: "Senhor, abençoa essa cerveja, que por tua graça foi feita dos
grãos dos cereais, para que seja
uma fonte de saúde para os homens. Invocamos Teu Santíssimo
Nome para pedir que os que dela
bebam obtenham a saúde do corpo e a proteção da alma, por nosso Senhor Jesus Cristo".
O Catecismo da Cerveja
Autor: Conrad Seidl
Tradução: Ingo Lütge e Flávio
Quintiliano
Editora: Senac São Paulo
Quanto: R$ 45 (388 págs.)
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