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São Paulo, quinta-feira, 03 de julho de 2003

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GASTRONOMIA

LIVRO

Obra ilustrada por Jaguar relaciona 567 curiosidades sobre a bebida

"Papa" da cerveja tira as dúvidas dos apreciadores

XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA

A erudição sobre bebidas e gastronomia -ah, os pernósticos entendidos em vinho!- costuma ser algo medonho e exibicionista. Uma safra de gente incapaz de perder o bom-tom, bouquet de decantada hipocrisia, diz o próprio Baco. No banquete de "O Catecismo da Cerveja - O Papa da Cerveja Responde a Todas as Perguntas sobre a Loura Gelada", a história é outra.
O papa em questão é Conrad Seidl, 45, escritor de livros técnicos em Viena, que manja tudo no ramo das espumas flutuantes. "Beber cerveja prolonga a vida?" Ele diz sim, sempre baseado em pesquisas e autoridades científicas. Quem sabe apreciar cerveja, o pão engarrafado, ele relata, tem mais alegria de viver, sente-se melhor e é mais feliz do que os abstêmios. Recomenda-se, claro, no império da correção, beber moderadamente.
No livro, Seidl responde a 567 perguntas, como a citada aí acima, sobre loiras, morenas, pretas, ruivas, miscigenadas e todas as possíveis apresentações da velha cerva. Algumas indagações são bem técnicas, coisa que não interessa a nenhum bom bebedor. Tipo: "E o que acontece com as cervejas Hefeweizen em barril?". Um engradado para quem acertar.
Experimente ainda responder essa outra, depois de pelo menos duas latinhas: "Qual o papel da Maibock (bock de maio) no contexto das cervejas Bock?". As ilustrações do cartunista Jaguar, seguramente com mais barris a favor do que o cervejeiro Seidl, amaciam os capítulos chocos dessa obra.
Mas, no geral, Seidl é divertido. Seriedade com cerveja é coisa para gente da Baviera antiga. Como o duque Guilherme 4º, por exemplo, responsável por baixar em 1516 a "Lei da Pureza", que praticamente congelava o preço das canecas de um litro e tomava outras providências contra os fabricantes picaretas. Essas recomendações valem até hoje. Por lá.
Mesmo dona da terceira maior cervejaria do mundo, a Ambev, o Brasil só aparece no livro em uma ou outra tabela burocrática. Aí é que entra o prefácio de Josimar Melo, crítico gastronômico, colunista da Folha e autor do livro "Cerveja", para situar o país no mundo da "breja".
Embora não cite diretamente o Brasil, Seidl trata de um hábito nacionalíssimo. A pedida da Caracu com ovo. Para a decepção dos machos, o autor despreza a tese do aumento da potência física e espiritual. Liga o costume a uma crendice mais delicada: "Antigamente, dizia-se que as moças que desejassem um busto grande e firme deviam beber cerveja escura com gema de ovo". Ele não avaliza cientificamente a prática.
Sacro, o catecismo lembra a bênção que o precioso líquido mereceu do papa Paulo 5º, incorporada em 1614 aos rituais romanos: "Senhor, abençoa essa cerveja, que por tua graça foi feita dos grãos dos cereais, para que seja uma fonte de saúde para os homens. Invocamos Teu Santíssimo Nome para pedir que os que dela bebam obtenham a saúde do corpo e a proteção da alma, por nosso Senhor Jesus Cristo".


O Catecismo da Cerveja   
Autor: Conrad Seidl
Tradução: Ingo Lütge e Flávio Quintiliano
Editora: Senac São Paulo
Quanto: R$ 45 (388 págs.)



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