|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/tributo
Lendário Bola de Nieve recebe homenagem delicada
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Cada vez mais freqüentes no mercado musical, os tributos nem
sempre tratam com o devido
cuidado as obras dos supostos
homenageados. Esse não é o caso de "Con el Permiso de Bola",
álbum que o cantor Francisco
"Pancho" Céspedes e o pianista
Gonzalo Rubalcaba, ambos cubanos, dedicam a Ignacio Villa
(1911-1971), o lendário Bola de
Nieve.
Uma das figuras mais cultuadas na história da música popular de Cuba, esse cantor, pianista e compositor foi um dos precursores do "feeling" (sentimento, em inglês), movimento
que modernizou a canção cubana, a partir dos anos 40, sob influência direta da música norte-americana.
Homossexual, gorducho e
negro (vem daí seu apelido irônico), Bola de Nieve enfrentou
muitos preconceitos. Percorreu o mundo, cantando suas
tristezas e dores amorosas em
cassinos e cabarés, como se cada apresentação fosse a última.
Seu estilo dramático lembrava
o dos "chansoniers" franceses.
Por isso, é possível que alguns fãs mais ardorosos de Bola
estranhem o tom delicado das
releituras de Céspedes e Rubalcaba. A dupla pede licença (literalmente, no título do álbum)
para recriar com muita sensibilidade clássicos do repertório
do grande intérprete e compositor cubano, tomando um caminho musical bem diverso do
que ficou registrado nas gravações originais, sem jamais desvirtuá-las.
Truque
Na versão de Céspedes, o bolero "No Puedo Ser Feliz"
(Adolfo Guzmán), veículo para
algumas das performances
mais pungentes de Bola, soa
contido e suave, sem que o sentido melancólico dos versos se
perca. Acariciada pelo piano lírico de Rubalcaba, "La Flor de
la Canela" (Chabuca Grande)
se transforma em uma esvoaçante valsa-jazz. A releitura do
bolero "Vete de Mi" (Homero e
Virgilio Expósito) ganha peso
com um solo do saxofonista
Carlos Miyares.
Já a conhecida canção de ninar "Drume Negrita" (Ernesto
Grenet) surge em duas versões.
Na segunda, que encerra o álbum, a voz rouca do próprio
Bola de Nieve pode ser ouvida
entre os vocais de Céspedes,
graças aos recursos da tecnologia digital.
É um truque polêmico (será
que o homenageado aprovaria?), mas que não chega a comprometer essa bela homenagem musical.
(CC)
CON EL PERMISO DE BOLA
Artista: Francisco Céspedes & Gonzalo
Rubalcaba
Gravadora: Warner
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: ótimo
Texto Anterior: Marina de la Riva aproxima Cuba e MPB Próximo Texto: Record estréia reality que faz atrizes largarem luxo Índice
|