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ARTES VISUAIS
Fotos de Olivier Menanteau e trabalhos de Christine Meisner compõem "Fim de Romance'" na Pinacoteca
Mostra dupla retrata poder e escravidão
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Situações comuns, uma sala de
espera, um encontro de médicos
ou uma cena na entrada de um
hotel, são temas das fotografias do
francês Olivier Menanteau. Comuns, mas nem tanto, graças ao
olhar apurado do artista, que busca revelar situações de poder nesses momentos cotidianos.
"Apesar de invisível, o mais importante no trabalho de Menanteau é a negociação que ele precisa
fazer para poder entrar nos locais
e ter autorização para realizar as
fotos, pois assim, ao mesmo tempo que ele está "hors-champ" (fora
do campo) ele está dentro do
campo, graças ao diálogo preliminar para convencer as pessoas a
serem retratadas", afirma Lisette
Lagnado, curadora da mostra.
De fato, Menanteau consegue
revelar situações de hierarquia,
como se não estivesse presente
nas cenas. Um bom exemplo é a
imagem onde se vê uma reunião
de psiquiatras, pessoas encarregadas da ordem mental, num ambiente absolutamente caótico.
"Eu não busco realizar um julgamento moral sobre o que registro, a fotografia é para mim uma
maneira de investigar estruturas
sociais", conta Menanteau, durante a montagem da exposição,
na Pinacoteca. Para Lagnado, um
dado a ser observado é a grande
maioria de fotos com homens na
mostra: "Aí está uma questão de
poder a ser refletida".
Brasil-Nigéria
"Fim de Romance" é uma exposição dupla. Além de Menanteau,
participa também a alemã Christine Meisner. Ambos realizaram
longos períodos de residência no
país, o primeiro em São Paulo e a
segunda no Recife. A mostra foi
vista primeiro em Nantes, na
França, e depois da Pinacoteca,
segue para o Museu de Arte Moderna, em Recife.
Meisner comparece com uma
instalação composta por desenhos, vídeos e notas, que traçam o
percurso do escravo João Eran da
Rocha, que viveu na Bahia e depois retornou à sua terra natal,
Lagos, na Nigéria.
"Em uma pesquisa em Lagos,
descobri um bairro brasileiro,
fundado por ex-escravos que para
lá retornaram, em busca de suas
origens, mas viviam num ambiente onde só se falava português", conta Meisner.
Entretanto, o trabalho da artista
não deve ser visto como documental. "Acredito que a arte é
uma possibilidade de conhecimento próprio. Eu crio uma nova
história a partir de depoimentos
orais", diz Meisner.
A abertura na Pinacoteca terá
hoje, às 11h, uma mesa de debate
com os artistas, e ainda Lagnado,
Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca, e Corinne Diserens, diretora do Museu de Belas Artes de
Nantes, que prepara uma exposição sobre Lygia Clark.
Fim de Romance
Quando: abertura hoje, às 11h; de ter. a
dom., das 10h às 18h. Até 10/10
Onde: Pinacoteca do Estado (pça da Luz,
2, SP, tel. 0/xx/11/3229-9844)
Quanto: R$ 4
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