São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2005

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ARTES VISUAIS

Fotos de Olivier Menanteau e trabalhos de Christine Meisner compõem "Fim de Romance'" na Pinacoteca

Mostra dupla retrata poder e escravidão

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Situações comuns, uma sala de espera, um encontro de médicos ou uma cena na entrada de um hotel, são temas das fotografias do francês Olivier Menanteau. Comuns, mas nem tanto, graças ao olhar apurado do artista, que busca revelar situações de poder nesses momentos cotidianos.
"Apesar de invisível, o mais importante no trabalho de Menanteau é a negociação que ele precisa fazer para poder entrar nos locais e ter autorização para realizar as fotos, pois assim, ao mesmo tempo que ele está "hors-champ" (fora do campo) ele está dentro do campo, graças ao diálogo preliminar para convencer as pessoas a serem retratadas", afirma Lisette Lagnado, curadora da mostra.
De fato, Menanteau consegue revelar situações de hierarquia, como se não estivesse presente nas cenas. Um bom exemplo é a imagem onde se vê uma reunião de psiquiatras, pessoas encarregadas da ordem mental, num ambiente absolutamente caótico.
"Eu não busco realizar um julgamento moral sobre o que registro, a fotografia é para mim uma maneira de investigar estruturas sociais", conta Menanteau, durante a montagem da exposição, na Pinacoteca. Para Lagnado, um dado a ser observado é a grande maioria de fotos com homens na mostra: "Aí está uma questão de poder a ser refletida".

Brasil-Nigéria
"Fim de Romance" é uma exposição dupla. Além de Menanteau, participa também a alemã Christine Meisner. Ambos realizaram longos períodos de residência no país, o primeiro em São Paulo e a segunda no Recife. A mostra foi vista primeiro em Nantes, na França, e depois da Pinacoteca, segue para o Museu de Arte Moderna, em Recife.
Meisner comparece com uma instalação composta por desenhos, vídeos e notas, que traçam o percurso do escravo João Eran da Rocha, que viveu na Bahia e depois retornou à sua terra natal, Lagos, na Nigéria.
"Em uma pesquisa em Lagos, descobri um bairro brasileiro, fundado por ex-escravos que para lá retornaram, em busca de suas origens, mas viviam num ambiente onde só se falava português", conta Meisner.
Entretanto, o trabalho da artista não deve ser visto como documental. "Acredito que a arte é uma possibilidade de conhecimento próprio. Eu crio uma nova história a partir de depoimentos orais", diz Meisner.
A abertura na Pinacoteca terá hoje, às 11h, uma mesa de debate com os artistas, e ainda Lagnado, Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca, e Corinne Diserens, diretora do Museu de Belas Artes de Nantes, que prepara uma exposição sobre Lygia Clark.


Fim de Romance
Quando: abertura hoje, às 11h; de ter. a dom., das 10h às 18h. Até 10/10
Onde: Pinacoteca do Estado (pça da Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/3229-9844)
Quanto: R$ 4


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