DA REPORTAGEM LOCAL

Nas artes visuais, o cinema tem se caracterizado como uma das influências mais marcantes. A produção de imagens em movimento cada vez mais está presente em exposições, especialmente através da videoarte, mas a força cinética alcança até mesmo a fotografia, numa aparente contradição, já que esta se caracteriza pelo congelamento de um instante.
É dentro dessa situação paradoxal que se localiza "Episódio", instalação que a artista francesa Suzanne Lafont apresenta, a partir de hoje, no Octógono da Pinacoteca, com dois grupos de fotografias: um realista, de um local da cidade de São Paulo, e outro mais abstrato, composto por imagens de sombras. A obra foi criada especialmente para o espaço, dedicado à produção contemporânea.
"O que me interessa é o deslocamento do cinema na fotografia. Preciso do movimento do observador na obra, não quero um espectador passivo", conta Lafont, durante a montagem da mostra, que tem a curadoria de Ivo Mesquita.

Imaginação
Coladas em forma de lambe-lambe nas paredes do Octógono, assim como num muro construído no meio do espaço, que forja ali a necessidade de circulação, as fotografias retratam a passagem do tempo, no caso das imagens realistas -uma realizada pela manhã e outra, pela tarde, e criam, nas mais abstratas, sombras que se transformam em espectros dos próprios visitantes da exposição.
Em sistema modular, frases descritivas pontuam as imagens: "o que elas dizem não aparece" é uma delas, referência à imagem de duas garotas retratadas, que conversam sentadas. Aqui, Lafont torna claro seu sistema em deixar espaço ao observador para ir além de seu próprio trabalho. Cabe ao visitante imaginar sobre o que falam as meninas. Ou não, mas o desafio está lançado.