|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LIVROS
CIÊNCIA
"Colapso" lança ambiente ao centro do debate sobre o futuro da sociedade
Jared Diamond explica como se perdem as civilizações perdidas
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Alô, George W. Bush: se o estrago causado pelo furacão
Katrina nos EUA ainda não fez
você acordar para o aquecimento
global, está na hora de ler "Colapso". A nova obra do biogeógrafo e
best-seller americano Jared Diamond, que acaba de aportar nas
livrarias brasileiras, traz um recado urgente e fundamental para a
civilização humana do século 21:
se ela quiser chegar ao 22, precisa
mudar seu relacionamento com o
ambiente.
Quem duvida olhe para trás.
Diamond reconstrói a trilha dos
fracassos ambientais que acabaram fazendo civilizações outrora
grandiosas entrarem em colapso.
Os cadáveres contados pelo autor,
com a ajuda do estado da arte do
conhecimento arqueológico e paleoclimático, vão dos maias aos
escultores da ilha de Páscoa, dos
vikings da Groenlândia aos anasazi do sudoeste dos EUA.
Sociedades culturalmente, cronologicamente e geograficamente
diversas, mas com pelo menos
cinco fatores em comum em seu
declínio: danos ambientais, mudança climática, vizinhos hostis,
problemas com parceiros comerciais e, por último mas não menos
importante, respostas culturais
desastrosas aos itens anteriores.
Em "Colapso", Diamond retorna à tentativa ousada de fazer
uma "história natural" da história
humana, eliminando a fronteira
entre os estudos sociais e ciências
como a geologia, a arqueologia e a
evolução. Seu primeiro mergulho
nessa cientifização do passado foi
o estrondoso "Armas, Germes e
Aço", no qual o biólogo atribuiu o
triunfo da civilização européia a
fatores geográficos e ambientais.
Seu novo livro, lançado nos EUA
em 2004, faz o caminho inverso.
Claro, os colapsos históricos são
contrapostos a histórias de sucesso, antigas e modernas. Talvez o
contraste mais impressionante
seja entre a ilha de Páscoa e o Japão, ambas sociedades complexas que floresceram em ilhas do
Pacífico. Os habitantes de Páscoa
(Rapa Nui, na língua local) ficaram famosos pelas gigantescas estátuas de pedra que construíram,
os moai. Acontece que, no apogeu
do período de construção dos
moai -e talvez por causa dela-,
Páscoa foi completamente desmatada. A falta de árvores, até hoje característica da ilha, levou a fome e mortandade em massa.
O mesmo problema de desmatamento ameaçava o Japão da era
Tokugawa na mesma época, entre
os séculos 17 e 18. A resposta dos
shoguns foi diferente: o governo
iniciou um processo maciço de
reflorestamento que fez do Japão
um dos países mais verdes do
mundo -80% de seu território é
coberto por florestas hoje.
Qual é a mensagem para George
W. Bush e outros líderes mundiais? O planeta vive uma enorme
encruzilhada ambiental, agravada
pela globalização e pelo efeito estufa, pelo esgotamento dos solos
para a agricultura, pela perda acelerada de habitats e pela superpopulação. O mundo forçosamente
vai sair dessa encruzilhada nas
próximas décadas, aposta Diamond. Se como os japoneses ou
como os rapa nui, é uma questão
de escolha.
Colapso
Autor: Jared Diamond
Tradução: Alexandre Raposo
Editora: Record
Quanto: R$ 66,90 (710 págs.)
Texto Anterior: "Episódio" busca foto e deslocamento Próximo Texto: Romance/"Um Amor Anarquista": Drama anarquista começa em casa Índice
|