São Paulo, sábado, 03 de setembro de 2005

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LIVROS

CIÊNCIA


"Colapso" lança ambiente ao centro do debate sobre o futuro da sociedade

Jared Diamond explica como se perdem as civilizações perdidas

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

Alô, George W. Bush: se o estrago causado pelo furacão Katrina nos EUA ainda não fez você acordar para o aquecimento global, está na hora de ler "Colapso". A nova obra do biogeógrafo e best-seller americano Jared Diamond, que acaba de aportar nas livrarias brasileiras, traz um recado urgente e fundamental para a civilização humana do século 21: se ela quiser chegar ao 22, precisa mudar seu relacionamento com o ambiente.
Quem duvida olhe para trás. Diamond reconstrói a trilha dos fracassos ambientais que acabaram fazendo civilizações outrora grandiosas entrarem em colapso. Os cadáveres contados pelo autor, com a ajuda do estado da arte do conhecimento arqueológico e paleoclimático, vão dos maias aos escultores da ilha de Páscoa, dos vikings da Groenlândia aos anasazi do sudoeste dos EUA.
Sociedades culturalmente, cronologicamente e geograficamente diversas, mas com pelo menos cinco fatores em comum em seu declínio: danos ambientais, mudança climática, vizinhos hostis, problemas com parceiros comerciais e, por último mas não menos importante, respostas culturais desastrosas aos itens anteriores.
Em "Colapso", Diamond retorna à tentativa ousada de fazer uma "história natural" da história humana, eliminando a fronteira entre os estudos sociais e ciências como a geologia, a arqueologia e a evolução. Seu primeiro mergulho nessa cientifização do passado foi o estrondoso "Armas, Germes e Aço", no qual o biólogo atribuiu o triunfo da civilização européia a fatores geográficos e ambientais. Seu novo livro, lançado nos EUA em 2004, faz o caminho inverso.
Claro, os colapsos históricos são contrapostos a histórias de sucesso, antigas e modernas. Talvez o contraste mais impressionante seja entre a ilha de Páscoa e o Japão, ambas sociedades complexas que floresceram em ilhas do Pacífico. Os habitantes de Páscoa (Rapa Nui, na língua local) ficaram famosos pelas gigantescas estátuas de pedra que construíram, os moai. Acontece que, no apogeu do período de construção dos moai -e talvez por causa dela-, Páscoa foi completamente desmatada. A falta de árvores, até hoje característica da ilha, levou a fome e mortandade em massa.
O mesmo problema de desmatamento ameaçava o Japão da era Tokugawa na mesma época, entre os séculos 17 e 18. A resposta dos shoguns foi diferente: o governo iniciou um processo maciço de reflorestamento que fez do Japão um dos países mais verdes do mundo -80% de seu território é coberto por florestas hoje.
Qual é a mensagem para George W. Bush e outros líderes mundiais? O planeta vive uma enorme encruzilhada ambiental, agravada pela globalização e pelo efeito estufa, pelo esgotamento dos solos para a agricultura, pela perda acelerada de habitats e pela superpopulação. O mundo forçosamente vai sair dessa encruzilhada nas próximas décadas, aposta Diamond. Se como os japoneses ou como os rapa nui, é uma questão de escolha.


Colapso
   
Autor: Jared Diamond
Tradução: Alexandre Raposo
Editora: Record
Quanto: R$ 66,90 (710 págs.)


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