São Paulo, terça-feira, 03 de outubro de 2006

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Crítica/música

Drexler retorna sem grandes arroubos

DA REPORTAGEM LOCAL

Primeiro disco de Jorge Drexler depois do reconhecimento internacional impulsionado pelo Oscar, "12 Segundos de Oscuridad" é um trabalho menos pop do que seu antecessor ("Eco"), mas mais refinado em sua forma. São 13 canções que se fecham num conjunto homogêneo, sem grandes arroubos.
Drexler já não se apóia em jogos de palavras e refrões fáceis e se propõe a apresentar letras mais complexas e introspectivas. O recurso de abarrotar o disco com sonoridades latinas também é usado, mas com mais moderação. A bossa nova, o tango, ou gêneros menos conhecidos, como a folclórica baguala, comparecem, mas se integram de maneira mais orgânica às canções.
Numa participação especial, o barulhinho que anuncia a chegada de mensagens no MSN foi incorporado ao seu leque de citações, em "La Infidelidad en la Era Informática", uma infame tentativa de construir um hit cibernético sobre uma situação constrangedora.
Algumas canções se esforçam por se parecer com "Al Otro Lado del Rio", o maior sucesso de Drexler. É o caso de "La Vida Es Más Compleja de lo que Parece" e "Transoceanica".
Ambas têm sua graça, mas não se igualam à original. Dentre as que têm colaborações de brasileiros, a melhor é a faixa-título, cuja música é de Vítor Ramil, e a letra, de Drexler. Com trabalho timidamente conhecido no Brasil, o artista gaúcho exerce sua influência na região do Prata e promove um intercâmbio cultural quase inédito -e "12 Segundos" é um resultado feliz disso. Já a canção com Maria Rita, "Soledad", é fraca e careta; enquanto "Disneylandia", com Arnaldo Antunes, é uma divertida colagem de imagens sobre a miscelânea cultural latino-americana.
Drexler ganhou o Oscar no ano passado, na mesma semana em que o Uruguai empossava o esquerdista Tabaré Vázquez, depois de anos na oposição. O clima de euforia era tamanho, para um país em que poucas coisas internacionalmente relevantes acontecem, que Vázquez, ao comentar o tento de Drexler, disse que o Uruguai estava vivendo um "maracanazo cultural", referindo-se à alegria coletiva do país quando a seleção nacional venceu a brasileira, no Maracanã, pela final da Copa de 1950.
Curiosamente, por meio de sua música, Drexler lembra, mas ao mesmo tempo faz as pazes com essa memória. (SYLVIA COLOMBO)


12 SEGUNDOS DE OSCURIDAD
   
Artista: Jorge Drexler Lançamento: Warner Quanto: R$ 32, em média



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