São Paulo, sábado, 03 de outubro de 2009

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Oficina reencontra gênio de Cacilda Becker

Crônica dos anos em que a atriz viveu no Rio, "Cacilda!!" chega hoje a São Paulo

Primeira parte de tetralogia sobre Cacilda estreou há 11 anos; Zé Celso descreve nova peça como "iniciação ao espírito libertário"


LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Onze anos depois da marcante "Cacilda!", José Celso Martinez volta a matricular o jovem elenco do teatro Oficina na escola de artes cênicas. Livre arranjo da biografia e da carreira da atriz Cacilda Becker (1921-1949), "Cacilda!!" (assim mesmo, com duas exclamações), que estreia em São Paulo hoje, é, nas palavras do diretor, "uma aula de teatro brasileiro e de história do país".
Segunda parte da prometida tetralogia sobre a intérprete, o espetáculo se concentra na temporada carioca dela, na primeira metade dos anos 40. Ali, realiza sua estreia profissional, no Teatro do Estudante, antes de passar pelas companhias de Dulcina de Morais e de Raul Roulien, celebrizado por uma breve carreira hollywoodiana como "latin lover". Também bate ponto no rádio (em plena era de "guerra" das cantoras), num escritório de contabilidade e no set do filme "Luz dos Meus Olhos" (1947).
O pano de fundo é a agitação política do Estado Novo getulista e a invasão das praias e salões cariocas pelo "american way of life", representado em cena pelos crooners engomados e por personagens como Pato Donald e Zé Carioca. A estreia nacional de "Cacilda!!" aconteceu no mês passado, no Rio, e foi marcada por uma sucessão de problemas técnicos, "brancos" dos atores e várias entradas em cena de José Celso para instruir ou corrigir sua trupe. A peça durou 7h30. Para a temporada paulistana, o diretor promete cinco.

Sem rebolado
José Celso, que escreveu a tetralogia durante uma internação hospitalar, no começo dos anos 90, descreve o espetáculo como "iniciação ao espírito libertário de Cacilda": "O Teatro Brasileiro de Comédia [companhia paulistana fundada em 48 que se tornou um modelo para o moderno teatro nacional] apagou o teatro anterior, de rebolado. Tinha embalagem, mas anulava o carisma do ator", avalia o diretor. Cacilda Becker, é bom lembrar, fez alguns de seus trabalhos mais notáveis no TBC, como "Pega Fogo" (1950).
Para o diretor, a companhia fundada pelo italiano Franco Zampari legou "um teatro sério que é uma porcaria". "Falta improviso, charme e sensualidade ao teatro de hoje. Com a exceção das peças do Teatro da Vertigem, da [diretora] Cibele Forjaz e dos Satyros, não há performance. Nos grupos, sobrou um teatro cuecão de esquerda."
Nem Fernanda Montenegro e Antunes Filho passam incólumes. "Ela fica numa área de teatro de costumes. Você presta atenção, mas não há mágica, transcendência. Não é estrela, diva. E o Antunes proíbe o carisma, impede a vida em cena." O diretor do Oficina, ao que parece, esqueceu-se da visão plural de Cacilda: "Todos os teatros são o meu teatro".


ESTRELA BRAZYLEIRA A VAGAR - CACILDA!!

Quando: estreia hoje; sáb. e dom., às 18h; até 22/11
Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, Bela Vista, tel. 0/xx/11/3104-0678)
Quanto: R$ 40
Classificação: 16 anos




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