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Oficina reencontra gênio de Cacilda Becker
Crônica dos anos em que a atriz viveu no Rio, "Cacilda!!" chega hoje a São Paulo
Primeira parte de tetralogia sobre Cacilda estreou há 11 anos; Zé Celso descreve nova peça como "iniciação ao espírito libertário"
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Onze anos depois da marcante "Cacilda!", José Celso Martinez volta a matricular o jovem
elenco do teatro Oficina na escola de artes cênicas. Livre arranjo da biografia e da carreira
da atriz Cacilda Becker (1921-1949), "Cacilda!!" (assim mesmo, com duas exclamações),
que estreia em São Paulo hoje,
é, nas palavras do diretor, "uma
aula de teatro brasileiro e de
história do país".
Segunda parte da prometida
tetralogia sobre a intérprete, o
espetáculo se concentra na
temporada carioca dela, na primeira metade dos anos 40.
Ali, realiza sua estreia profissional, no Teatro do Estudante,
antes de passar pelas companhias de Dulcina de Morais e de
Raul Roulien, celebrizado por
uma breve carreira hollywoodiana como "latin lover". Também bate ponto no rádio (em
plena era de "guerra" das cantoras), num escritório de contabilidade e no set do filme
"Luz dos Meus Olhos" (1947).
O pano de fundo é a agitação
política do Estado Novo getulista e a invasão das praias e salões cariocas pelo "american
way of life", representado em
cena pelos crooners engomados e por personagens como
Pato Donald e Zé Carioca.
A estreia nacional de "Cacilda!!" aconteceu no mês passado, no Rio, e foi marcada por
uma sucessão de problemas
técnicos, "brancos" dos atores e
várias entradas em cena de José Celso para instruir ou corrigir sua trupe. A peça durou
7h30. Para a temporada paulistana, o diretor promete cinco.
Sem rebolado
José Celso, que escreveu a tetralogia durante uma internação hospitalar, no começo dos
anos 90, descreve o espetáculo
como "iniciação ao espírito libertário de Cacilda":
"O Teatro Brasileiro de Comédia [companhia paulistana
fundada em 48 que se tornou
um modelo para o moderno
teatro nacional] apagou o teatro anterior, de rebolado. Tinha
embalagem, mas anulava o carisma do ator", avalia o diretor.
Cacilda Becker, é bom lembrar, fez alguns de seus trabalhos mais notáveis no TBC, como "Pega Fogo" (1950).
Para o diretor, a companhia
fundada pelo italiano Franco
Zampari legou "um teatro sério
que é uma porcaria". "Falta improviso, charme e sensualidade
ao teatro de hoje. Com a exceção das peças do Teatro da Vertigem, da [diretora] Cibele Forjaz e dos Satyros, não há performance. Nos grupos, sobrou um
teatro cuecão de esquerda."
Nem Fernanda Montenegro
e Antunes Filho passam incólumes. "Ela fica numa área de teatro de costumes. Você presta
atenção, mas não há mágica,
transcendência. Não é estrela,
diva. E o Antunes proíbe o carisma, impede a vida em cena."
O diretor do Oficina, ao que
parece, esqueceu-se da visão
plural de Cacilda: "Todos os
teatros são o meu teatro".
ESTRELA BRAZYLEIRA A VAGAR - CACILDA!!
Quando: estreia hoje; sáb. e dom., às
18h; até 22/11
Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520,
Bela Vista, tel. 0/xx/11/3104-0678)
Quanto: R$ 40
Classificação: 16 anos
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